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Neurologia20 agosto 2025

Doença de Pompe: O que o neurologista deve saber? 

A Doença de Pompe é um distúrbio neuromuscular, que decorre da alteração do metabolismo do glicogênio.
Por Thiago Nascimento

A doença de Pompe, também chamada de deficiência de alfa-glicosidase ácida (GAA), é uma doença lisossomal de depósito rara, com impacto neuromuscular relevante. Ela faz parte do grupo das glicogenoses (tipo II) e resulta da incapacidade de degradar glicogênio nos lisossomos, levando ao acúmulo progressivo e toxicidade celular. 

Para o neurologista, a doença é um diagnóstico diferencial crucial em pacientes com miopatias de cinturas, principalmente quando há envolvimento precoce da musculatura respiratória e níveis elevados de CPK (podem ser normais).  

Entendendo a Doença de Pompe

A mutação no gene GAA (17q25.2-q25.3) compromete a produção da enzima alfa-glicosidase ácida, essencial para degradação do glicogênio dentro dos lisossomos. A consequência? Acúmulo de glicogênio em músculos esqueléticos, cardíacos e no sistema nervoso, com destruição tecidual progressiva. 

Há duas formas clínicas:  

Forma infantil clássica 

  • Início nos primeiros meses de vida. 
  • Hipotonia marcada (“floppy infant”). 
  • Miocardiopatia hipertrófica e insuficiência respiratória precoce. 
  • Sem tratamento, evolução rápida com óbito no 1º ano de vida.

Forma de início tardio (juvenil/adulto) 

  • Pode surgir da infância à vida adulta. 
  • Fraqueza proximal progressiva (padrão cinturo-pélvico). 
  • Envolvimento precoce do diafragma → apneia do sono e insuficiência respiratória. 
  • Não há cardiomiopatia.

Quando suspeitar da Doença de Pompe? 

  • Lactentes: hipotonia + cardiomegalia + dificuldade respiratória. 
  • Crianças/adultos: fraqueza proximal + dificuldade de subir escadas ou levantar de cadeiras + sonolência diurna (sugestiva de hipoventilação). 
  • CPK levemente a moderadamente elevado.

Sinais de alerta no exame neurológico  

  • Fraqueza proximal com preservação de reflexos nos estágios iniciais. 
  • Padrão miopático na eletromiografia. 
  • Capacidade vital forçada reduzida em posição supina.

Como diagnosticar?  

  1. Dosagem da atividade da GAA em sangue seco (teste do pezinho) ou leucócitos. 
  2. Confirmação com sequenciamento do gene GAA. 
  3. EMG com padrão miopático + potenciais complexos repetitivos (paravertebrais). 
  4. Em casos duvidosos, biópsia muscular mostrando miofibras vacuoladas com glicogênio PAS-positivo. 

Dica prática: considere Pompe no diagnóstico diferencial de miopatias de cinturas com fraqueza respiratória desproporcional e CPK elevado. 

Tratamento e avanços 

O marco terapêutico foi a introdução da terapia de reposição enzimática (ERT) com alglucosidase alfa: 

  • Reduziu a mortalidade na forma infantil. 
  • Retardou a progressão da forma tardia.

Nos últimos anos, novas opções surgiram:  

  • Avalglucosidase alfa – alternativa com maior eficiência de captação celular. 
  • Cipaglucosidase alfa + miglustat – aprovado para adultos com resposta insatisfatória à ERT convencional. 
  • Pesquisas em terapia gênica em andamento com resultados promissores. 
  • Atenção: a resposta à ERT é melhor quando iniciada precocemente, reforçando a importância do rastreamento neonatal e do diagnóstico rápido. 

Papel do neurologista 

Identificar precocemente pacientes com miopatias de cinturas atípicas e envolver equipe multidisciplinar (pneumologia, fisioterapia respiratória, genética). 

Monitorar: 

  • Função pulmonar (CVF supina). 
  • Sinais de hipoventilação noturna. 
  • Eventos adversos à ERT (reações de hipersensibilidade, anticorpos anti-GAA).

Orientar sobre a evolução da doença e o impacto das novas terapias.

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Referências bibliográficas

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