A infecção do sítio cirúrgico (ISC) é uma das principais complicações nas cirurgias ortopédicas, podendo levar a reoperações, aumento da morbidade e custos elevados no sistema de saúde. Tradicionalmente, a cefazolina, uma cefalosporina de primeira geração, tem sido amplamente utilizada como antibiótico profilático nesses procedimentos. No entanto, devido a períodos de escassez desse medicamento em alguns hospitais, alternativas beta-lactâmicas têm sido adotadas. Mas será que elas são tão eficazes quanto a cefazolina na prevenção de ISC?
O estudo e seus achados
Um estudo publicado no Injury analisou 16.602 pacientes submetidos à cirurgia de fratura de membros inferiores entre 2019 e 2020 no Japão, comparando o uso da cefazolina com outros antibióticos beta-lactâmicos, como penicilinas de amplo espectro e cefalosporinas de segunda à quarta geração. O principal desfecho analisado foi a necessidade de reoperação por ISC dentro de 30 dias após a cirurgia.
Os resultados mostraram que a incidência de reoperação por ISC foi muito semelhante entre os grupos:
- Pacientes tratados com cefazolina: taxa de reoperação de 0,30%.
- Pacientes tratados com beta-lactâmicos alternativos: taxa de reoperação de 0,32%.
As análises de sensibilidade, estendendo o período de acompanhamento para 90 e 365 dias, também não revelaram diferenças significativas entre os grupos. Isso sugere que a substituição da cefazolina por outras opções beta-lactâmicas não altera substancialmente o risco de ISC.
O que isso significa para a prática clínica?
A profilaxia antimicrobiana é um elemento-chave na segurança do paciente ortopédico. A cefazolina é eficaz contra bactérias Gram-positivas, como Staphylococcus aureus, um dos principais agentes causadores de ISC. No entanto, sua falta em alguns períodos levou os hospitais a utilizarem antibióticos alternativos. Esse estudo traz um dado tranquilizador: quando a cefazolina não está disponível, outros beta-lactâmicos podem ser usados sem um aumento significativo no risco de infecção.
Ainda assim, é importante que a escolha do antibiótico seja baseada no perfil microbiológico da instituição e nas características individuais do paciente. Em casos de alergia à cefazolina, por exemplo, alternativas como ceftriaxona ou ampicilina-sulbactam podem ser consideradas. Além disso, o uso racional dos antibióticos deve ser reforçado, minimizando o risco de resistência bacteriana, um problema crescente na prática médica.
Outro fator relevante é que, apesar de não haver diferença estatística entre os antibióticos estudados, a cefazolina continua sendo a primeira escolha por seu perfil de segurança, custo acessível e eficácia já amplamente comprovada. A decisão de utilizar um antibiótico alternativo deve ser cuidadosamente avaliada por comitês de controle de infecção hospitalar e pelo corpo clínico responsável.
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Mensagem prática
A escassez de antibióticos pode gerar desafios no controle de infecções hospitalares, mas os achados desse estudo sugerem que alternativas beta-lactâmicas podem substituir a cefazolina sem comprometer a eficácia da profilaxia em cirurgias ortopédicas de fraturas dos membros inferiores. Isso reforça a importância da pesquisa e do monitoramento contínuo dos desfechos clínicos, garantindo que os pacientes recebam a melhor assistência possível, independentemente das limitações de estoque de determinados medicamentos.
Por fim, esse estudo reforça a necessidade de políticas hospitalares que garantam a disponibilidade de antibióticos eficazes e o treinamento adequado das equipes médicas para lidar com possíveis substituições, assegurando que a escolha do antibiótico seja sempre baseada em evidências científicas e na segurança do paciente.
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