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Oftalmologia9 janeiro 2025

Uma revisão prática sobre a Doença de Benson

A prevalência de hialose asteroide aumenta com a idade e afeta 3% das pessoas com idade entre 75 e 86 anos. É mais comum em homens do que em mulheres.
Por Alléxya Affonso

Em 1984, Benson descreveu uma patologia conhecida como “hialite asteroide”, porém devido à ausência de inflamação o termo mais tarde foi substituído por hialose asteroide.  

Hialose asteroide é uma condição idiopática, na qual ocorre um processo degenerativo que leva ao acúmulo de partículas de pirofosfato de cálcio, chamados de corpos asteroides, dentro do gel vítreo. É clinicamente vista como numerosas opacidades amarelas e brancas redondas de tamanho e densidade variados (figura 1 e 2) – classicamente é descrito como: partículas brilhantes amarelo-esbranquiçadas refletoras cercadas por fibrilas firmemente aderentes dentro da cavidade vítrea.  

 

Imagem 1: Hialose asteroide

 

Imagem 2: Hialose asteroide severa

 

Epidemiologia 

A prevalência de hialose asteroide aumenta com a idade e afeta 3% das pessoas com idade entre 75 e 86 anos. É mais comum em homens do que em mulheres. Apenas um olho é afetado em 75 a 90% dos pacientes. É uma opacificação vítrea benigna que geralmente não precisa de tratamento.  

A associação entre hialose asteroide e doenças sistêmicas como diabetes mellitus, hipertensão sistêmica e hiperlipidemia não foi comprovada e não foi reproduzível em grandes estudos populacionais, além disso, a ocorrência unilateral de hialose asteroide no contexto de doença sistêmica, como diabetes mellitus, gera dúvidas sobre sua associação.  

 

Apresentação Clínica / Avaliação Oftalmológica  

A hialose asteroide tipicamente tem início gradual em idosos assintomáticos. Na anamnese, não há evidência de trauma ou cirurgia recente. Ao exame oftalmológico, não há evidências de inflamação do segmento anterior, ausência de dilatação dos vasos da retina, nenhum exsudato vascular e ausência de edema ou palidez do nervo óptico. 

Geralmente a hialose asteroide é um achado de exame, observado durante a realização da fundoscopia de rotina. Os corpos asteroides movem-se com o vítreo durante o movimento ocular, mas não se depositam inferiormente em repouso. 

Os corpos asteroides podem ser sintomáticos quando estão mais próximos da mácula ou quando um descolamento vítreo posterior completo faz com que as partículas sejam concentradas atrás do cristalino. Esses casos incomuns podem precisar de vitrectomia. 

Veja mais: Esclera azul: quais doenças clínicas podemos pensar diante dessa alteração? – Portal Afya

 

Classificação  

Existe apenas uma classificação, realizada por Rani e Prajapati, que caracteriza a hialose asteroide com base na visibilidade das características do fundo. Na prática clínica, não há um sistema de classificação amplamente utilizado para a gravidade da hialose asteroide, e a essa é tipicamente descrita apenas com base na densidade dos corpos asteroides (leve à grave).  

 

Classificação de Rani e Prajapati 

  • Grau 1: o disco óptico e os vasos de segunda ordem são visíveis; 
  • Grau 2: o disco óptico e os vasos de primeira ordem são visíveis: 
  • Grau 3: o disco óptico é turvo; 
  • Grau 4: fundo de olho não visível.  

 

Diagnóstico diferencial 

A hialose asteroide precisa ser diferenciada de patologias de fundo de olho de aparência semelhante, por exemplo, sinquise cintilante, amiloidose, vitreíte, hemorragia vítrea antiga e malignidade, particularmente linfoma e síndromes de mascarada.  

 

Diagnóstico Depósitos vítreos Apresentação típica Resultados comuns de exames Exames de imagem Associações e História Relevante 
Hialose asteroide Cálcio e fosfolipídios (hidroxiapatita) Início lento, assintomático Múltiplos corpos vítreos esféricos amarelo-brancos bem demarcados. Sem inflamação ocular ou achados retinianos Depósitos vítreos amarelo-brancos na fundoscopia ou retinografia colorida. Múltiplos focos hiperreflexivos na OCT. Ultrassom no modo B com múltiplos focos hiperecoicos Idade avançada e possivelmente sexo masculino.  
Sinquise cintilante Depósitos de colesterol Início lento, assintomático Opacidades vítreas de cor dourada que se depositam inferiormente em repouso Semelhante à hialose asteroide com focos hiperreflexivos em OCT e corpos hiperecoicos em ultrassom no modo B. Imagens em modo A exibem picos de cintilação característicos dos reflexos desses cristais. Idade de início mais jovem do que hialose asteroide (tipicamente 3ª década) 

hemorragia vítrea crônica, retinopatia diabética, uveíte crônica, descolamento 

Predominância bilateral 

Descolamento do Vítreo Posterior Membrana hialoide posterior Início agudo de moscas volantes, luzes piscantes Opacidades vítreas únicas ou em pequenos grupos ou anel de Weiss com ou sem hemorragia pré-retiniana OCT e ultrassom no modo B mostrando separação do hialoide posterior com retina normal Idade avançada, trauma 
Hemorragia vítrea crônica Hemácias desemoglobinizadas Início gradual e agudo de visão turva Sangue intravítreo branco ou branco-amarelado obscurecendo a visão do fundo Ultrassom no modo B mostrando ecos semelhantes a pontos formando uma membrana altamente reflexiva ao longo do tempo, mais densa na parte inferior. Diabetes, trauma, cirurgia prévia 
Uveíte (intermediária/ 

posterior) 

Células inflamatórias Dor aguda, visão turva, fotofobia Célula vítrea/Flare, Haze ou Snowballs. 

