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Pediatria7 março 2025

AHA e AAP atualizam diretrizes para o manejo de PCR em vítimas de afogamento 

A Organização Mundial da Saúde estima que haja aproximadamente 236.000 mortes por afogamento no mundo todo a cada ano.

Em todo o mundo, o afogamento é a terceira principal causa de óbito por lesão não intencional, simbolizando 7% de todas as mortes relacionadas a lesões. Em geral, o processo de afogamento passa de uma parada respiratória inicial, provocada pela hipóxia associada à submersão, para uma parada cardíaca. Dessa forma, é um grande desafio distinguir ambos os tipos de parada. Isso ocorre porque a palpação do pulso dentro da janela recomendada de dez segundos pode não ter precisão.  

Em dezembro de 2024, a American Heart Association (AHA) e a American Academy of Pediatrics (AAP) atualizaram as diretrizes da AHA para ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência, com foco no afogamento. As principais recomendações encontram-se resumidas abaixo.   

A) A Cadeia de Sobrevivência ao Afogamento concentra-se na sua prevenção primária, no reconhecimento precoce e em considerações para resgate e ressuscitação seguros.

Cadeia de Sobrevivência ao Afogamento 

Prevenção primária 

  • Forma mais eficaz de reduzir o número de óbitos por afogamento.  
  • Estima-se que mais de 90% dos casos de afogamento sejam evitáveis. 
  • Cinco intervenções baseadas em evidências podem prevenir o afogamento infantil: 
  1. Garantir supervisão ativa e próxima de crianças pequenas e indivíduos que não sabem nadar quando estiverem dentro ou próximas da água; 
  2. Instalar cercas de isolamento nos quatro lados ao redor de piscinas; 
  3. Nadar em locais supervisionados por salva-vidas; 
  4. Oferecer aulas de natação, especialmente para crianças e pessoas que não sabem nadar. 
  5. Uso apropriado de coletes salva-vidas aprovados. 

Reconheça a angústia e peça para alguém ligar para ajudar 

Identificar um afogamento pode ser muito difícil, pois a vítima frequentemente não consegue verbalizar o perigo ou acenar por ajuda (o corpo prioriza os esforços para respirar, dificultando qualquer outro movimento ou sinalização, por uma resposta instintiva ao afogamento. 

Fornecer flutuação à vítima de afogamento para evitar submersão 

Os socorristas devem tomar precauções para não se tornarem uma segunda vítima, evitando tentativas de resgate inadequadas ou perigosas. A forma mais segura de iniciar o socorro engloba: 

  1. Sempre que possível, permanecer fora da água; 
  2. Chamar os serviços de resgate (salva-vidas ou emergência); 
  3. Jogar um material de flutuação para a vítima; 
  4. Aguardar a chegada de um profissional. 

Remover a vítima da água, somente se houver segurança 

Considerar a experiência do socorrista e as condições do ambiente ao escolher a técnica e o momento da retirada. 

  • A extração deve ser feita preferencialmente na posição quase horizontal, com a cabeça acima do nível do corpo e a via aérea aberta, quando a vítima estiver em choque ou em possível parada cardíaca; 
  • Uma posição mais vertical pode ser preferível se a vítima estiver consciente para evitar vômito e facilitar a respiração espontânea; 
  • Como pode ser difícil determinar se a vítima está em choque, recomenda-se a retirada na posição mais viável, evitando atrasos na iniciação da ressuscitação. 

Prestar assistência conforme necessário  

  • Iniciar precocemente do Suporte Básico de Vida em Pediatria (basic life support – BLS); 
  • Iniciar o Suporte Avançado de Vida em Pediatria (pediatric advanced life support – PALS) se a vítima estiver em parada cardíaca assim que os serviços médicos de emergência (EMS) chegarem; 
  • Todas as vítimas que necessitarem de qualquer nível de ressuscitação após um afogamento (incluindo apenas ventilação de resgate) devem ser transportadas para um pronto-socorro. 

B) O Suporte Básico de Vida em Pediatria (basic life support – BLS) e o Suporte Avançado de Vida em Pediatria (pediatric advanced life support – PALS) continuam sendo a base da ressuscitação no afogamento. 

C) O manejo das vias aéreas e a ventilação são extremamente relevantes, pois a evolução da parada respiratória para cardíaca ocorre de forma contínua.

D) Socorristas treinados devem iniciar imediatamente a ventilação de resgate com o primeiro método disponível (boca a boca, máscara de bolso ou ventilação com bolsa-válvula-máscara).

E) O fornecimento de oxigênio é recomendado sempre que disponível, pois a parada cardíaca ocorre, em geral, por hipóxia grave.

