ID Week 2022: Novidades para a prática sobre HPV, hepatites virais, HCV e HIV
O ID Week 2022 contou com uma sessão em que foram apresentados três importantes estudos sobre HPV, hepatites virais, HCV e HIV.
Confira a segunda parte da sessão do ID Week 2022 com a apresentação de estudos que podem alterar a prática clínica, agora com foco em doenças virais.
ANCHOR
Câncer de canal anal, relacionado ao vírus HPV, é o quarto mais comum entre indivíduos que vivem com HIV, sendo normalmente precedido por lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL). Diferentemente do câncer cervical, o benefício do tratamento de lesões HSIL para evitar o desenvolvimento de câncer de canal anal não está bem estabelecido.
O estudo ANCHOR é um estudo multicêntrico e randomizado, conduzido em 25 locais nos EUA, que comparou o tratamento de HSIL com conduta expectante na população com infecção pelo HIV. Eram elegíveis homens e mulheres HIV-positivos, com 35 anos de idade ou mais, e com presença de HSIL em biópsia. Os participantes foram randomizados para receber ablação por eletrocautério (ou outras opções de tratamento) seguido de anuscopia de alta resolução (HRA) a cada seis meses ou para conduta expectante com HRA a cada seis meses e tratamento para câncer anal, se diagnosticado. Os voluntários foram seguidos por 25 meses.
Foram incluídos 4.459 pacientes, sendo 81% homens e 15% mulheres. A maioria dos pacientes estava com infecção pelo HIV bem controlada, com 90% com carga viral < 200 cópias/mL. Houve uma redução de 57% na taxa de progressão para câncer anal no grupo de intervenção quando comparado com o grupo placebo e os procedimentos de tratamento foram bem tolerados.
MYR 301
A hepatite Delta é a forma mais grave das hepatites virais, que pode ocorrer como superinfecção ou como coinfecção, estando a primeira associada a maior risco de cirrose e insuficiência hepática. Entretanto, o rastreio para essa infecção está abaixo do esperado e tratamento específico é pouco eficaz e frequentemente mal tolerado.
O estudo MYR 301 procurou avaliar a eficácia e a segurança de bulervitide (BLV), um inibidor de entrada do HDV, em duas doses possíveis – 2mg ou 10mg – comparado com não tratamento. Entre os critérios de inclusão principais estão HDV crônica com ou sem cirrose, transaminases até 10x o valor superior de referência, contagem de plaquetas de 60.000 ou mais e, se presente, infecção pelo HIV controlada.
Os participantes foram randomizados para receber 2mg de BLV por via SC (n = 49), 10mg de BLV por via SC (n = 50) ou tratamento tardio (n = 51), em que o tratamento com 10mg de BLV foi adiado por 48 semanas.
Na semana 48 do estudo, ambos os grupos de tratamento apresentaram maior frequência do desfecho primário combinado de resposta virológica ou normalização de TGP de forma estatisticamente significativa comparados com o grupo controle que não havia sido tratado. Os resultados foram comparáveis entre os grupos que receberam 2mg ou 10mg de BLV. Os indivíduos tratados também apresentaram melhora nos parâmetros de elastografia quando comparados com o grupo não tratado.
Os resultados do MYR 301 foram apresentados na EASL 2022 e BLV está aprovado para uso no Reino Unido.
MINMON
O MINMON é um estudo aberto de fase 4, multicêntrico internacional que avaliou uma estratégia de monitoramento mínimo no tratamento de infecção pelo HCV que consistia em: ausência de realização de genotipagem pré-tratamento, dispensação de todo o tratamento no início do estudo, ausência de agendamento de visitas ou monitoramento laboratorial e contato remoto nas semanas 4 (para avaliação de adesão) e 22 (para agendamento para visita de desfecho na semana 24).
Os critérios de inclusão principais eram ter 18 anos de idade ou mais, evidência de infecção por HCV (RNA HCV > 1000 UI/ml) e ausência de história de tratamento para HCV. Gestantes, indivíduos com infecção crônica por HBV e indivíduos com cirrose descompensada foram excluídos. Todos os participantes receberam sofosbuvir e velpatasvir por 12 semanas. O desfecho primário foi resposta virológica sustentada após pelo menos 22 semanas do início do tratamento.
A taxa de cura foi de 95% e a adesão à medicação foi de 89 a 100%. A incidência de eventos adversos graves foi de 4%, mas nenhum foi associado à medicação e nem levou à interrupção do tratamento.
ATLAS 2M
O ATLAS 2M é um estudo de não-inferioridade, multicêntrico, aberto, randomizado, que compara o uso de cabotegravir e rilpivirina de longa duração administrados por via IM a cada quatro ou oito semanas para o tratamento de manutenção de indivíduos com HIV.
Os resultados da semana 152 mostraram não-inferioridade do esquema bimestral em relação ao mensal para o desfecho de supressão virológica do HIV. Foram detectadas 13 falhas, com mais falhas no grupo a cada oito semanas. Das falhas, a maioria ocorreu precocemente (< 48 semanas) e com frequência mutações de resistência a cabotegravir e rilpivirina estavam presentes.
Fatores de risco para falha encontrados foram genótipo A6, mutações de resistência à rilpivirina pré-existentes, obesidade (IMC ≥ 30) e administração a cada oito semanas.
Os resultados mais recentes do ATLAS 2M foram apresentados no CROI 2022.
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