Bordas menos distintas de detritos vítreos. 

Possíveis alterações na câmara anterior e na retina. 

Variado, mas pode ver patologia retiniana subjacente e OCT, na retinografia, incluindo snowbanking, retinosquise, membrana epirretiniana, edema macular cistóide, retinite, coroidite Idade mais jovem.  

Pode estar associado a condições sistêmicas, como erupção cutânea, infecção ou esclerose múltipla 

Siderose Deposito de ferro metálico de corpo estranho intraocular  Midríase aguda precoce e heterocromia da íris seguidas de perda progressiva da visão Variável, mas é possível observar deposição de ferro na córnea, íris, cristalino ou retina. Variável, mas a tomografia computadorizada pode localizar depósitos de ferre metálico de corpo estranho intraocular. Possível edema macular cistoide, e evidência de necrose retiniana na OCT.  Masculino, idade mais jovem, histórico de atividades que podem predispor à lesão / trauma como corpo estranho 
Amiloidose Fibrilas hialinas Visão turva de início gradual, fotofobia, diplopia Opacidades vítreas granulares que coalescem em uma aparência de lã de vidro.  Achados variados, mas pode-se observar extensão para a retina na OCT ou envolvimento anexial na TC de crânio.  Predominância bilateral. 

Opacidades vítreas são comuns na amiloidose familiar e podem se depositar ao longo dos vasos sanguíneos 

Pode ter histórico de arritmia, disfunção cardíaca, doença pulmonar ou neuropatia periférica 

Endoftalmite indolente Células inflamatórias e bacterianas ou fúngicas Declínio progressivo da atividade visual. 

Dor atípica em casos indolentes 

Reação do segmento anterior, possível hipópio pequeno (menos comum em casos indolentes). 

Névoa vítrea. 

Possíveis depósitos inflamatórios retinianos ou subretinianos 

Meios turvos na retinografia e OCT. 

Ultrassom modo B com opacidades vítreas dispersas, vitreíte, espessamento coriorretiniano 

Névoa vítrea difusa, bordas menos distintas do depósito vítreo 

Trauma ou cirurgia recente; 

Uso de drogas intravenosas ou cateteres permanentes; 

Bacteremia, fungemia ou outra infecção sistêmica; 

Espécie P. Acnes 

Malignidade e Linfoma Células linfoides malignas Moscas volantes de início gradual, visão turva Células vítreas brancas anteriores, geralmente com uma membrana vítrea posterior densa Achados variados, mas pode-se ver envolvimento coriorretiniano na OCT com infiltrados subretinianos. 

Edema macular cistóide é menos comum do que com uveíte posterior 

Predominância feminina 4ª a 6ª década de vida 

Obs.: Tabela traduzida do artigo: Duong R, Abou-Samra A, Bogaard JD, Shildkrot Y. Asteroid Hyalosis: An Update on Prevalence, Risk Factors, Emerging Clinical Impact and Management Strategies. Clin Ophthalmol. 2023 Jun 20; 17:1739-1754.  

 

Tratamento 

Como a hialose asteroide é geralmente assintomática, ela precisa apenas de observação.  

Existem certos cenários em que a vitrectomia é necessária: 

  • Visualização deficiente do fundo e falha de modalidades de imagem como angiografia fluoresceínica, OCT e ultrassom modo B para detectar a causa dos sintomas visuais;  
  • Incapacidade de realizar fotocoagulação a laser, especialmente em um caso de retinopatia diabética;  
  • Incapacidade de encontrar rupturas retinianas na presença de um descolamento retiniano regmatogênico;  
  • Moscas volantes extensas, ofuscamento e obscurecimentos visuais.  

 

Hialose asteroide e Cirurgia de Catarata 

Cuidados especiais durante a biometria para evitar cálculos errados da lente intraocular são fundamentais, pois não está claro até que ponto os corpos asteroides afetam as técnicas modernas de biometria, portanto uma abordagem multimodal, utilizando várias metodologias e medições, é recomendada para o cálculo e seleção de lente intraocular (LIO) nesses pacientes. Lentes monofocais são normalmente preferidas em pacientes com hialose asteroide, dadas as preocupações potenciais de piora do brilho ou disfotopsia com LIO multifocal.   

Pacientes com hialose asteroide nos quais são implantadas LIO de silicone, pode ocorrer a calcificação distrófica da LIO e, tradicionalmente, o tratamento é a troca da LIO por uma lente acrílica hidrofóbica.  

A presença de hialose asteroide na face vítrea anterior pode causar reflexões intraoperatórias durante a cirurgia de catarata e, portanto, a conscientização sobre esse efeito ajudará o cirurgião a evitar complicações intraoperatórias. 

 

Prognóstico 

A hialose asteroide é mais frequentemente assintomática e, portanto, o prognóstico é bom.  

 

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Referências bibliográficas

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