Avaliação do risco de câncer de cabeça e pescoço após cessação do tabagismo
O câncer de cabeça e pescoço é, nos Estado Unidos, o segundo mais relacionado ao tabagismo, atrás apenas do câncer de pulmão.
À luz dos conhecimentos atuais, sabe-se que o acréscimo de risco gerado pelo hábito de fumar está diretamente relacionado à carga tabágica e é inversamente proporcional ao tempo de cessação de tabagismo2.
Nesse contexto, um estudo publicado na BMJ (British Medical Journal) buscou avaliar através de revisão sistemática da literatura o efeito da cessação do tabagismo no risco de desenvolvimento de câncer, com ênfase no tempo de abandono.
Saiba mais: Tabagismo é responsável por mais de 80% das mortes por câncer de pulmão
Métodos
Publicado em agosto de 2024, esse trabalho utilizou plataformas como Medline, PubMed e Embase e seus critérios de inclusão compreenderam estudos de coorte e caso controle que relacionavam o risco de câncer de cabeça e pescoço à cessação do tabagismo em adultos maiores de 18 anos.
Os pesquisadores utilizaram como referência pacientes tabagistas atuais e avaliaram o risco relativo para desenvolvimento de câncer dividindo os dados em categorias de tempo de interrupção, incluindo menos de cinco anos; de cinco a nove anos; de dez a 20 anos; ou mais de 20 anos.
Foram incluídos 65 estudos e uma das conclusões iniciais da metanálise foi que o risco relativo de desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço em ex-tabagistas manteve-se semelhante em trabalhos publicados em 1999, entre 2000 e 2009 e após 2010.
Quanto à relação entre tempo de cessação e risco, 37 estudos foram analisados mostrando um risco relativo de 0,47 após 10 anos de interrupção em comparação com tabagistas atuais em homens e 0,70 em mulheres.
Foi evidenciada também redução do risco de 0,67 em pacientes que pararam de fumar há menos de 5 anos para 0,20 naqueles que cessaram há mais de 20 anos.
Leia também: Estudo avalia testes para ajudar pacientes com câncer na cessação do tabagismo
Resultados
O estudo mostra que a interrupção do tabagismo reduz o risco de desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço quando comparado àqueles pacientes que mantém esse hábito e traz como conclusão alguns pontos importantes:
– O risco de câncer de cabeça e pescoço parece reduzir em 50% a cada 10 anos de cessação de tabagismo;
– Há benefício já nos primeiros 5 anos de interrupção, sugerindo um efeito tardio do tabagismo na carcinogênese;
– Pessoas que pararam de fumar há mais de 20 anos apresentam risco semelhante à população que nunca fumou, sugerindo um efeito também precoce do tabagismo na carcinogênese, uma vez que o risco se mantém por muitos anos.
Conclusão e mensagem prática
Embora haja certa heterogeneidade entre os trabalhos avaliados, essa metanálise foi capaz de estimar com precisão o efeito da duração da cessação do tabagismo tendo em vista o poder estatístico proporcionado pelo grande número de estudos e pacientes envolvidos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.