Uma descoberta recente apontou que o azul de metileno, uma substância utilizada há décadas na medicina, pode impulsionar a atividade cerebral em regiões ligadas à memória de curto prazo e à atenção, de acordo com resultados demonstrados em um estudo placebo-controlado.
Por meio de ressonância magnética funcional, pesquisadores observaram que uma dose oral da medicação aumenta a atividade no córtex insular bilateral, além do córtex pré-frontal, parietal e lobos occipitais, quando comparado ao placebo. O azul de metileno é considerado seguro e não tóxico, o que representa uma vantagem adicional. Usado há mais de um século, principalmente no tratamento de metemoglobinemia, e em situações de emergência, em casos de envenenamento por monóxido de carbono e cianeto.
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Histórico do azul de metileno e aplicações médicas
Os estudos sobre a droga começaram na década de 1970 em roedores, demonstrando efeitos positivos no desempenho da memória. No entanto, o impacto do azul de metileno em memória de curto prazo e atenção sustentada ainda não havia sido explorado de forma sistemática em seres humanos.
Estudo clínico: azul de metileno e a atividade cerebral
Um estudo clínico randomizado, duplo-cego e placebo-controlado foi conduzido com 26 indivíduos saudáveis, com idades entre 22 e 62 anos. Os participantes receberam uma dose de 280 mg de azul de metileno ou corante azul alimentar como placebo.
Metodologia da avaliação cognitiva
Os participantes completaram:
- Tarefa de vigilância psicomotora: para testar a atenção sustentada
- Tarefa de matching-to-sample: para avaliar a memória a curto prazo
As tarefas foram realizadas durante a ressonância magnética funcional (RM)l, antes e uma hora após a administração do azul de metileno ou placebo. O impacto na reatividade vascular cerebral foi medido por meio do fluxo sanguíneo cerebral durante um challenge com dióxido de carbono.
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Resultados sobre memória de curto prazo e atenção e perspectivas futuras
Os resultados mostraram que, durante a tarefa de vigilância psicomotora, o azul de metileno foi associado aumento significativo da atividade nos córtices insulares bilateral anterior e posterior, durante a fase de atenção (P = .01-.008).
Na tarefa de memória a curto prazo, o fármaco foi associado ao aumento significativo da atividade em diferentes áreas: lobos occipitais bilaterais, gânglios basais, tálamos, lóbulos parietais, giro cingulado anterior e cerebelo (P = .03-.0003).
Além disso, após a administração do azul de metileno, houve aumento de 7% no número de respostas corretas (P < .01). Nenhuma mudança foi observada nos participantes que receberam placebo. O fluxo sanguíneo também não apresentou alterações relevantes.
Esses resultados apoiam a hipótese de que o azul de metileno pode contribuir para a memória e de outras funções relacionadas à cognição.
Para aprofundar o potencial da substância, pesquisadores norte-americanos estão conduzindo um novo estudo clínico, desta vez em pacientes com comprometimento cognitivo leve e Doença de Alzheimer. Os resultados definitivos estão previstos para o início do próximo ano e podem revolucionar o tratamento da doença.
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*Este conteúdo foi atualizado em: 26/09/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
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