F) Ventilações de resgate devem ser realizadas por socorristas treinados como parte da ressuscitação cardiopulmonar (RCP). O suporte pode ser iniciado com ventilação (vias aéreas, respiração e compressões torácicas) ou com compressões (compressões torácicas, vias aéreas e respiração).

G) Quando realizada por um socorrista treinado e com segurança, a ventilação de resgate dentro da água pode prevenir a progressão para a parada cardíaca.

H) Apesar de raro em crianças, uma vítima de afogamento que tenha um ritmo chocável pode se beneficiar do uso de um desfibrilador externo automático (DEA) após o início de uma RCP de alta qualidade.

I) Ambientes aquáticos e grandes áreas públicas onde uma parada cardíaca pode ocorrer (mesmo se não estiver relacionada a um afogamento) podem se beneficiar de programas de desfibrilação de acesso público. 

J) Ainda há lacunas no conhecimento sobre a prevenção e ressuscitação em afogamentos. Portanto, mais pesquisas ainda são necessárias, especialmente em locais com limitação de recursos.

Comentário 

No Brasil, o afogamento consiste na primeira causa de óbito na faixa de 1 a 4 anos, a segunda em crianças de 5 a 9 anos e a terceira em adolescentes entre 10 e 14 anos. Outra faixa etária de relevância é a de 15 a 19 anos. Infelizmente, muitas crianças sobrevivem, mas com sequelas neurológicas de diferentes níveis de gravidade.  

A melhor abordagem, de fato, é a prevenção do afogamento. Abaixo, seguem recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para a prevenção do afogamento em crianças e adolescentes: 

  • NÃO deixe a criança sozinha em banheira, piscina ou qualquer reservatório de água em momento algum (o bebê ou a criança devem estar, no máximo, a um braço de distância); 
  • NÃO deixe bacias, baldes ou outros recipientes com água ao alcance de crianças com menos de 5 anos. Piscinas portáteis devem ser sempre esvaziadas e desmontadas após sua utilização. Mantenha a segurança do ambiente, deixando baldes, bacias e tanques fora do alcance de crianças com idade inferior a 5 anos. Mantenha também as tampas de vasos sanitários sempre abaixadas, de preferência com travas específicas; 
  • NÃO deixe nenhum objeto que possa atrair a criança (como brinquedos), próximo ou em reservatórios ou recipientes de água; 
  • NÃO coloque boias ou outros dispositivos de flutuação na criança que não sejam coletes salva-vidas, pois os coletes os colocam em uma posição onde a cabeça e o rosto ficam fora da água; 
  • Nunca deixe a criança sozinha na água, mesmo que ela esteja usando colete salva-vidas; 
  • NÃO permita que a criança use objetos de modismo, sem que haja a certificação e confirmação de segurança, como as “caudas de sereias”; 
  • NÃO deixe que a criança nade em piscinas onde não haja proteção nos ralos quanto à sucção de cabelos, correntes, partes do corpo, como tampas abauladas específicas, sistemas de desarme de motobomba etc.    
  • Ensine à criança a não fazer brincadeiras perigosas na água como “dar caldo”, não nadar sozinha e não fingir que está se afogando; 
  • Coloque barreiras de proteção para controlar o acesso a reservatórios. Por exemplo: cercas ao redor dos 4 lados da piscina (com 1,5 m de altura e até 12 cm de distância entre as grades e que não possa ser escalada) e com portão com tranca para impedir o acesso não autorizado; 
  • Dê preferência a creches e escolas sem piscinas ou lagos para crianças menores de 6 anos; 
  • Ensine crianças de 4 anos ou mais a nadar e a tomar condutas seguras na água. Opte por escolas de natação com instrutores qualificados; 
  • Capacite e instrua as pessoas responsáveis por cuidar da criança para saberem nadar, efetuar um resgate de forma segura em caso de afogamento e, em caso de necessidade, a realizar manobras de reanimação; 
  • Oriente as crianças e adolescentes sobre a importância de se respeitar placas de proibição de piscinas e praias, além de sempre seguir as recomendações do salva-vidas; 
  • No mar, evite áreas com correntes. Aprenda a reconhecer as correntes de retorno: água marrom (movimentação de areia); água mais escura (local mais fundo); trechos onde as ondas são menos frequentes, onde duas ondas se encontram, onde as ondas quebram com menos frequência e onde há menor quantidade de espuma. Caso seja arrastado por uma corrente, deve-se manter a calma. Levante as mãos para chamar a atenção do salva-vidas. Tente nadar paralelamente à praia ou flutue e deixe a corrente te conduzir enquanto sinaliza para obter ajuda.

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Referências bibliográficas

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