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Infectologia29 julho 2020

Máscaras contra a Covid-19: existem evidências sobre o uso generalizado?

Desde o surgimento da Covid-19, causada pelo SARS-CoV-2, o uso de máscaras tem sido uma das questões importantes no controle da disseminação desta doença.

Por Rafael Duarte

Desde o surgimento da nova síndrome respiratória aguda denominada Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, o uso de máscaras tem sido uma das questões importantes no controle da disseminação desta doença. O uso desses acessórios tem sido ubíquo na Ásia e em outros países asiáticos como Coréia do Sul e Japão como medida quase que espontânea.

Porém, diversas autoridades, instituições ou opiniões pessoais, incluindo nos países citados e também nos mundo ocidental, têm se manifestado contrariamente ao uso generalizado das máscaras pela população nos diferentes cenários.

Leia também: Como acontece a transmissão da Covid-19 em ambientes familiares?

Casal usa máscaras durante a pandemia de Covid-19

Orientações sobre o uso de máscaras

As orientações variam quanto aos países e também na recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta última só recomenda o uso de máscaras em pessoas saudáveis se estiver exercendo atividades que envolva o cuidado com pessoas com suspeita de infecção por SARS-CoV-2. E indica que o uso de máscara em cenários não recomendados pode criar uma falsa sensação de segurança, o que poderia levar os indivíduos a negligenciarem as medidas essenciais de higiene, como a própria lavagem das mãos.

Algumas instituições acreditam que não há evidências científicas suficientes que o uso de máscara leve a redução do risco de infecção. Outras assumem esses conceitos de forma a garantir os estoques disponíveis para uso por profissionais de saúde. Um estudo prévio já sugeria que a eficácia das máscaras de tecido era muito inferior às máscaras cirúrgicas.

Saiba mais: Máscaras cirúrgicas são eficazes no controle da disseminação do novo coronavírus?

Eficácia das máscaras

MacIntyre et al. (2020) desenvolveram um ensaio randomizado comparando o uso de máscaras de tecido com máscaras cirúrgicas em profissionais de saúde na proteção de doenças respiratórias. Verificou-se um número significativamente maior de acometimento respiratório entre os usuários de máscara de tecido. Tais achados reforçam o questionamento do uso desse acessório nas populações de forma generalizada.

Porém, há uma diferença entre: “ausência de evidências” e “evidências de ausência”. É tradicionalmente consistente e executado há décadas, e com sucesso, que o uso de máscaras por profissionais de saúde protege contra infecções respiratórias transmitidas por aerossóis ou gotículas, e consiste em medida obrigatória dentre os equipamentos de proteção individual (EPI) na precaução respiratória. Portanto, é plausível e necessário considerar que indivíduos suscetíveis à Covid-19 utilizem máscaras quando expostos em aglomerações e outras situações de alto risco, especialmente devido a maior transmissibilidade especialmente no período precoce assintomático da doença.

Estudos mais recentes sobre máscaras contra Covid-19

Frente a esses questionamentos, dois estudos (Stutt et al., 2020 e Eikenberry et al., 2020) publicados recentemente utilizaram modelos matemáticos envolvendo simulação aplicados na distribuição populacional e transmissão da Covid-19 para avaliar os efeitos do uso da máscara facial no controle epidêmico da doença.

Em ambos os modelos apresentados, o uso contínuo de máscara facial (considerada como filtrante para apenas 20 a 50% do ar exalado) pela população, mesmo na etapa assintomática, reduz significativamente a disseminação da Covid-19, com efeitos benéficos em toda a população, independente das categorias de risco. Tal redução é ainda maior quando aplicada em combinação com o lockdown  ou com o distanciamento social.

Com base nesses achados, pode-se assumir a afirmativa: “Minha máscara te protege. Sua máscara me protege”. Outras informações sobre os efeitos do uso de máscaras no controle da Covid-19 podem ser observadas nas referências abaixo.

Referências bibliográficas:

  • Cheng VC, Wong SC, Chuang VW, et al. The role of community-wide wearing of face mask for control of coronavirus disease 2019 (Covid-19) epidemic due to SARS-CoV-2. J Infect, 2020;81(1):107-114. doi:10.1016/j.jinf.2020.04.024
  • Eikenberry SE, Mancuso M, Iboi E, et al. To mask or not to mask: Modeling the potential for face mask use by the general public to curtail the Covid-19 pandemic. Infect Dis Model, 2020;5:293-308. Published 2020 Apr 21. doi:10.1016/j.idm.2020.04.001
  • Feng S, Shen C, Xia N, Song W, Fan M, Cowling BJ. Rational use of face masks in the Covid-19 pandemic. Lancet Respir Med. 2020;8(5):434-436. doi:10.1016/S2213-2600(20)30134-X
  • Javid B, Weekes MP, Matheson NJ. Covid-19: should the public wear face masks?. BMJ, 2020;369:m1442. Published 2020 Apr 9. doi:10.1136/bmj.m1442
  • MacIntyre CR, Seale H, Dung TC, et al. A cluster randomised trial of cloth masks compared with medical masks in healthcare workers. BMJ Open, 2015;5(4):e006577. Published 2015 Apr 22. doi:10.1136/bmjopen-2014-006577
  • Mahase E. Covid-19: What is the evidence for cloth masks?. BMJ, 2020;369:m1422. Published 2020 Apr 7. doi:10.1136/bmj.m1422

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