A paralisia cerebral (PC) é a causa mais comum de anormalidades motoras vistos em bebês e em crianças, com uma prevalência estimada em torno de 1,5 a 3% a cada 1.000 nascimentos — podendo variar conforme desenvolvimento do país e sua região geográfica. Os fatores de risco mais descritos de paralisia cerebral são prematuridade e baixo peso ao nascer, embora metade das crianças que desenvolvem PC podem não apresentar fatores de rico identificáveis.
É um grupo heterogêneo de condições que envolve disfunção motora permanente que afeta o tônus muscular, a postura e movimento. A lesão neuropatológica inicial de paralisia cerebral é não progressiva, apesar de algumas condições secundárias poderem ocorrer ao longo do tempo e afetar habilidades funcionais.
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Em geral, a paralisia cerebral é uma condição não progressiva. Vale destacar nesse dia, principalmente para a classe médica, sobre sinais na história e no exame clínico que podem indicar outras doenças que têm potencial tratável e se assemelham clinicamente a essa condição.
Quando pensar em paralisia cerebral?
O diagnóstico de paralisia cerebral é realizado de forma clínica a partir da história em período pré/peri/pós-natal, exame físico e exames complementares. Não há exame específico para confirmar ou excluir PC. Como alguns sinais e sintomas clínicos de PC podem ser apenas uma variação normal do desenvolvimento psicomotor, o diagnóstico é mais confiável ao ser realizado após 2 anos.
São algumas características-chave no diagnóstico de paralisia cerebral:
- Desenvolvimento anormal motor e postural;
- Injúria cerebral permanente e não progressiva;
- Comprometimento motor atribuído como insulto que ocorreu durante desenvolvimento cerebral pré/peri/pós-natal;
- Comprometimento motor resulta em limitação de atividade funcional;
- Comprometimento motor é acompanhado por outras condições: problemas musculoesqueléticos secundários, epilepsia, distúrbio em sensibilidade/percepção/cognição/comportamento/comunicação.
Há subtipos motores específicos em paralisia cerebral que são melhor reconhecidos após os 5 anos de idade:
- Subtipo espástico: diplegia espástica, hemiplegia espástica, quadriplegia espástica.
- Subtipo discinético: coreoatetótico ou distônico.
- Subtipo atáxico.
Neuroimagem, priorizando sempre que possível ressonância de crânio em comparação à tomografia de crânio, é exame complementar importante para corroborar ou refutar esse diagnóstico. Exames de RM crânio podem ser anormais em 85-90% dos casos de paralisia cerebral, denotando alterações como evidências de isquemia hipóxica (ex: leucomalácia periventricular), malformações corticais e lesões em núcleos de base.
A realização desses exames complementares vai depender de circunstâncias clínicas. Em casos clínicos graves ou com achados clínicos preocupantes, neuroimagem precoce é necessário. Por outro lado, em casos com achados clínicos mais sutis, é interessante — sempre que possível — realizar esse exame de imagem após os 2 anos de idade, visto que alguns achados podem não surgir precocemente por não ter sido completado o processo de mielinização.
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Quando não pensar?
Algumas características podem aumentar a possibilidade de um outro diagnóstico sem ser paralisia cerebral, como uma doença neurodegenerativa ou erro inato do metabolismo. São elas:
- Ausência de fatores de risco para paralisia cerebral;
- História familiar de condição neurológica similar;
- Perda de marcos do desenvolvimento previamente adquiridos;
- Sintomas extrapiramidais como ataxia, coreatetose, distonia (apesar de poderem também ser presentes no subtipo de PC discinético);
- Atrofia muscular ou perda sensitiva;
- Deterioração rápida de sinais neurológicas;
- Pioras marcadas em contexto catabólico.
Em revisão sistemática provida em 2014 publicada na Orphanet Journal of Rare Diseases foram coletados 54 erros inatos do metabolismo cuja manifestação clínica era similar à paralisia cerebral. Destaca-se os seguintes erros inatos do metabolismo descritos de acordo com categoria bioquímica:
Aminoácidos | Doença de Hartnup, fenilcetonúria, deficiência de PHGDH, etc |
Transporte cerebral de glicose | Deficiência de GLUT1 |
Creatina | Deficiência de GAMT |
Oxidação de ácidos graxos | Deficiência de MCAD, deficiência de SCAD, deficiência de VLCAD |
Hiperhomocisteinemia | Deficiência de MTHFR |
Lipídeos | Abetalipoproteinemia |
Lisossoma | Doença de Krabbe, leucodistrofia metacromática, doença de Niemann Pick tipo C |
Metais | Doença de Wilson, doença de Menkes |
Mitocôndria | Deficiência de coenzimaQ10, MELAS, deficiência de piruvato-desidrogenase |
Neurotransmissão | Deficiência de DHPR, deficiência do transportador de dopamina |
Ácidos orgânicos | Síndrome de Lesh-Nyhan |
Ciclo de ureia | Citrolinemia tipo III, arginemia, acidúria arigininosuccinase |
Cofatores | Deficiência de biotinidase, síndrome de deficiência cerebral do folato |
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