Uma das principais causas de morbimortalidade materna e fetal no mundo é a pré-eclâmpsia. Há décadas estamos estudando a maneira adequada de prestar assistência as pacientes que desenvolvem essa patologia durante a gestação. Mas na última década, o que mais tem sido debatido e estudado é a forma de prevenção da pré-eclâmpsia. Afinal, por que agir somente depois da patologia instalada? Aumentando a chance desse bebê ir para unidade de terapia intensiva neonatal ou de desfecho desfavorável para mãe ou bebê.
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Ácido acetilsalicílico contra a pré-eclâmpsia
Em 2012 foi publicado um estudo feito pela Fetal Medicine Foundation e coordenado pelo Prof. Dr. Kypros Nicolaides que associa o uso de ASS antes de 16 semanas de gestação em pacientes com alto risco de pré-eclâmpsia e a diminuição do risco de desenvolver pré-eclampsia grave e precoce. Para saber se a paciente tinha risco de desenvolver pré-eclâmpsia, além de utilizar fatores de risco através de uma boa anamnese e exame físico, o Prof. Dr. Kypros Nicolaides utilizou o índice de pulsatilidade das artérias uterinas realizado no ultrassom morfológico de primeiro trimestre. Todos os dados adquiridos eram adicionados a uma calculadora de risco desenvolvida pelos pesquisadores. Essa calculadora ainda é utilizada e pode ser acessada gratuitamente através do site da instituição. Eles obtiveram sucesso, e identificaram que o uso de ASS 150 mg após o jantar nas gestantes com alto riso de desenvolver pré-eclâmpsia diminui em 60% a chance de o evento ocorrer, se iniciado antes de 16 semanas.
Estudo recente
Em 2020 foi publicado outra revisão sistemática feito pelo Prof. Dr. Kypros Nicolaides, na qual é mostrada a importância do uso do ASS. Mas o mais interessante é a sugestão de usar ASS 150 mg após o jantar para todas as gestantes, independentemente do risco. Assim, diminuiríamos a chance de pré-eclâmpsia, restrição intrauterina e parto pré-termo com um medicamento barato e de fácil acesso. Partindo do pressuposto que para o Sistema Único de Saúde é mais fácil e barato fornecer a medicação do que a cesárea.
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Para finalizar, gostaria de chamar a atenção de vocês, meus colegas, para a solicitação de ultrassonografia morfológica de primeiro trimestre, para realizar até 13 semanas e seis dias e a prescrição de ASS quando o cálculo de risco mostrar a necessidade. E vamos ficar atentos aos próximos artigos publicados sobre esse assunto para saber a necessidade de prescrever ASS para as pacientes de baixo risco, também. Contem comigo para resumir essa atualização quando sair. Até mais!
Referências bibliográficas:
- Rolnik DL, Nicolaides KH, Poon LC. Prevention of preeclampsia with aspirin. Am J Obstet Gynecol. 2020 Aug 21:S0002-9378(20)30873-5. doi: 10.1016/j.ajog.2020.08.045.
- Roberge S, Giguère Y, Villa P, Nicolaides K, Vainio M, Forest JC, von Dadelszen P, Vaiman D, Tapp S, Bujold E. Early administration of low-dose aspirin for the prevention of severe and mild preeclampsia: a systematic review and meta-analysis. Am J Perinatol. 2012 Aug;29(7):551-6. doi: 10.1055/s-0032-1310527. Epub 2012 Apr 11. Erratum in: Am J Perinatol. 2014 Jun;31(6):e3. von Dadelzen, Peter [corrected to von Dadelszen, Peter].
- Mather AR, Dom AM, Thorburg LL. Low-dose aspirin in pregnancy: who? when? how much? and why? Curr Opin Obstet Gynecol. 2021 Apr 1;33(2):65-71. doi: 10.1097/GCO.0000000000000694.
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