Redução de custos relacionada ao diagnóstico precoce da artrite reumatoide
A artrite reumatoide (AR) é uma artropatia inflamatória crônica que pode levar a consequências significativas para as articulações (erosões e deformidades potencialmente graves). O diagnóstico precoce e o tratamento agressivo (com base no treat-to-target) é recomendado para induzir um curso mais brando da doença.
Nesse sentido, estudos demonstram que o início do tratamento até 12 semanas após o início dos sintomas está associado a um menor dano estrutural e, consequentemente, se correlaciona com a manutenção de capacidade funcional e com a maior probabilidade de atingir a remissão sustentada da doença.
Apesar da lógica apresentada, o custo dos medicamentos é uma preocupação atual, visto que os DMARDs biológicos e sintéticos alvo específicos são medicamentos de alto custo. Estima-se que 80% dos custos relacionados à saúde dos pacientes com AR derivam do tratamento farmacológico empregado.
Por outro lado, como exposto previamente, o diagnóstico precoce e o tratamento agressivo se associam a uma maior probabilidade de o paciente se manter economicamente ativo, o que poderia contrabalançar o custo dos medicamentos. Além disso, como o tratamento precoce leva a uma maior probabilidade de remissão sustentada, a estratégia mais agressiva inicialmente poderia se associar com menores custos no longo prazo, com menor uso de medicamentos de alto custo. No entanto, essa avaliação do impacto econômico da intervenção precoce não foi feita de maneira adequada.
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Novo estudo
Na tentativa de contribuir para o melhor entendimento desse tema, van Mulligen et al. desenvolveram um estudo cujo objetivo foi comparar os custos de tratamento relacionados à AR com base no tempo de diagnóstico após o início dos sintomas (<12 semanas vs >12 semanas).
Métodos
O estudo utilizou dados do Leiden Early Arthritis Clinic, uma coorte de incepção de artrite que incluiu pacientes com sintomas há menos de 2 anos. Os pacientes que preencheram os critérios ACR 1987 ou ACR/EULAR 2010 para AR e que iniciaram DMARD foram consecutivamente incluídos. O seguimento foi realizado por 5 anos.
Imediatamente após a entrada na coorte supracitada, todos os pacientes foram tratados de acordo com as recomendações nacionais e internacionais. Em caso da necessidade de biológico, regulamentações locais foram aplicadas para a seleção do biológico.
A duração dos sintomas foi definida como a diferença entre a data do primeiro sintoma até a data da primeira avaliação. O tratamento precoce foi definido como início de DMARD até 12 semanas do início dos sintomas.
Os pacientes foram classificados de acordo com a positividade para os autoanticorpos (FR e ACPA – soropositivos) para análise de subgrupos.
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Resultados
Foram incluídos 431 pacientes (266 soropositivos e 165 soronegativos). A média de duração dos sintomas nos pacientes precoces foi de cerca de 6 semanas, enquanto que nos pacientes tardios foi de 27-28 semanas. Os pacientes com diagnóstico precoce apresentavam mais elementos de inflamação (maior DAS28, maiores componentes do DAS28 e mais rigidez matinal), tanto para pacientes soropositivos quanto soronegativos.
Após 5 anos de seguimento, 24 pacientes morreram e 13 mudaram de hospital. A distribuição das perdas foi semelhante entre os soropositivos e soronegativos.
Com relação à análise dos custos durante o período de seguimento, que foi o desfecho principal desse estudo, os autores encontraram que para os pacientes soronegativos, os custos no grupo com diagnóstico tardio foram 316% maiores do que no grupo precoce (4856 euros vs. 1159 euros). Para os pacientes soropositivos, os custos do grupo tardio foram 19% maiores que do grupo precoce (9418 euros vs. 7934 euros). Quando os autores analisaram os custos relacionados ao uso de biológicos nos pacientes soropositivos, os custos foram 46% maiores nos pacientes do grupo tardio.
Comentários
Esse estudo demonstra, pela primeira vez, que o diagnóstico tardio e a consequente inércia terapêutica se associam com custos aumentados no tratamento de pacientes com artrite reumatoide. Esses dados foram consistentes tanto nos grupos soropositivos quanto soronegativos.
Sendo assim, adiciona-se mais um elemento teórico que reforça a necessidade de adoção de estratégias de diagnóstico e tratamento precoce da AR, visando o atingimento dos alvos terapêuticos estabelecidos pela estratégia T2T.
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