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Oftalmologia12 dezembro 2024

Associação entre deficiência visual e declínio da função cognitiva

O objetivo desse estudo foi determinar a associação longitudinal entre deficiência visual e declínio cognitivo ao longo do tempo em uma população idosa.  

A deficiência visual é mais frequente em pacientes com 50 anos ou mais e atualmente acomete cerca de 441,1 milhões de indivíduos. A baixa visão ou cegueira leva a severos impactos na qualidade de vida e esses são considerados semelhantes ao ocasionados por doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, pois geram dificuldades na execução de atividades diárias.   

O impacto negativo em atividades diárias cognitivamente estimulantes, como ler ou ver rostos, pode levar a déficits de reserva cerebral, resultando em declínio na função cognitiva. Na literatura médica, há diversas evidências entre a associação de deficiência visual e declínio na função cognitiva. O objetivo desse estudo foi determinar a associação longitudinal entre deficiência visual e declínio cognitivo ao longo do tempo em uma população asiática idosa multiétnica.  

 

Métodos 

Estudo de coorte prospectivo e populacional usando indivíduos recrutados do estudo Singapore Epidemiology of Eye Diseases, que foi composto por três grandes grupos étnicos asiáticos em Cingapura. Uma amostragem aleatória estratificada por idade foi usada para selecionar adultos malaios, indianos e chineses com idades entre 40 e 80 anos. Um total de 10.033 indivíduos (3.280 malaios, 3.400 indianos e 3.353 chineses) participaram do estudo.  

Para todos os participantes na visita de base, foram aferidas informações sobre características demográficas, fatores de risco de estilo de vida (ou seja, status atual de tabagismo e ingestão de álcool) e histórico médico. O nível educacional foi categorizado como nenhuma educação formal; educação primária; equivalente de escola técnica; ou educação universitária.  

Os dados de acuidade visual (AV) de distância foram coletados para ambos os olhos. A AV foi medida a 4m usando o gráfico de números logMAR. A classificação de deficiência visual usada foi: qualquer deficiência visual (AV pior que 20/40), baixa visão (AV pior que 20/40 e melhor que 20/200) e cegueira (AV pior ou equivalente a 20/200).    

O desempenho cognitivo foi testado usando o Teste Mental Abreviado (TMA), no idioma de preferência do participante do estudo. Todas as perguntas tinham o mesmo peso (1 ponto cada), culminando em uma pontuação total possível de 10. A mudança na pontuação TMA ao longo do tempo foi calculada como a pontuação TMA na visita de acompanhamento de seis anos menos a pontuação TMA na visita inicial. Uma diferença negativa denota uma diminuição na pontuação TMA.  

Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o software estatístico Stata, versão 13 (StataCorp LLC). A significância estatística foi determinada como P < 0,05 com base em uma avaliação bilateral.  

 

Resultado   

Um total de 2.478 indivíduos (1.073 chineses, 768 indianos e 637 malaios), com média de idade 67,6 (DP ± 5,6) foram incluídos na análise final e tiveram um período médio de acompanhamento de 6,2 anos (DP ± 0,9). Dos indivíduos incluídos, 726 tinham deficiência visual no início do estudo (com base no melhor olho).   

Comparados com indivíduos sem deficiência visual no início do estudo, aqueles com deficiência visual no início do estudo eram mais propensos a serem mais velhos, mulheres, malaios, a ter pontuações TMA mais baixas, nenhuma educação formal, doença renal crônica; e menos propensos a ter ingestão de álcool na visita inicial. Com base no olho com melhor AV, as principais causas de deficiência visual foram erro refrativo subcorrigido (14 [45,2%]) e catarata (11 [35,5%]).   

Dos 2.478 indivíduos incluídos, 489 (19,7%) tiveram reduções nas pontuações TMA ao longo de seis anos. Comparados com aqueles sem reduções nas pontuações TMA ao longo de seis anos, os indivíduos com reduções nas pontuações TMA eram mais propensos a ter deficiência visual na visita inicial (184 [37,6%] com base no olho melhor; P < 0,001).  

