Há aumento do risco de demência para indivíduos sedentários?
Estudo investigou a associação entre sedentarismo e o risco de demência utilizando um algoritmo de inteligência artificial.
O sedentarismo é um fenômeno observado na sociedade moderna com grandes repercussões em termos de saúde pública. Esse comportamento já apresentou relação com doenças cardiometabólicas como também com mortalidade.
A definição de sedentarismo é direcionada para as atividades que são realizadas na posição deitada ou sentada e que não aumentam o dispêndio energético acima dos níveis de repouso, até 1,5 equivalentes metabólicos (METs). Há estimativa de que metade dos adultos nos Estados Unidos despendam mais de nove horas sentados diariamente.
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Nessa conjuntura, a associação com demência é incerta. Em 2023, a JAMA publica estudo que se propõe a investigar essa associação a partir do uso de algoritmo de inteligência artificial a partir de uma grande coorte de adultos da UK Biobank.
Métodos do estudo sobre risco de demência e sedentarismo
Foram utilizados dados a partir da coorte da UK Biobank, com dados coletados da linha de base dos participantes entre 2006 e 2010. A partir disso, foram recrutados indivíduos que participaram de outro subestudo da UK Biobank, que fora conduzido entre 2013-2015, em que estudaram 103,684 adultos com uso acelerômetro de três eixos (AX3) durante 24 horas ao dia por uma semana no punho dominante.
Os critérios de inclusão dessa pesquisa consistiam em: indivíduos que participaram do estudo com acelerômetro, presença de, pelo menos, três dias válidos de aferição de acelerômetro (registro acima de 16 horas/dia), idade acima de 60 anos e sem história de demência. Foram excluídos participantes com comportamentos extremamente sedentários (acima de 18 horas ao dia).
O comportamento sedentário dos participantes foi identificado através de algoritmo de inteligência artificial desenvolvido e validado para uso na UK Biobank a partir dos dados fornecidos pelo AX3. Foi analisado a taxa média de sedentarismo diário para ser inclusa na análise primária.
O desfecho primário estudado foi diagnóstico de demência nessa amostra a partir de registros de internação hospitalar ou de óbito.
Resultados
Um total de 49.841 adultos foram avaliados na amostra analítica final. A amostra apresentou média de idade de 67,1 anos, sendo 54,7% mulheres, com follow-up de acompanhamento em média de 6,72 anos. Na amostra, a incidência de demência ocorreu em 414 casos.
A partir do modelo proporcional de Cox ajustado, houve uma associação não linear entre o tempo despendido no comportamento sedentário e a incidência de demência. Considerando como ponto comparativo uma média de 9,27 horas de sedentarismo ao dia, o risco para demência a partir de um sedentarismo de 10 horas/dia foi de 1,08 (IC 95%, 1,04-1,12, p < 0,001); para àqueles com sedentarismo em torno de 12 horas/dia, um risco de 1,63 (IC 95% CI, 1,35-1,97, p < 0,001); e, para àqueles com 15 horas/dia, um risco de 3,21 (IC 95%, 2,05-5,04, p < 0,001).
A taxa ajustada de incidência de demência, a cada mil pessoas-ano, foi de 7,49 (IC 95%, 7,48-7,49) para 9,27 horas por dia de sedentarismo, de 8,06 (IC 95%, 7,76-8,36) para 10 horas por dia e de 12 (IC 95%, 10-14,36) para 12 horas por dia e, por fim, de 22,74 (IC 95%, 14,92-34,11) para 15 horas por dia.
Discussão sobre o estudo que avaliou o risco de demência
Nesse estudo, foi encontrada uma relação não linear entre o tempo médio de sedentarismo e a incidência de demência, com risco que aumentou após esse tempo de inatividade física ultrapassar 10 horas ao dia.
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O estudo apresentou algumas limitações. Trata-se de estudo observacional, em que a incidência de demência foi coletada por registros hospitalares e por declarações de óbito, sem dados sobre testes cognitivos formais que pudessem corroborar esse diagnóstico de forma mais precisa. Dessa forma, há um potencial para viés de aferição, apesar do número amostral e das diversas covariáveis incluídas nessa análise. Além disso, os participantes desse estudo foram coletados de uma outra pesquisa com uso de acelerômetro, em que nesse estudo o recrutamento não foi realizado de forma randomizada, podendo resultar em viés de seleção. Ainda assim, apesar desse potencial viés, vale constar que o tempo de sedentarismo da amostra foi similar ao tempo médio estimado na população norte-americana.
Mensagem final
Foi encontrada associação de tempo de sedentarismo com incidência de demência nesse estudo observacional, ainda que pesquisas futuras sejam necessárias para determinar se essa associação é causal.
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