Ainda versando sobre complicações vistas em pacientes HIV em terapia antirretroviral, foram apresentados, na Conference on Retoviruses and Opportunistic Infections (CROI) 2021, resultados de um estudo para prevenção de perda óssea nessa população.
Perda óssea e HIV
Conhecidamente, indivíduos com infecção pelo vírus HIV apresentam maior prevalência de baixa densidade mineral óssea e de fraturas quando comparados com a população geral, sendo a infecção pelo HIV é um fator de risco independente para baixa densidade mineral óssea.
Ao mesmo tempo, observa-se uma perda de DMO de aproximadamente 2-6% nas primeiras 48 semanas após o início de terapia antirretroviral (TARV). O mecanismo para esse fenômeno não é totalmente conhecido, mas estudos mostram que pacientes que com infecção pelo HIV apresentam maiores níveis de marcadores de turnover ósseo, com pico em 12 semanas após o início da TARV. Esses achados sugerem que a perda óssea associada ao início do tratamento pode ser mediada por aumento do turnover ósseo.
Uso do alendronato
Um grupo da Universidade de Dublin apresentou resultados de seu trabalho que procurou avaliar o uso de alendronato oral como forma de prevenir essa perda mineral óssea. Detalhamentos desse estudo seguem abaixo:
- Estudo multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo comparando o uso de alendronato oral vs. placebo. A randomização foi estratificada por sexo e uso de inibidor de protease.
- Os participantes eram homens > 25 anos e mulheres > 30 anos com infecção pelo HIV sem exposição prévia à TARV. Os incluídos iniciaram alendronato 70 mg, 1x/semana, 2 semanas antes do início da TARV até 14 semanas.
- Critérios de exclusão: história de osteoporose ou fratura, doença renal crônica, alterações nos níveis séricos de cálcio, uso prévio ou alergia a bifosfonados, alterações esofagianas, uso recente de corticoides ou de procedimento dentário e gestação ou lactação.
- Foram obtidos resultados até a semana 60 de 42 pacientes: 22 no braço do alendronato e 20 no braço do placebo.
- Para as medidas de DMO em quadril, os pacientes no braço do alendronato apresentaram maior DMO em comparação com os pacientes do grupo placebo, com uma diferença mais pronunciada em 14 semanas. Com 50 semanas de acompanhamento, a diferença favorecendo o grupo do alendronato de forma estatisticamente significativa ainda foi observada, mas de forma menos pronunciada.
- Para as medidas de DMO em coluna lombar, também houve diferença significativa com 14 semanas. Entretanto, esse efeito não se manteve nas semanas de acompanhamento seguintes, mantendo-se somente nas primeiras 24 semanas.
- O alendronato foi bem tolerado, com poucos eventos adversos relatados.
- Limitações do estudo incluem o tamanho pequeno da amostra e a pouca proporção de mulheres incluídas.
Mensagens práticas
O uso de um curso de 14 semanas com alendronato oral iniciado duas semanas antes do início da terapia antirretroviral apresentou benefício em reduzir a perda mineral óssea associada com o início de TARV na população do estudo.
Confira outros destaques do CROI 2021:
- CROI 2021: dolutegravir é seguro e eficaz para crianças e adolescentes com HIV?
- CROI 2021: impacto da vacinação e das variantes do SARS-CoV-2 na imunidade
- CROI 2021: qual a relação entre viremia do SARS-CoV-2 e desfechos clínicos?
- CROI 2021: anticorpos monoclonais para Covid-19 – resultados do BLAZE-1
- CROI 2021: risco cardiovascular em pacientes HIV
- CROI 2021: ganho de peso pode ser um efeito colateral da terapia antirretroviral?
- CROI 2021: como funciona a resposta imune contra o SARS-CoV-2?
- CROI 2021: o que temos de evidência sobre tratamento da Covid-19?
- CROI 2021: pandemias de HIV e Covid-19 e desenvolvimento de vacinas
- CROI 2021: onde estamos na busca pela cura do HIV?
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.