Além da deficiência visual, entre as covariáveis ​​ajustadas, idade (por ano; β = −0,04; IC de 95%, −0,04 a −0,03); sexo feminino (β = −0,18; IC de 95%, −0,29 a −0,08); etnia chinesa (β = 0,39; IC de 95%, 0,26-0,51); educação primária (β = 0,29; IC de 95%, 0,17-0,41); equivalente à escola técnica (β = 0,27; IC de 95%, 0,06-0,47); educação universitária (β = 0,30; IC de 95%, 0,07-0,52); IMC (β = −0,01; IC de 95% −0,02 a 0,00); e pontuação TMA basal (β = −0,48; IC de 95%, −0,51 a −0,45) foram associados à mudança na pontuação TMA.  

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Discussão  

Há comprovação da associação entre deficiência visual ou piora da AV ao longo do tempo com o declínio na função cognitiva. Essa associação foi particularmente forte para indivíduos cegos em comparação com indivíduos com baixa visão (com base no melhor olho; β = −1,07 vs −0,25). Além disso, indivíduos que permaneceram ou se tornaram deficientes visuais ao longo de seis anos também experimentaram uma magnitude maior de declínio na função cognitiva, destacando ainda mais a importância de preservar a boa visão entre idosos.   

A associação entre deficiência visual e declínio na função cognitiva pode ser explicada por diferentes mecanismos: primeiro, esses dois fatores estão fortemente associados ao envelhecimento; segundo, a deficiência visual pode estar associada à redução de atividades diárias e à capacidade de realizar atividades estimulantes, como ler e ver rostos, ​​reduzindo assim a capacidade cognitiva devido à falta de estímulo sensorial.  

As principais causas de deficiência visual identificadas foram o erro refrativo subcorrigido e catarata, que são preveníveis e tratáveis.   

Os indivíduos com deficiência visual na visita inicial que melhoraram para visão normal e aqueles cuja visão permaneceu normal ao longo de seis anos tiveram magnitudes significativamente menores de declínio na função cognitiva. A esse respeito, estudos anteriores também relataram que a cirurgia de catarata com melhora da acuidade foi associada a desempenho cognitivo melhor e aumento do volume de substância cinzenta no córtex. Da mesma forma, o Beijing Eye Study observou que indivíduos com correção refrativa apropriada tiveram pontuações cognitivas mais altas do que aqueles sem correção.  

 

Impactos na prática clínica  

Com o rápido envelhecimento da população, a prevalência de deficiência visual deve aumentar três vezes até 2050. As descobertas desse estudo auxiliam os médicos a identificar os idosos que podem estar em maior risco de declínio cognitivo e reenfatizar a importância da detecção e tratamento precoces de deficiência visual. 

 

Limitações  

  • Embora as associações observadas tenham sido estatisticamente significativas, as estimativas de efeito foram geralmente de pequena magnitude.  
  • O TMA é clinicamente classificado como um teste de triagem e seus resultados servem principalmente como um indicador indireto para declínio cognitivo clinicamente diagnosticado.  
  • Os indivíduos excluídos em geral tinham perfis diferentes em comparação com os indivíduos incluídos, portanto o potencial viés de acompanhamento não pode ser totalmente descartado na amostra. 
  • Apesar de ter sido realizado ajuste para uma série de potenciais fatores de confusão, ainda pode haver um efeito de confusão residual, particularmente devido à idade e outros fatores associados ao envelhecimento. 

 

Conclusão  

Esse estudo de coorte prospectivo e baseado na população demonstrou que a deficiência visual foi associada ao declínio da função cognitiva. A maioria desses casos de deficiência visual foi atribuída a causas preveníveis ou tratáveis, enfatizando a importância de identificação da população de risco e intervenções rápidas com acompanhamento oftalmológico adequado.   

 

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Referências bibliográficas

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