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Infectologia27 julho 2020

Covid-19: soroconverter ou não soroconverter? Eis a questão.

A pandemia de síndrome respiratória aguda denominada Covid-19, tem desafiado a ciência quanto a diversas questões, incluindo relacionadas à soroconversão.

Por Rafael Duarte

Os diferentes coronavírus já descritos consistem em patógenos importantes em seres humanos e animais. O SARS-CoV-2, recentemente descrito como associado à pandemia de síndrome respiratória aguda denominada Covid-19, tem desafiado a ciência quanto a diversas questões, especialmente em relação a capacidade de desenvolvimento de imunidade protetora e duradoura pelos indivíduos expostos. Algumas das curiosidades já observadas incluem:

  • (i) a ausência de soroconversão em parte dos indivíduos infectados;
  • (ii) a negativação da soroconversão em um certo número de indivíduos convalescentes;
  • (iii) o status possível de recorrência e/ou reinfecção;
  • (iv) a soroconversão em inúmeros assintomáticos;
  • (v) a não infecção em indivíduos claramente expostos;
  • (vi) “passaporte da imunidade”.

Três estudos divulgados recentemente, contribuem para esta caminhada da Imunologia rumo ao esclarecimento dos mecanismos da resposta imune à Covid-19. Esses manuscritos fornecem informações importantes para o melhor entendimento dos desafios que temos pela frente para a elaboração de vacinas e outras formas de terapias.

Leia também: Desafios da Covid-19: A recorrência ou reinfecção são possíveis?

Questões de soroconversão em pacientes com Covid-19 são levantadas durante a pandemia.

Estudos sobre resposta imune à Covid-19

Weiskopf et al. (2020)

Dez pacientes acometidos com a forma grave de Covid-19, e que necessitaram de admissão hospitalar em ambiente de terapia intensiva, foram investigados quanto a presença de células T CD4+ e T CD8+ reativas. Tais características foram comparadas com o grupo controle (n = 10) não previamente expostos ao SARS-CoV-2. Os indivíduos doentes com a forma grave apresentaram alta reatividade fenotípica por células T (CD4+ 10/10 indivíduos, e T CD8+ 8/10) especialmente direcionada para a glicoproteína S e a produção elevada de citocinas efetoras relacionadas à resposta Th1. As citocinas associadas com a resposta Th2 (IL-5, IL-9, IL-10 e IL-13, mas não IL-4 e IL-21) e Th17 (IL17A, IL17F e IL-22) também foram detectadas. Células T CD4+ e CD8+ de memória também foram encontradas nos indivíduos com a doença grave.

A cinética da produção das células T específicas para SARS-CoV-2 nos indivíduos com a doença grave indicou a presença desses componentes de forma significativa desde a fase precoce da Covid-19 com aumento progressivo ao longo do curso da doença e alta expressão de citocinas (IFN-gama, TNF-alfa e IL-2) após estimulação. Verificou-se também que 2/10 indivíduos não infectados por SARS-CoV-2 já exibiam a presença de células T com reatividade ao vírus, sugerindo a existência de reatividade cruzada induzida por infecções por outros coronavirus previamente.

Saiba mais: Covid-19: pacientes com sintomas leves apresentam imunidade?

Sekine et al. (2020)

Nesse estudo, foram avaliados os perfis de produção de células T específicas para SARS-CoV-2, os fenótipos expressos e a sorologia em uma ampla coorte de indivíduos com os seguintes perfis: (a) não expostos ao SARS-CoV-2; (b) contatos assintomáticos familiares de indivíduos com Covid-19; e (c) indivíduos em fase aguda ou convalescente da doença. As células T específicas para o vírus e produzidas em fase aguda da doença se apresentaram com um fenótipo citotóxico altamente ativado. Por outro lado, o fenótipo exibido pelas mesmas células em fase de convalescência consistia em um padrão polifuncional e de memória. Adicionalmente, células T específicas para SARS-CoV-2 foram detectadas entre os familiares soro negativos e em indivíduos com Covid-19 assintomáticos ou com as formas leves da doença. Os pesquisadores sugerem que SARS-CoV-2 induz uma resposta consistente na forma de células T de memória e específicas, decorrente da exposição natural ou infecção/doença mesmo em indivíduos soronegativos.

Gallais et al. (2020)

Foram avaliadas sete famílias (nove pacientes-índice com forma leve de Covid-19 e oito contactantes) quanto a resposta imune direcionada ao SARS-CoV-2 com histórico de sorologia discordante. Todos os pacientes apresentaram recuperação da doença e resposta celular por células T significativa em período de até 69 dias após início dos sintomas. Alguns familiares (6/8) contactantes exibiram sintomas de Covid-19, tiveram resposta positiva por células T específica contra proteínas estruturais ou acessórias de SARS-CoV-2 por períodos de até 80 dias desde o início dos sintomas, mas não soroconverteram. Tal estudo indica que a exposição ao novo coronavírus associado a Covid-19 pode induzir a resposta celular sem a expressão em produção de anticorpos detectáveis.

Outros detalhes sobre os estudos citados podem ser observados nas referências abaixo.

Referências bibliográficas:

  • Weiskopf D, Schmitz KS, Raadsen MP, et al. Phenotype and kinetics of SARS-CoV-2-specific T cells in Covid-19 patients with acute respiratory distress syndrome. Sci Immunol. 2020;5(48):eabd2071. doi:10.1126/sciimmunol.abd2071.
  • Sekine T., et al. 2020. Robust T cell immunity in convalescent individuals with asymptomatic or mild Covid-19. Robust T cell immunity in convalescent individuals with asymptomatic or mild Covid-19. doi: https://doi.org/10.1101/2020.06.29.174888.
  • Gallais F., et al. 2020. Intrafamilial exposure to SARS-CoV-2 induces cellular immune response without seroconversion. doi: https://doi.org/10.1101/2020.06.21.20132449

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