Um estudo realizado na Noruega e publicado no jornal Pediatrics mostrou que diversas condições crônicas maternas aumentam o risco de paralisia cerebral (PC) na prole. Inclusive, doenças autoimunes maternas apresentam um risco particular.
A PC é um distúrbio de movimento não progressivo e uma das principais causas de deficiência na infância. Sua etiologia é complexa e apenas alguns fatores de risco pré-natal foram identificados. Entre esses possíveis fatores de risco, estão as condições crônicas maternas, embora os estudos sejam tipicamente insuficientes e limitados a uma ou duas condições. O papel das condições crônicas maternas na etiologia da PC não é implausível. Inflamação, estado trombótico alterado e anormalidades placentárias são características de condições crônicas maternas, e todas foram associadas à PC em estudos prévios. Condições crônicas maternas também estão associadas a parto prematuro, escores de Apgar reduzidos e malformações congênitas, que são fortes preditores de PC. Diante do fato de não haver uma descrição sistemática das condições crônicas maternas e do risco de PC na prole, os pesquisadores exploraram possíveis associações entre 17 condições crônicas das mães e paralisia cerebral em seus filhos.
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Análise recente
Foi realizado um estudo de coorte prospectivo de crianças norueguesas nascidas no período entre 1990 e 2012 e que sobreviveram até os 2 anos de idade. As informações sobre as condições crônicas maternas durante a gravidez foram extraídas do Registro Médico de Nascimentos da Noruega (1990–2012). Informações sobre condições crônicas em mães e pais registradas no Registro Norueguês de Pacientes (2008–2014) estavam disponíveis para um subconjunto de crianças. Os diagnósticos de PC foram extraídos do Esquema de Seguro Nacional (1990–2014) e do Registro Norueguês de Pacientes (2008–2014). Os pesquisadores estimaram os riscos relativos (RR) e os intervalos de confiança de 95% (IC 95%) de PC em filhos de pais com condições crônicas e compararam com a população em geral, usando modelos de regressão log binominal.
Um total de 1.360.149 crianças norueguesas, incluindo 3575 crianças com PC (2,6/1000 nascidos vivos), cumpriram os critérios de inclusão.
No geral, as mães com doenças crônicas tiveram um risco 30% maior de PC em sua prole (RR 1,3; IC 95% 1,2-1,5). O maior risco de PC foi entre filhos de mães com diabetes mellitus tipo 2 (RR 3,2; IC 95% 1,8-5,4), lúpus eritematoso (RR 2,7; IC 95% 0,9-8,3), diabetes mellitus tipo 1 (RR 2,2; IC 95% 1,4–3,4) e doença de Crohn (RR 2,1; IC 95% 1,0–4,1) durante a gestação. O aumento do risco de PC na prole também foi associado à artrite reumatoide (RR 2,0; IC 95% 1,3–2,9), esclerose múltipla (RR 1,8; IC 95% 0,8–4,4) e enxaqueca (RR 1,6; IC 95% 1,2–2,2). Associações mais fracas e menos convincentes foram encontradas para hipertensão crônica, anemia, asma, epilepsia, distúrbio da tireoide e colite ulcerosa. O risco aumentou de 1,3 (IC 95% 1,1-1,4) para mães com qualquer condição, para 1,6 (IC 95% 1,1-2,4) em mães com duas condições e para 3,4 (IC 95% 1,5–7,7) com a presença de três ou mais condições. Nenhum risco aumentado foi observado para filhos de pais com condições crônicas.
Mensagem final
A conclusão desse estudo é de que várias condições crônicas maternas, particularmente doenças autoimunes, foram associadas ao aumento do risco de PC na prole. O risco era maior se a doença estivesse presente durante a gravidez e entre mães com múltiplas condições crônicas. Os pesquisadores reforçaram que a falta de associações entre a doença crônica do pai e o risco de PC apoia a interpretação de que o risco de PC na prole é o resultado direto da condição da mãe e não da predisposição genética ou fatores situacionais não medidos. Entretanto, a falta de associações com as condições dos pais não exclui a possibilidade de mecanismos genéticos que influenciam o neurodesenvolvimento fetal. Sabe-se que tanto a PC quanto as doenças autoimunes se agrupam dentro das famílias. Para os pesquisadores, seria interessante explorar os padrões familiares de doenças autoimunes e suas possíveis associações com os padrões familiares de paralisia cerebral e outras deficiências neurológicas.
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A meu ver, esse estudo ressalta o que já se sabe de antemão: a importância do pré-natal durante todo o período da gestação, iniciando-se no primeiro trimestre, e um dos motivos é para que mães com doenças crônicas possam ter suas enfermidades sobre controle e acompanhadas. Além disso, abrem-se portas para a realização de estudos mais robustos para avaliação genética, o que pode, futuramente, esclarecer melhor a causa das PC e não a atribuir somente a asfixia perinatal.
Referências bibliográficas:
- Strøm MS, Tollånes MC, Wilcox AJ, Lie RT, Forthun I, Moster D. Maternal Chronic Conditions and Risk of Cerebral Palsy in Offspring: A National Cohort Study. Pediatrics. 2021;147(3):e20201137. doi:10.1542/peds.2020-1137
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