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Nefrologia13 agosto 2024

Tansulosina: alfabloqueador facilita a saída de cálculos?

Uma das medicações ainda muito utilizadas para eliminação dos cálculos urinários é a tansulosina, um alfabloqueador.
Por Ester Ribeiro

Cálculos urinários são transtornos para médicos e pacientes. Uma das medicações utilizadas no tratamento é a tansulosina, um alfa-bloqueador. 

Os cálculos urinários são responsáveis por desconforto lancinante e parte do dia a dia de emergencistas, clínicos e urologistas. Além de pronta analgesia, é necessário a retirada do cálculo evitando infecções, hidronefroses e perda de função renal. Uma das medicações ainda muito utilizadas para eliminação destes cálculos é tansulosina, um alfabloqueador. 

Os estudos ainda são conflitantes pois enquanto alguns demonstram benefícios outros descartam o seu uso pela falta de evidência clínica. Uma revisão sistemática de 2016, por exemplo, é contraditória ao ensaio clínico randomizado de 2018 para cálculos de até 9mm. Por outro lado, diversos estudos com cálculos maiores relacionando o uso da tansulosina a litotripsias, mesmo em cálculos maiores, deixam o questionamento de quando (e se) realmente vale a pena usar essa medicação. 

Veja mais: Como abordar a litíase renal na emergência?

tratamento de cálculo renal com tansulosina

Qual a controvérsia na literatura sobre o uso da tansulosina 

Um estudo randomizado, incluindo 1.384 pacientes, com cálculos menores que 10mm foi realizado em 2016. Pacientes receberam tansulosina (0,4 mg/dia) ou placebo por 3, 4 ou 6 semanas. Aproximadamente em 85% dos casos as pedras foram eliminadas com tansulosina vs. 66% dos pacientes utilizando placebo, uma significante diferença de risco de 17%. Não houve diferença significativa em sintomas entre grupos. Nos houve uma diferença significativa apenas no subgrupo 4 a 10 mm (diferença de risco de 22%, NNT = 5). 

Por outro lado, em 2018, um ensaio clínico randomizado, incluindo 512 pacientes com cálculos menores que 9 mm observados em tomografia computadorizada, controlado por grupo placebo, onde os pacientes usaram tansulosina por 28 dias, foram acompanhados por 90 dias. As taxas de passagem de pedra foram de 50% no grupo de tansulosina e 47% no grupo placebo (risco relativo, 1,05; IC 95,8%, 0,87-1,27; P = .60) uma diferença não significativa. Nenhum dos desfechos secundários teve diferença significativa, dentre eles, idade, local da pedra, tamanhos maior ou menor que 5mm, entre outros.  

Em 2019, um estudo americano, conduzido em um único centro relacionou pacientes com cálculos menores que 1cm, unilateral em cerca de 1 ano de protocolo com tansulosina e, após, mais um ano sem a tansulosina protocolar do local conferindo um total de 723 pacientes (360×363). A conclusão foi que a remoção da tansulosina dos protocolos clínicos daquele serviço não prejudicou a passagem de cálculos em pacientes que tentavam eliminá-los. 

Em 2021, uma meta-análise brasileira foi realizada com 7 estudos, avaliando a eficácia do uso da tansulosina em pacientes submetidos à LECO, com 805 pacientes. Este estudo mostra benefício no uso em pedras maiores que 10mm, porém não foi encontrado nenhum estudo que utilizasse tomografia computadorizada para a detecção e avaliação de fragmentos de pedra residual sugerindo que são necessários mais estudos para um veredicto final. 

Outros estudos menores, com subgrupos específicos e estendidos foram também realizados ao longo dos anos. Um estudo de 2022, com 57 doentes estudou o tratamento da tansulosina como tratamento coadjuvante à analgesia com diclofenaco e litotripsia extracorpórea (LECO) em pacientes com pedra única entre 5-10mm. Apesar de bem tolerada e segura, não aumentou a taxa livre de pedra e o estudo sugere que pode haver algum benefício – apesar de não estatisticamente – em pacientes com cálculos entre 11 e 20 mm que realizarem litotripsia. 1  

Apesar de numerosos estudos, ainda não temos uma definição conclusiva. Muitas metanálises foram baseadas em estudos que não utilizaram controle posterior com tomografia, o que impede a garantia da eliminação completa dos cálculos ou de seus fragmentos. Além disso, estudos clínicos realizados com um número reduzido de pacientes não demonstraram benefícios claros. Até o momento, acreditamos que o uso não é justificado. No entanto, alguns subgrupos podem, teoricamente, se beneficiar, embora na prática ainda não tenhamos certeza. 

Leia também: Fibrose intersticial na nefrite lúpica (NL) e o risco de doença renal crônica

Pedra nos rins 

Alguns casos podem passar despercebidos quando o tamanho do cálculo é mínimo e podem ser descobertos apenas pelos exames de rotina na investigação de outras doenças. A presença de sintomas como dor lancinante e aguda é decorrente da obstrução da via urinária pelo cálculo impactado. 

Os fatores de risco são: 

  • Distúrbios metabólicos como 
  •  Hipercalciúria idiopática,  
  • Hiperexcreção de Ácido Úrico,  
  • Hiperoxalúria,  
  • Cistinúria,  
  • Hipocitratúria,  
  • Hipomagnesiúria; 
  • História familiar; 
  • Alterações anatômicas do trato urinário; 
  • Epidemiológicos como clima quente, exposição ao calor ou ar-condicionado no trabalho, dieta com maior consumo de proteína animal e sal, sedentarismo; 
  • Baixa ingesta hídrica;
  • Imobilização prolongada;
  • Infecção de trato urinário por produtores de urease.

O diagnóstico deve ser confirmado por exame de imagem (TC abdominopélvica sem contraste). Exames laboratoriais como urina 1 podem avaliar infecção ou hematúria associada.  

Função renal (ureia e creatinina) pode ser útil para avaliar casos obstrutivos. Eletrólitos, PTH e ácido úrico podem ser solicitados para investigação da causa. E proteína C-reativa e hemograma completo na presença de febre devem ser solicitados. Confira mais no Whitebook Clinical Decision! 

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Referências bibliográficas

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