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Gastroenterologia19 junho 2023

Segurança x acurácia no uso de exames de emergência sem contraste

O estudo apresentado na revista JAMA Surgery buscou avaliar a acurácia de exames sem uso de contraste.

Por Felipe Victer

Para os pacientes que procuram a emergência por dor abdominal, a tomografia computadorizada é o exame com melhor acurácia. Assim, na população não gestante, não se tem muita dúvida que a TC é o exame de escolha. No entanto, ainda existe alguma discussão acerca do uso de contraste venoso nos exames.

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Se, por um lado, o contraste pode auxiliar na elucidação diagnóstica, por outro pode trazer comodidades associadas à hipersensibilidade ou piora de uma função renal limítrofe. Associado a isso houve um racionamento do uso por questões de baixo estoque no mercado mundial.

Segurança x acurácia no uso de exames de emergência sem contraste

Métodos do estudo sobre exames sem contraste

Estudo retrospectivo utilizou tomografias computadorizadas realizadas em uma única instituição, que foram reanalisadas, porém omitindo a fase do contraste entre os médicos participantes. As imagens foram analisadas em três centros quaternários de ensino, tanto por médicos especialistas quanto residentes de radiologia.  Foi definido como desfecho primário a acurácia do diagnóstico realizado sem o uso de contraste, assim como os achados incidentais não relacionados diretamente ao diagnóstico primário como desfecho secundário.

Resultados

Ao todo foram analisados 201 exames, sendo 108 mulheres, e idade média de 50,1 anos. O IMC médio de 25. A maioria dos pedidos não possuíam localização exata da dor, apenas a referência de dor abdominal (103 de 201 exames); 5% dos pacientes, possuíam uma cirurgia abdominal prévia nos últimos 30 dias.

A análise das tomografias sem contraste apresentou uma acurácia 30% menor que a tomografia com contraste, nos diferentes níveis de profissionais analisando, com um melhor rendimento dos especialistas 85% a 90%, quando comparado aos residentes 76% a 79%.

Na regressão multivariada, a idade e o gênero não influenciam a acurácia diagnóstica, apenas os idosos apresentaram uma discreta redução de acurácia.

Discussão

A tomografia é o exame mais utilizado na emergência abdominal, e o uso do meio de contraste pode não ser utilizado seja temor a complicações, ou por problemas logísticos como o racionamento. A não utilização do meio de contraste reduz substancialmente o desfecho do diagnóstico primário em torno de trinta 30%, tanto entre os especialistas, quanto entre os residentes. Assim como igual redução nas acurácias dos diagnósticos incidentais.

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A não utilização do contraste pode gerar falsos positivos ou falso negativos, a depender da patologia examinada como hemoperitônio, tumores, infecções e isquemias, não sendo uma questão apenas de ser mais liberal com os achados radiológicos.

O uso e risco benefício do meio de contraste, em uma pessoa com função renal normal é perto de zero, assim como reações prévias leves ao contraste. No entanto aqueles com reações adversas severas e/ou com taxa de filtração glomerular menor que 30 mL/min por 1,73 m², o uso do meio de contraste pode não ser inócuo.

Conclusão e mensagem prática sobre o uso de contraste nos exames

Paciente sem histórico de alergia e com boa taxa de filtração glomerular a chance de complicação por um diagnóstico errôneo, devido a queda de 30% da acurácia, é maior que as complicações inerentes ao uso do meio de contraste. Assim, não há motivos para temer o uso do contraste nessa população.

Porém, aqueles cujo uso do meio de contraste pode ser danoso, a equipe de emergência deve ponderar com a equipe de radiologia o quanto o uso do contraste irá agregar na definição diagnóstica, especialmente após a realização da fase não contratada da TC. Quando fundamental, e podendo acarretar mudanças de condutas, a tendência é realizar a infusão do contraste.

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Referências bibliográficas

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