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Neurologia4 dezembro 2020

O novo coronavírus tem capacidade de afetar o cérebro?

O novo coronavírus é capaz de infectar células do tecido cerebral, segundo revela um estudo brasileiro. Saiba mais!

Por Úrsula Neves

O novo coronavírus é capaz de infectar células do tecido cerebral, tendo como principal alvo os astrócitos, revela um estudo brasileiro divulgado na plataforma medRxiv, que ainda não passou pela revisão por pares.

Os resultados revelam ainda que mesmo os indivíduos que tiveram a forma leve da Covid-19 podem apresentar alterações significativas na estrutura do córtex.

A investigação foi conduzida por diversos grupos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP). Também colaboraram pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

imagem digital do novo coronavírus

Atuação do coronavírus no sistema nervoso central

Os astrócitos são as células mais abundantes do sistema nervoso central e desempenham diversas funções, como oferecer sustentação e nutrientes para os neurônios e regular a concentração de neurotransmissores.

A infecção desse tipo celular foi confirmada através de experimentos realizados com tecido cerebral de 26 pacientes que vieram a óbito de Covid-19 As amostras foram coletadas durante procedimentos de autópsia minimamente invasiva.

“A pesquisa foi realizada em diversas frentes de atuação, tendo grande representação clínica através dos estudos de Imagem. Tivemos as análises de imuno-histoquímica, que permitiram a validação da presença do vírus no tecido cerebral e a sua capacidade de se replicar, diversas ferramentas de biologia molecular, biologia celular e tecidual, experimentos bioquímicos de alta complexidade, como proteômica e metabolômica”, explica Victor Corasolla Carregari, doutor em Bioquímica Funcional e Estrutural e pós-doutorando em em Bioquímica com especialização em Proteômica no Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenado pelo professor Daniel Martins-de-Souza.

Já para as imagens de ressonância magnética foram utilizados 81 pacientes, que testaram positivo para Covid-19 e tiveram sintomas leves e 147 pessoas sem ter a doença e sem nenhum problema neurológico (utilizados como controle). Foram utilizadas amostras de cérebro de 38 pacientes que vieram a óbito em decorrência ao agravamento da enfermidade.

Veja também: Vírus chikungunya pode afetar sistema nervoso central?

A presença do vírus foi confirmada nas 26 amostras estudadas. Em cinco delas também foram encontradas alterações que sugerem um possível prejuízo ao sistema nervoso central.

Os pesquisadores observaram nesses cinco casos sinais de necrose e de inflamação. Mas somente conseguiram acesso a uma pequena parte do cérebro dos pacientes. Então, é possível que sinais semelhantes também estivessem presentes nos outros 21 casos estudados, mas em regiões diferentes do tecido.

Próximo estudo

Para Victor Carregari, o que mais surpreendeu em todo este estudo foi a versatilidade apresentada pelo novo coronavírus, sendo capaz de infectar a maior parte das células do nosso organismo.

“A nossa hipótese inicial era que o vírus era capaz de atravessar as barreiras para se chegar ao cérebro e infectá-lo, sendo assim, um dos responsáveis pelos sintomas neurológicos apresentados por pacientes com Covid-19. Sim, nós pudemos comprovar em parte a nossa hipótese, agora falta entender como o vírus consegue entrar no cérebro e é esse o nosso foco no momento”, revela o pesquisador.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

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