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Ginecologia e Obstetrícia29 agosto 2024

Parto vaginal após cesárea

A principal complicação associada ao trabalho de parto após cesárea é a ruptura uterina, que pode levar a um quadro hemorrágico grave.

A frase “Uma vez cesárea, sempre cesárea”, pronunciada por Cragin em 1916, quando a incisão uterina na cesárea era quase universalmente vertical, levou a práticas radicais na obstetrícia americana e em outros países sob sua influência em relação a pacientes com cesárea prévia. Apenas em 1926, Kerr publicou sua recomendação para a incisão segmentar, técnica que ele começou a utilizar em 1923. E a partir de então, começa-se a entender a viabilidade de partos vaginais após cesárea. 

O parto vaginal após cesárea é um tema relevante para a saúde brasileira, considerando nossos altos índices de cesárea. Para a gestante/parturiente, as melhores evidências científicas sugerem permitir que a mulher entre em trabalho de parto espontaneamente como a melhor conduta para mulheres com cesárea anterior. O risco de uma segunda cesárea é maior do que o risco associado ao trabalho de parto espontâneo. As evidências também mostram desfechos positivos para o neonato. 

A principal complicação associada ao trabalho de parto após cesárea é a ruptura uterina, que pode levar a um quadro hemorrágico grave, prejudicando a mãe e o neonato. No entanto, a probabilidade de ruptura uterina em uma gestante com cesárea anterior é em torno de 0,5% a 1%. 

Leia mais: Hipertensão crônica na gravidez (HAC): qual o alvo da pressão arterial? 

parto vaginal pós cesárea

Ruptura Uterina 

A ruptura uterina (RU) é uma emergência obstétrica com alto risco de morbidade e mortalidade para a mãe e, principalmente, para o feto, devido a hemorragia materna maciça, encefalopatia isquêmica hipóxica do recém-nascido (RN) e morte perinatal. Apesar da ausência de uma definição consistente na literatura, a RU pode ser descrita como deiscência ou ruptura da parede do útero, precedida por eventos sintomáticos ou clinicamente significativos. 

Devido à mudança nas práticas obstétricas e à liberalização das práticas de cesárea, a incidência da ruptura da cicatriz está aumentando e deve continuar a aumentar. Portanto, gestantes com cesárea anterior devem ser orientadas após uma avaliação adequada do risco. 

Recomendações 

A maioria das sociedades e guidelines nacionais e internacionais estão em concordância com a possibilidade do parto vaginal pós cesárea anterior. Segue abaixo, duas dessas principais recomendações. 

A Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS) recomenda a realização de parto vaginal após cesáreas, inclusive após duas cesáreas anteriores. A recomendação para mulheres com três ou mais cesáreas anteriores é a realização de uma nova cesárea. Os principais pontos dessa recomendação são: 

  • Mulheres com cesarianas prévias devem ser informadas sobre o aumento do risco de ruptura uterina com o parto vaginal após cesárea prévia, embora o risco inicial seja baixo. 
  • A conduta em relação ao modo de nascimento para mulheres com duas cesáreas prévias deve ser individualizada, considerando os riscos e benefícios de uma nova cesárea versus o parto vaginal, incluindo o risco de ruptura uterina e cesárea adicional não planejada, além das preferências da mulher, com consentimento livre e esclarecido. 
  • A cesárea é recomendada para mulheres com três ou mais cesáreas prévias. O parto vaginal não é recomendado para mulheres com cicatriz uterina longitudinal de cesárea anterior. 
  • O uso de misoprostol para indução do parto em mulheres com cicatriz de cesárea prévia não é recomendado. 

Veja também: Ácido tranexâmico versus ocitocina na profilaxia do sangramento pós-parto

Em 2004, o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG) publicou um boletim prático com recomendações mais completas, atualizado pela última vez em 2019. Resumo das Recomendações e Conclusões: 

  • Mulheres com uma cesárea anterior com incisão transversal baixa devem ser avaliadas e orientadas sobre Tentativa de Trabalho de Parto Após Cesárea (TOLAC – Trial of Labor After Cesarean). 
  • Misoprostol não deve ser usado para maturação cervical ou indução em pacientes a termo com cesárea ou cirurgia uterina maior anterior. 
  • A analgesia epidural pode ser utilizada durante TOLAC. 
  • Mulheres com duas cesáreas anteriores com incisão transversal baixa podem ser candidatas para TOLAC, considerando outros fatores que influenciam o sucesso do Parto Vaginal Após Cesárea (VBAC – Vaginal Birth After Cesarean). 
  • A indução do trabalho de parto é uma opção durante TOLAC. 
  • Monitoramento contínuo da frequência cardíaca fetal durante TOLAC é recomendado. 

Resumo e mensagem prática 

Diante da revisão na literatura e orientações das principais sociedades, entendemos que é possível e deve ser encorajado o Parto Vaginal Após Cesárea, sempre alertando a paciente sobre o risco de ruptura uterina. Caso seja necessário a indução do trabalho de parto, essa não deve ser feita com misoprostol e sim com ocitocina ou sonda de Foley. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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Referências bibliográficas

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