Eficácia dos biológicos em pacientes com AR e doença renal crônica
A presença de doença renal crônica (DRC) acrescenta complexidade no manejo da artrite reumatoide (AR). Isso possui particular impacto no metotrexato, que é a medicação de primeira linha no tratamento da AR praticamente em todas as recomendações mundiais. Seu uso é bastante restrito nos pacientes com clearance de creatinina <30 mL/min/1,73 m2 de superfície corporal. Nesse contexto, relatos e séries de casos sugerem que os DMARDs biológicos poderiam representar uma importante ferramenta no manejo desses pacientes. Apesar disso, a eficácia e segurança dos biológicos não foi amplamente investigada nesse cenário, especialmente nos pacientes em hemodiálise.
Yoshimura et al. conduziram um estudo cujo objetivo foi avaliar a eficácia e segurança do uso de biológicos de primeira linha no tratamento da AR em concomitância com DRC, incluindo pacientes em programas de hemodiálise.
Saiba mais: Redução de custos relacionada ao diagnóstico precoce da artrite reumatoide
Métodos
Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva. O estudo foi conduzido em duas unidades do Hospital Toranomon, no Japão, e incluiu pacientes com AR que preenchiam os critérios ACR/EULAR 2010. Como uma das medidas de eficácia e segurança foi a taxa de retenção, apenas o primeiro biológico indicado foi analisado. Os critérios de exclusão foram: dados faltantes relacionados à idade, sexo, datas de início e término dos medicamentos ou razão de descontinuação dos medicamentos. As consultas eram realizadas a cada 1-3 meses. A atividade de doença foi avaliada através do DAS28 e da dose de prednisolona foi avaliada nos primeiros 6 meses de uso do biológico. Para os pacientes com ClCr <60 mL/min/1,73 m2, as causas da DRC também foram avaliadas.
Resultados
Dos 437 pacientes inicialmente analisados, 12 foram excluídos por falta de informações. Desse modo, 425 pacientes foram elegíveis para o estudo. O tempo médio de observação dos pacientes foi de 40,8 semanas, e nenhum paciente morreu durante esse período.
A distribuição conforme estágios da DRC foi a seguinte: 165 (38,8%) G1, 140 (32,9%) G2, 36 (8,5%) G3a, 14 (3,3%) G3b, 27 (6,4%) G4 e 43 (10,1%) G5. As etiologias mais frequentes foram nefrosclerose e diabetes.
A primeira linha de tratamento biológico foi anti-TNF em 347 (81,7% – 112 infliximabe, 98 etanercepte, 65 certolizumabe, 45 golimumabe e 27 adalimumabe). Anti-IL-6 e abatacepte foram prescritos para 36 (8,5% – 34 tocilizumabe e 2 sarilumabe) e 42 (9,9%), respectivamente.
As taxas de retenção dos medicamentos em 36 meses de acordo com os estratos de ClCr (≥60, 30-60 e <30, respectivamente) foram as seguintes:
- Todos os biológicos: 45,2%, 32,0% e 41,4%;
- Anti-TNF: 45,3%, 28,2%, 34,0%;
- Anti-IL-6: 47,4%, 66,7%, 71,4%;
- Abatacepte: 50,0%; 31,3% e 33,3%.
Veja também: Adição da ultrassonografia na estratégia treat-to-target para artrite reumatoide
Os autores encontraram que, mesmo para grupos com pior taxa de filtração glomerular estimada, as taxas de retenções foram relativamente mantidas. No entanto, anti-TNFs apresentaram uma menor retenção nos pacientes com ClCr <30. Os anti-IL-6 apresentaram as maiores taxas de retenção e menores taxas de descontinuação por ineficácia (RR 0,11, IC95% 0,02-0,85, p=0,03). Mesmo nos pacientes em HD, as taxas de retenção foram semelhantes (RR 1,03, IC95% 0,5-2,11, p=0,93).
A atividade de doença e as doses de prednisolona foram reduzidas em todos os grupos analisados.
Comentários
Os autores concluíram que os dados apresentados reforçam os biológicos como tratamentos eficazes e seguros nos pacientes com DRC. Esses dados foram consistentes mesmo para pacientes em hemodiálise; nesse subgrupo, o tocilizumabe apresentou as maiores taxas de retenção e taxas de descontinuação por ineficácia significativamente menores.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.