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Oftalmologia16 dezembro 2024

Revisão de tema: Conjuntivite Química

Uma lesão química ocular deve ser considerada uma emergência que requer tratamento urgente para reduzir o risco de perda visual permanente.

Substâncias químicas, presentes em produtos comumente usados no nosso dia a dia, como por exemplo, cimento, produtos de limpeza, fertilizantes, vinagre e acetona, são altamente lesivas aos olhos e uma lesão química ocular deve ser considerada uma emergência que requer tratamento urgente para reduzir o risco de perda visual permanente. O tratamento precoce e apropriado é fundamental para um tratamento bem-sucedido. 

A conjuntivite ou queimadura química pode ser ocasionada por ácidos ou álcalis. A fisiopatologia da lesão envolve a desnaturação e coagulação das paredes celulares associado destruição da vascularização do limbo com consequente isquemia da córnea.  

As substâncias alcalinas, como por exemplo: amônia, hidróxido de sódio (soda cáustica), cal e hidróxido de magnésio, têm alta penetração ocular devido ao fenômeno de saponificação que tornam essas substâncias mais perigosas quando comparadas às lesões ocasionadas por ácidos.  

A gravidade de uma lesão química está relacionada às propriedades do produto químico, à área da superfície ocular afetada, à duração da exposição e aos efeitos relacionados, como danos térmicos. 

 

Epidemiologia 

As lesões por substâncias alcalinas são duas vezes mais frequentes que queimaduras ácidas, já que os álcalis são mais amplamente usados ​​tanto em casa quanto na indústria. Cerca de 2/3 das queimaduras acontecem no trabalho e um 1/3 no ambiente doméstico. A conjuntivite química é a segunda causa mais comum de acidente de trabalho, relacionado a causas oftalmológicas, com incidência aproximada de 12%.   

 

Apresentação clínica e avaliação oftalmológica  

O paciente se queixa de dor ocular, vermelhidão, lacrimejamento, irritabilidade com sensação de corpo estranho e turvação visual, associado à história de acidente com produto químico.  

O quadro clínico é bastante variado, geralmente o paciente apresenta-se com hiperemia conjuntival, defeito do epitélio corneano, podendo, em casos mais graves, apresentar melting corneano.  

 

Classificação  

Há duas classificações usadas para classificar lesões químicas: a classificação de Roper-Hall e a classificação Dua. Na classificação de Roper-Hall, a classificação é realizada com base na transparência da córnea e na gravidade da isquemia limbar. Esta última é avaliada pela observação da permeabilidade dos vasos profundos e superficiais no limbo.   

A classificação Dua é mais detalhada e é baseada no número de horas do relógio do limbo afetado e na porcentagem de envolvimento conjuntival. Isso fornece um melhor preditor prognóstico do que a classificação de Roper-Hall. 

 

Classificação de Roper-Hall 

Grau Apresentação Clínica  Prognóstico  
I Córnea transparente com dano epitelial, sem isquemia limbar.  Excelente 
II Edema de córnea que permite a visualização de detalhes da íris, menos de 1/3 do limbo isquêmico.  Bom 
III Perda total do epitélio da córnea, névoa estromal obscurecendo detalhes da íris e entre 1/3 e metade do limbo isquêmico.  Reservado 
IV Córnea opaca e mais da metade do limbo mostrando isquemia.  Ruim  

 

Classificação Dua 

Grau Apresentação Clínica Prognóstico 
Envolvimento do Limbo Envolvimento da conjuntiva 
I 0 horas do relógio 0% Excelente 
II ≤ 3 horas do relógio ≤ 30% Bom 
III 3-6 horas do relógio 30-50% Bom 
IV 6 -9 horas do relógio 50-75% Bom/Reservado 
V 9 – < 12 horas do relógio 75 – < 100% Reservado/Ruim 
VI Total (12 horas do relógio) 100% Muito Ruim 

 

Tratamento 

Conduta imediata:  

  • Irrigação abundante é crucial para minimizar a duração do contato do olho com o produto químico e para normalizar o pH no saco conjuntival.  
  • Se disponível anestésico tópico deve ser instilado antes da irrigação, para melhorar o conforto e facilitar a cooperação.  
  • Água da torneira deve ser usada, se necessário, para evitar qualquer atraso, mas deve-se preferencialmente usar soro fisiológico ou ringer lactato para irrigar o olho por 15–30 minutos ou até que o pH medido seja neutro.  
  • A eversão da pálpebra deve ser realizada para que qualquer produto químico retido nos fórnices seja identificado e removido.  
  • O desbridamento de áreas necróticas do epitélio da córnea deve ser realizado na lâmpada de fenda para promover a reepitelização e remover resíduos químicos associados.  

 

 Veja mais: Como diferenciar conjuntivite, uveíte e glaucoma agudo na emergência? – Portal Afya

 

Tratamento farmacológico: 

A maioria dos ferimentos leves (grau 1 e 2) são tratados com pomada antibiótica tópica por cerca de uma semana, com esteroides tópicos e cicloplégicos, se necessário.  

Os principais objetivos do tratamento de queimaduras mais graves são reduzir a inflamação, promover a regeneração epitelial e prevenir a ulceração da córnea.  

O ácido ascórbico melhora a cicatrização de feridas promovendo a síntese de colágeno maduro pelos fibroblastos da córnea, por isso uma dose sistêmica de 1–2 g de vitamina C (ácido L-ascórbico) quatro vezes ao dia é recomendada.  

Tetraciclinas são inibidores eficazes da colagenase e inibem a atividade dos neutrófilos e reduzem a ulceração. Elas devem ser consideradas se houver melting da córnea e podem ser administradas tanto topicamente (pomada de tetraciclina quatro vezes ao dia) quanto sistemicamente (doxiciclina 100 mg duas vezes ao dia diminuindo para uma vez ao dia).  

A PIO deve ser monitorada, com tratamento se necessário.  

 

Prognóstico 

O prognóstico ruim está associado a mais de 50% de envolvimento conjuntival ou > 6 horas de relógio de envolvimento limbar.  

 

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Referências bibliográficas

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