Metanálise sobre associação entre glaucoma e risco de doença de Alzheimer

O glaucoma, neuropatia óptica em que ocorre degeneração progressiva das células ganglionares da retina, é uma das principais causas de cegueira em países com economia avançada. Na fase inicial é assintomático, ocorrendo perda visual progressiva, geralmente, com padrão de diminuição de campo visual da periferia para o centro. A detecção e o tratamento precoce do glaucoma aliviam significativamente o estado da doença e os encargos financeiros. 

A doença de Alzheimer, dentre as causas de demência, é a de maior prevalência. Os pacientes afetados podem manter-se assintomáticos por um longo tempo, portanto, muitas vezes ao diagnóstico, já apresentam um comprometimento extenso ou irreversível.  

O glaucoma e a demência compartilham como fisiopatologia, perda neuronal resultando em disfunção visual e cognitiva, respectivamente. Ambas as condições são mais frequentes com o avançar da idade, e devido às semelhanças patogênicas específicas e prevalência de idade, alguns estudos epidemiológicos exibiram o risco subjacente de desenvolver demência em indivíduos que sofrem de glaucoma. A relação entre glaucoma e risco prospectivo de doença de Alzheimer é controversa. Portanto, este estudo se concentrou na avaliação do risco de doença de Alzheimer em pacientes com glaucoma.

Métodos  

Realizado metanálise com os artigos selecionados, com o idioma restrito ao inglês. O risco de eventos de doença de Alzheimer em pacientes com glaucoma foi analisado usando as taxas de risco combinadas. 

Resultados

O estudo incluiu oito artigos publicados entre 2012 e 2023, totalizando 131.987 indivíduos avaliados. O glaucoma foi identificado como fator de risco para a sobrevida livre de doença (razão de risco = 1,29; intervalo de confiança de 95% = 1,05–1,59; P = 0,000; I2 = 95,1%) em pacientes com doença de Alzheimer. De acordo com as análises de subgrupos, o grupo de glaucoma de pressão normal foi o principal fator de risco para a sobrevida livre de doença de pacientes com doença de Alzheimer.  

O período de acompanhamento nesses artigos foi de 4,2 a 13 anos. Os estudos analisaram diferentes eventos de demência. Três estudos exploraram qualquer glaucoma com demência, três estudos investigaram glaucoma de ângulo aberto, um estudo analisou glaucoma de pressão normal e um estudo analisou glaucoma de ângulo aberto com glaucoma de ângulo fechado.

Discussão

A associação epidemiológica do glaucoma com distúrbios neurodegenerativos é amplamente investigada. Além de compartilhar mecanismos fisiopatológicos semelhantes, também há alterações estruturais em comum, incluindo, alterações degenerativas nas células ganglionares.  

Embora, o desenvolvimento de doença de Alzheimer em pacientes com glaucoma, possa ser influenciado por diversas variáveis, a razão de risco foi significativamente aumentada (RR = 1,29; IC de 95% = 1,051,59; P = 0,000; I2 = 95,1%). A heterogeneidade no glaucoma para a predição de doença de Alzheimer foi significativa (P = 0,000; I2 = 95,1%), independentemente da alta heterogeneidade entre estudos. Com base na análise de subgrupo estratificada por evento, apenas o grupo glaucoma de pressão normal mostrou significância estatística (I2 = 43,2%, P = 0,185), com ausência de heterogeneidade.

Impactos na prática clínica 

O glaucoma deve ser considerado como fator de risco para desenvolvimento de doença de Alzheimer e, essa metanálise beneficia pacientes com glaucoma para previsão do risco dela.

Limitações

Há vários fatores de confusão que atrapalham a interpretação da relação entre glaucoma e doença de Alzheimer. Portanto, diferentes eventos são considerados fontes de heterogeneidade na sobrevida livre de doença. 

Alguns dos artigos incluídos na metanálise tinham informações insuficientes sobre os pacientes. Apenas um artigo avaliado era prospectivo.

Conclusão 

O estudo sugere que pacientes com glaucoma tem maior risco de desenvolver doença de Alzheimer. 

Notas

1. A sobrevida livre de doença descreve o período em que um paciente permanece sem a reincidência ou progressão de uma doença, após o tratamento inicial. Fatores de risco para a sobrevida livre de doença refere-se a qualquer característica, condição ou variável que aumente a probabilidade de um paciente não permanecer livre de doença após o tratamento, ou seja, que influencie negativamente o tempo durante o qual o paciente permanece sem sinais da doença. 
2. A razão de risco (ou hazard ratio, em inglês) é uma medida estatística utilizada principalmente em estudos clínicos e epidemiológicos para comparar o risco de um evento ocorrer em dois grupos diferentes ao longo do tempo (leva em consideração a frequência e o momento em que os eventos ocorrem ao longo de um período). Razão de risco > 1: Significa que o risco do evento é maior no grupo de interesse em comparação com o grupo de controle.