A infecção corneana por fungo é mais frequente em países tropicais e é ocasionada por dois tipos principais de fungo: leveduras (por exemplo, Candida sp.) e fungos filamentosos (por exemplo, Fusarium sp. e Aspergillus sp.). A infecção por fungos filamentosos é mais comum.
Fatores de risco incluem: traumatismo com vegetais, uso de corticoide tópico, uso de lente de contato, imunossuprimidos, diabéticos e doenças crônicas da superfície ocular.
Apresentação clínica e avaliação oftalmológica
Inicialmente, é difícil realizar a distinção entre a infecção bacteriana e fúngica da córnea. Inclusive, pode ocorrer coinfecção. O diagnóstico é frequentemente atrasado, a menos que haja um alto índice de suspeita.
O paciente apresenta-se com dor ocular, vermelhidão, lacrimejamento, irritação com sensação de corpo estranho, fotofobia e turvação visual.
- Ceratite por Candida: infiltrado amarelo-branco densamente supurativo.
- Ceratite filamentosa: infiltrado estromal cinza ou amarelo-branco com margens indistintas. Infiltração progressiva, muitas vezes com lesões satélites ou um infiltrado em forma de anel. Pode ocorrer progressão rápida com necrose e afinamento. Pode ocorrer penetração de uma membrana de Descemet intacta e levar à endoftalmite sem perfuração evidente.
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Diagnóstico
A coloração de Gram, Giemsa ou exame de hidróxido de potássio no esfregaço de material colhido da córnea podem evidenciar hifas (filamentoso) ou pseudo-hifas (leveduriforme).
A cultura do material colhido da córnea pode ser realizada nos meios ágar-sabouraud e ágar-sangue. Se aplicável, lentes de contato e estojos devem ser enviados para cultura. Em casos com forte suspeita clínica para infecção fúngica no qual os exames laboratoriais não detectaram presença de fungo, deve-se realizar uma biópsia da córnea (recomenda-se coletar fragmentos das áreas sadias e comprometidas).
A microscopia confocal pode auxiliar no diagnostico, pois detecta os organismos in vivo, porém é uma tecnologia que não está amplamente disponível.
Tratamento
Fungo Filamentoso: colírio de Natamicina 5% por um mês, nas primeiras 48h recomenda-se o uso de 1/1h e posteriormente reduzir para 2/2h ou 3/3h de acordo com a evolução clínica.
Fungo Leveduriforme: colírio de Anfotericina B 0,15% por um mês, nas primeiras 48h recomenda-se o uso de 1/1h e posteriormente reduzir para 2/2h ou 3/3h de acordo com a evolução clínica.
- O desbridamento da córnea a cada 48h pode facilitar a permeabilidade dos fármacos.
- Um antibiótico de amplo espectro também pode ser considerado para tratar ou prevenir coinfecção bacteriana.
- Fluconazol subconjuntival pode ser usado em casos graves.
- Antifúngicos sistêmicos podem ser administrados em casos graves, quando as lesões estão perto do limbo e para suspeita de endoftalmite.
- As opções incluem:
- Voriconazol 400 mg 2 vezes ao dia por um dia, depois 200 mg, 2 vezes ao dia;
- Itraconazol 200 mg 1 vez ao dia, reduzido para 100 mg 1 vez ao dia;
- Fluconazol 200 mg duas vezes ao dia.
- Tetraciclina (por exemplo, doxiciclina 100 mg 2 vezes ao dia) pode ser administrada por seu efeito anticolagenase quando há afinamento significativo.
- A lavagem da câmara anterior com injeção antifúngica pode ser considerada para casos não responsivos nos quais há um infiltrado corneano estável, mas exsudação endotelial crescente.
- O transplante de córnea deve ser considerado quando o tratamento medicamentoso é ineficaz ou após perfuração.
Prognóstico
Embora muitas vezes evolua insidiosamente, a ceratite fúngica pode provocar uma resposta inflamatória grave, a perfuração da córnea é comum e o prognostico visual é ruim.


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