O advento da terapia antirretroviral de alta potência mudou a história natural da infecção por HIV. Entretanto, os avanços em busca da cura e de uma vacina contra a infecção ainda são modestos. Casos de cura foram relatados previamente em três pacientes no mundo. Na 24th International AIDS Conference foram apresentados os dados do que seria o quarto paciente, conhecido como paciente “City of Hope”.
O paciente
Trata-se de um paciente de 63 anos, branco, do sexo masculino com diagnóstico de HIV há 31 anos, que estava em uso de terapia antirretroviral eficaz, com bom controle virológico. O esquema antirretroviral vigente era combinação de TAF/FTC/DTG.
Foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda de alto grau, atingindo remissão após 3 ciclos de quimioterapia. A equipe assistente optou por realização de transplante de células hematopoiéticas e o melhor doador apresentava homozigose para mutação no gene do receptor CCR5, tornando-o não funcional.
Os exames pré-transplante do paciente demonstraram homozigose para a variante selvagem do receptor CCR5, resultando em células suscetíveis à infecção pelo HIV. Genotipagem da linhagem viral do paciente também demonstrou preponderância de vírus R5.
Após indução e condicionamento, o paciente foi submetido ao transplante, com suspensão posterior de imunossupressores. Como complicações, apresentou aspergilose pulmonar provável – tratada com sucesso com isavuconazol – e doença do enxerto vs. hospedeiro – tratada com corticoides.
O paciente permaneceu em terapia antirretroviral, mantendo-se sem evidências de replicação viral, até que TARV foi interrompida e o paciente seguiu em seguimento. Os dados de acompanhamento mostraram manutenção de supressão viral, inclusive em células do reservatório, e diminuição de detecção de anticorpos contra o HIV pelo método de Western blot.
No momento, o paciente segue sem evidências de replicação viral 17 meses após interrupção de TARV e 42 meses após a realização do transplante.
O que há de diferente?
De forma semelhante aos casos descritos anteriormente, trata-se de um paciente que foi submetido a transplante de células hematopoiéticas após um diagnóstico de leucemia e cujo doador apresentava mutações em homozigose para o receptor utilizado pelo vírus HIV para infectar células humanas.
Algumas características, contudo, chamam atenção nesse caso. Trata-se de um paciente mais idoso, com maior tempo conhecido de infecção pelo HIV e que recebeu um regime de condicionamento para o transplante com menor capacidade imunossupressora.
Ainda é necessário manter seu acompanhamento para avaliar se a supressão viral se mantém, mas os dados até aqui são animadores e podem ajudar a responder qual a melhor estratégia para alcançar a cura do HIV.
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