Idade gestacional ideal para resolução da gestação na hipertensão arterial crônica
Estudo publicado recentemente no Obstetrics & Gynecology teve como objetivo determinar a idade gestacional ideal para a realização do parto ou resolução da gestação em gestantes com hipertensão arterial crônica, com o intuito de aprimorar os desfechos perinatais.
Metodologia
Foi conduzida uma análise secundária do ensaio clínico randomizado CHAP (Chronic Hypertension in Pregnancy), que avaliou o tratamento da hipertensão crônica com diferentes metas de pressão arterial. A análise incluiu gestantes com gestações únicas e a termo (≥ 37 semanas), excluindo aquelas com anomalias fetais ou diagnóstico de pré-eclâmpsia antes de 37 semanas.
O desfecho primário materno composto englobou morbidade grave (como insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, encefalopatia, infarto do miocárdio, edema pulmonar, internação em UTI, intubação e insuficiência renal), pré-eclâmpsia com sinais de gravidade, hemorragia que exigiu transfusão de sangue e descolamento prematuro da placenta. O desfecho primário neonatal composto incluiu morte fetal ou neonatal, necessidade de suporte respiratório além do oxigênio, escore Apgar < 3 aos 5 minutos, convulsões neonatais e suspeita de sepse. Desfechos secundários foram cesáreas, tempo de internação, admissão em UTI neonatal, síndrome do desconforto respiratório (SDR), taquipneia transitória do recém-nascido e hipoglicemia.
Leia mais: Eventos perinatais adversos e mudança de peso intergestacional materna
Resultados
Dos 2.408 participantes disponíveis na coorte do estudo CHAP, 1.417 participantes com hipertensão crônica leve a termo foram elegíveis para inclusão. Das participantes incluídas, 305 (21,5%) tinham um diagnóstico novo de hipertensão crônica na gravidez e 1.112 (78,5%) tinham hipertensão preexistente conhecida. Com 38 semanas de gestação, 961 participantes ainda estavam grávidas e puderam ser analisadas; esse número diminuiu para 460 no início de 39 semanas. No geral, 618 participantes (43,6%) planejaram partos durante o período analisado e 378 (26,7%) estavam tomando medicação anti-hipertensiva (230 tomando apenas labetalol, 133 tomando apenas nifedipina de liberação prolongada e 15 tomando ambos no parto).
Não foi observada associação significativa entre o parto planejado e o desfecho composto primário materno ou neonatal em qualquer semana gestacional quando comparado com a gestão expectante. No entanto, o parto planejado com 37 semanas foi associado a um aumento significativo na ocorrência de SDR (7,9% vs 3,0%, aOR 2,70; IC 95%, 1,40–5,22), e entre 37 e 38 semanas foi associado a hipoglicemia neonatal (19,4% vs 10,7%, aOR 1,97; IC 95%, 1,27–3,08 em 37 semanas; 14,4% vs 7,7%, aOR 1,82; IC 95%, 1,06–3,10 em 38 semanas).
Discussão
A hipertensão crônica é uma comorbidade prevalente na gravidez, afetando aproximadamente 2% das gestantes, e está associada a riscos elevados de progressão para pré-eclâmpsia e parto prematuro. O ACOG recomenda a indução do parto entre 37 e 39 semanas para gestantes com hipertensão crônica. A indução com 39 semanas demonstrou não aumentar o risco de desfechos neonatais adversos e pode reduzir a necessidade de cesárea e o desenvolvimento de distúrbios hipertensivos. Em contrapartida, a revisão Cochrane de 2017 evidenciou que a indução precoce pode estar associada a maiores taxas de admissão em UTI neonatal e SDR.
Neste estudo, a indução do parto com 37 semanas foi associada a uma maior incidência de SDR e hipoglicemia neonatal, corroborando a necessidade de uma abordagem cuidadosa na escolha do momento do parto. Embora a gestão expectante até 39 semanas tenha mostrado ser uma estratégia equilibrada, a decisão deve ser individualizada, levando em conta a estabilidade da gestante e os riscos potenciais.
Veja também: Hipertensão crônica na gravidez (HAC): qual o alvo da pressão arterial?
Conclusão
A indução do parto no período de termo precoce não resultou em uma redução dos desfechos adversos maternos quando comparada com a gestão expectante. Entretanto, foi associada a um aumento das complicações neonatais, como SDR e hipoglicemia. Portanto, para gestantes com hipertensão crônica leve, a decisão sobre a idade gestacional para o parto deve considerar os resultados tanto maternos quanto neonatais. A evidência sugere que a indução do parto com 39 semanas pode oferecer um equilíbrio adequado entre os desfechos maternos e neonatais para gestantes com hipertensão crônica leve. No entanto, mais estudos com ensaios clínicos randomizados são necessários para refinar as diretrizes clínicas e melhorar a tomada de decisão quanto ao momento ideal para a indução do parto.
Limitações do estudo
Entre as limitações, destaca-se a ausência de randomização para o tempo de parto e a potencial falta de precisão na classificação de partos planejados versus gestão expectante. Além disso, o tamanho reduzido das subpopulações pode limitar a detecção de desfechos raros, e o estudo não capturou informações detalhadas sobre o processo decisório entre o paciente e o clínico.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.