Orientações sobre o manejo da constipação intestinal em crianças
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou, em abril de 2024, o Guia Prático de Orientação sobre o manejo da constipação intestinal (CI) em crianças. Pontos relevantes da publicação estão sintetizados a seguir. Observe que dividimos a produção da revisão em dois textos (parte 1 e parte 2) para melhor compreensão e didática.
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Constipação intestinal
O hábito intestinal infantil é notavelmente variável, diminuindo a frequência de evacuações com a idade:
- Lactentes evacuam, em média, quatro vezes ao dia;
- Crianças até dois anos, evacuam, em média, duas vezes;
- Após os quatro anos de idade, geralmente, as crianças começam a evacuar uma vez ao dia.
Distúrbios evacuatórios, incluindo CI, que podem ocorrer com ou sem incontinência fecal, são motivo de grande desconforto e preocupação tanto para os pequenos pacientes quanto para seus familiares, representando cerca de 3% das visitas pediátricas de rotina e até 25% em gastroenterologia pediátrica.
A CI funcional (CIF) é o diagnóstico mais comum, correspondendo a 95% dos casos em crianças, com uma prevalência global estimada em 9,5%, iniciando-se no primeiro ano de vida em 17% a 40% dos casos. Além disso, é crucial considerar a CI como um sintoma, que pode indicar diversas condições médicas, e não um diagnóstico por si só.
Classificação da CI
- Aguda: Pode ser desencadeada por condições clínicas como doenças infecciosas, resultante da reduzida ingestão de alimentos e líquidos que leva ao ressecamento e diminuição do volume fecal. Geralmente, a função intestinal se normaliza com a melhora da condição clínica subjacente, porém, em alguns casos, pode evoluir para uma CIF;
- Orgânica: O problema geralmente se manifesta na primeira infância e é identificado durante a avaliação clínica. Em crianças mais velhas, embora possível, é raro que a CI esteja associada a uma doença orgânica, sendo mais comum que se trate de CIF.
Sinais de alerta para constipação intestinal orgânica
- Atraso na eliminação de mecônio (>48 horas após o nascimento);
- Início no primeiro mês de vida;
- Presença de outros sintomas extra intestinais (vômitos biliosos, febre, queda do estado geral);
- Baixo ganho de peso e estatura;
- Alterações ao exame neurológico ou ao exame da coluna lombar;
- Presença de sangue nas fezes;
- Presença de tufo de pelos na região sacral;
- Presença de fístulas perineais.
Critérios de Roma IV (2016) para o diagnóstico de CIF em pediatria
Para crianças de menores de quatro anos (dois ou mais dos critérios seguintes presentes por pelo menos um mês):
- Duas ou menos evacuações por semana;
- Retenção excessiva de fezes;
- História de dor ou dificuldade nas evacuações;
- Fezes com grande calibre;
- Massa fecal no reto.
Crianças com controle esfincteriano – critério adicional:
- Pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana;
- Fezes volumosas que podem obstruir o vaso sanitário.
Para crianças de quatro anos à adolescência (dois ou mais dos critérios seguintes presentes ao menos uma vez por semana por pelo menos um mês):
- Duas ou menos evacuações no banheiro por semana;
- Pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana;
- História de comportamento de retenção ou retenção voluntária excessiva de fezes;
- História de dor ou dificuldade para evacuar;
- História de fezes de grande diâmetro que podem obstruir o vaso sanitário;
- Grande massa fecal no reto.
Em todas as faixas etárias:
- Deve haver critérios insuficientes para o diagnóstico de síndrome do intestino irritável nos pacientes com idade superior a quatro anos;
- Os sintomas não devem ser plenamente explicados por outra condição médica.
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Diagnósticos diferenciais que devem ser considerados em criança com constipação intestinal
- Pseudoconstipação intestinal na vigência de aleitamento natural (5,1% no primeiro semestre de vida);
- Disquesia do lactente (3,9% dos lactentes);
- CIF (90%-95%);
- CI por alergia à proteína de leite de vaca (APLV);
- Doença celíaca;
- CI secundária a lesões anais:
- Fissuras anais, ânus ectópico anterior, estenose e atresia anal;
- CI induzida por drogas:
- Uso de medicamentos (fenitoína, imipramina, fenotiazina, codeína, sais de ferro);
- CI secundária a doenças endócrinas e metabólicas:
- Hipotireoidismo, acidose tubular renal;
- CI neurogênica:
- Doenças da medula espinhal (mielomeningocele)
- Paralisia cerebral;
- Doença de Hirschsprung (Canal anal e reto estreitos e quase vazios. Raramente, há esforço intenso para evacuar e incontinência fecal, pois as fezes são retidas acima do reto);
- Pseudo-obstrução intestinal crônica.
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