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Infectologia16 setembro 2024

Mpox: atualização e manejo das lesões cutâneas 

Neste artigo, apresentaremos as características e os principais pontos sobre o manejo da infecção por mpox

A mpox é considerada uma infecção zoonótica pelo vírus monkeypox, que pertence ao gênero Orthopoxvirus, da família Poxviridae. Existem dois clados distintos do vírus: clado I (com subclados Ia e Ib) e clado II (com subclados IIa e IIb). O vírus recebeu inicialmente o nome de monkeypox após sua observação inicial em macacos, embora não seja realmente transmitido por esses primatas. Em vez disso, acredita-se que a transmissão ocorra por meio de várias espécies de roedores e pequenos mamíferos, embora a origem exata do vírus permaneça incerta. 

Em 2022–2023, um surto global de mpox foi causado pela cepa do clado IIb. A doença continua a ser uma ameaça hoje, e um aumento de casos na República Democrática do Congo e em outros países causados pelos clados Ia e Ib levantou preocupação. Dados do ministério apontam que, entre 2022 a 2024, o Brasil registrou quase 12 mil casos confirmados e 366 casos prováveis de mpox. 

O período de incubação tende a durar de 5 a 21 dias e a transmissão pode ocorrer por gotículas respiratórias, contato direto com objetos ou superfícies contaminadas, ou através das lesões mucocutâneas de um indivíduo infectado. Também pode haver transmissão vertical ou durante o contato próximo pós-parto. O período de transmissão ocorre até a pele estar totalmente reepitelizada, em média 3 semanas. No surto atual, a transmissão sexual é a principal via de contágio, com o espalhamento viral através de fluidos corporais desempenhando um papel crucial. 

Monkeypox (mpox): atualização e manejo das lesões cutâneas 

Imagem de CDC/Public Health Image Library

Sintomas da mpox

À medida que o vírus se espalha por meio da viremia secundária, o estágio prodrômico se inicia, com erupções cutâneas, linfonodomegalia, mialgia, febre e sintomas gripais. As manifestações respiratórias incluem congestão nasal e dispneia, que podem predispor a infecções bacterianas secundárias. Além disso, os pacientes podem apresentar comprometimento neurológico, manifestado como encefalite, e envolvimento ocular, que pode se manifestar como conjuntivite, ceratite ou ulceração da córnea.  

Sintomas adicionais podem englobar diarreia, vômitos e mialgia. Dada a natureza predominantemente autolimitada da doença, a maioria dos pacientes não requer hospitalização, e o tratamento é geralmente baseado em monitoramento, sintomáticos, suporte, terapia antiviral e manejo das complicações associadas à mpox. 

Manifestações dermatológicas 

As manifestações dermatológicas associadas à infecção se apresentam inicialmente como uma erupção cutânea exantemática que evolui através de várias fases: inicialmente com lesões maculares, progredindo para pápulas e, posteriormente, para vesículas, e finalmente forma crostas antes da resolução, geralmente em cerca de três semanas. Linfadenopatia pode ocorrer concomitantemente. 

Entre as manifestações mucocutâneas, as lesões anogenitais foram as mais frequentemente observadas, seguidas por lesões nos membros, face, tronco, palmas das mãos ou plantas dos pés. As lesões predominantes incluem formas vesiculopustulosas, pustulosas, vesicular-umbilicadas e papulosas, geralmente apresentando-se de forma assíncrona e com menos de 10 lesões por paciente. As lesões fazem diagnóstico diferencial com outras infecções dermatológicas, como sífilis, herpes simplex, molusco contagioso ou foliculite. 

Manejo da mpox

Atualmente, não há cura definitiva para a doença. As recomendações atuais da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o manejo da mpox incluem isolamento respiratório e de contato por 21 dias, tratamento dos sintomas e uso de tecovirimat em casos com comprometimento sistêmico significativo. O Tecovirimat mostrou atividade específica contra vários orthopoxvirus, incluindo a varíola dos macacos. No entanto, não está amplamente disponível no momento e deve ser usado com cautela.  

Outra droga descrita é o cidofovir, que é um antiviral que interrompe a DNA polimerase viral, enquanto o tecovirimat interrompe a liberação do vírus dentro das células. Apesar do potencial desses tratamentos, a abordagem primária para o manejo da doença ainda é por meio de terapia de suporte e sintomática. 

Leia também: Vacinação contra mpox: atualidade e perspectiva 

É importante garantir uma hidratação adequada e uma nutrição balanceada para a recuperação geral do paciente. Pacientes com lesões ativas devem ser isolados para prevenir a transmissão do vírus a outras pessoas. 

Outros pontos importantes 

As lesões cutâneas merecem destaque e devem ser manejadas para promover a cicatrização e evitar complicações como dor local e infecção secundária. Devem ser mantidas limpas e secas. A limpeza suave com água e sabão neutro é essencial para evitar infecções secundárias. As lesões podem ser cobertas com curativos estéreis para proteger contra infecções e reduzir o risco de transmissão do vírus através do contato com superfícies contaminadas. 

Um estudo prospectivo mostrou que as lesões tratadas com cidofovir tópico resolveram mais rapidamente em comparação com o tratamento sintomático isolado, embora efeitos adversos locais, especialmente na região anogenital, sejam comuns, sendo necessários mais estudos. 

Mensagem prática 

É crucial monitorar e tratar infecções bacterianas secundárias. Antibióticos tópicos ou sistêmicos podem ser necessários se houver sinais de infecção bacteriana. A dor associada às lesões pode ser manejada com analgésicos como paracetamol, AINEs, e agentes tópicos como lidocaína.

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Referências bibliográficas

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