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Reumatologia3 julho 2024

Existe risco de reativação de doenças reumáticas após vacinação contra covid-19? 

Estudo avaliou a frequência e riscos relacionados aos flares das doenças reumáticas imunomediadas em pacientes que receberam a vacina 
Por Gustavo Balbi

Após a pandemia da covid-19, a vacinação contra a doença passou a fazer parte do calendário vacinal dos brasileiros. Apesar disso, ainda existe uma hesitação vacinal significativa, que necessita ser combatida. Um dos grandes motivos para hesitação vacinal nos pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) é o medo de reativação da doença. Além disso, diversas organizações/sociedades orientam a suspensão de DMARDs sintéticos convencionais e alvo-específicos pelo período de 1-2 semanas após a vacinação, o que poderia contribuir para esse aumento do risco de reativações relacionadas à vacina. 

Para endereçar essas situações, a EULAR criou um registro chamado COVAX, no qual foram incluídos pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) e vacinação contra a covid-19, com o objetivo de avaliar sua efetividade e segurança. 

Recentemente, Farissogullari et al. conduziram uma análise desse registro com o objetivo de avaliar a frequência e fatores de risco relacionados aos flares das DRIM nos pacientes que receberam a vacina da covid-19. 

Existe risco de reativação de doenças reumáticas após vacinação contra covid-19? 

Métodos

Trata-se de um estudo observacional de registro (EULAR COVAX), conduzido de fevereiro de 2021 a outubro de 2022. Foram registradas variáveis demográficas, tipo de vacina, diagnóstico (por doença e por grupos: artropatias inflamatórias, doenças difusas do tecido conjuntivo, vasculites e outras DRIM), atividade de doença (incluindo manifestações) e tratamento (para múltiplos tratamentos exceto corticoide, foi criada uma hierarquia baseada em expertise clínica para classificação — imunossupressores: azatioprina/6-mercaptopurina, ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato mofetil e tacrolimo > metotrexato > leflunomida > sulfassalazina > antimaláricos; pacientes com DMARDS biológicos ou sintéticos alvo-específico foram colocados apenas dentro desses grupos).  

Resultados

Dos 10.569 pacientes no registro, 7.336 foram incluídos nesse estudo. A maioria era do sexo feminino (68%), com idade média de 58,3±15,5 anos. Os grupos de doenças mais frequentes foram artropatias inflamatórias (71%), seguidos de doenças do tecido conjuntivo (18%), vasculites (9,4%) e outras (1,7%). Em termos de diagnóstico, a artrite reumatoide foi a mais frequente (36,1%), seguida de espondiloartrites axiais (16,1%), artrite psoriásica (12,2%), lúpus eritematoso sistêmico (7,4%) e polimialgia reumática (3,7%). 

Leia também: Artropatia inflamatória nos pacientes tratados com inibidores de checkpoint  

Com relação à atividade de doença, 39,7% estavam em remissão, 27,4% com baixa atividade e 15,1% com alta atividade; 17,8% dos casos não tinham registro. Em termos de tratamento, 58,2% estavam com DMARD sintético convencional, 49% estavam com DMARD biológico ou sintético alvo-específico e 35,2% estavam com imunossupressores; 7% estavam sem DMARD ou imunossupressores. Os medicamentos individuais mais utilizados foram metotrexato (34,1%), corticoides (30,3%) e anti-TNF (30,3%). 

A maior parte dos pacientes recebeu duas doses da vacina (82,3%). Das vacinas utilizadas, 74,1% eram Pfizer/BioNTech, 13,2% eram AstraZeneca e 9,4% Moderna. 

A taxa de flare foi de 3,7% (N=272), sendo que 121 (44,5%) necessitaram de introdução de novo medicamento ou aumento da dose de medicamentos prévios. Os fatores de risco associadas a flares foram sexo feminino (OR 1,4; IC95% 1,05-1,87), estado de atividade no momento da vacinação (baixa atividade OR 1,45; IC 95% 1,08-1,94; moderada/alta atividade OR 1,37; IC 95% 0,97-1,95; vs. remissão) e redução/cessação de medicamento temporariamente antes ou após a vacinação (OR 4,76; IC 95% 3,44-6,58). Outros fatores foram protetores para a ocorrência de flare: maior idade (OR 0,90; IC 95% 0,83-0,98), tipo de vacina (não-Pfizer OR 0,10; IC 95% 0,01-0,74; vs. Pfizer) e uso de metotrexato (OR 0,57; IC 95% 0,37-0,90 vs. sem DMARD), anti-TNF (OR 0,55; IC 95% 0,36-0,85 vs. sem DMARD) e rituximabe (OR 0,27; IC 95% 0,11-0,66 vs. sem DMARD). 

Na análise multivariada utilizando modificação no tratamento (acréscimo de medicamento ou aumento de dose) como variável dependente, apenas as seguintes associações persistiram: doença ativa (baixa atividade OR 1,47, IC 95% 0,94-2.29; moderada/alta atividade OR 3,08, IC 95% 1,91-4,97; vs. remissão), suspensão ou redução de DMARD antes ou após a vacinação (OR 2,24, IC 95% 1,33-3,78 vs. sem DMARD) e uso de metotrexato (OR 0,48, IC 95% 0,26-0,89) ou rituximabe (OR 0,10, IC 95% 0,01-0,77 vs. sem DMARD). 

Comentários: doenças reumáticas e vacinação

As taxas de reativação após a vacinação contra a covid-19 foram baixas. Dentre os fatores de risco para essa reativação, foram identificados uma maior atividade de doença no momento da vacinação e cessação/redução de DMARDs antes ou após a vacinação. Ao contrário, manter o MTX ou o RTX se associaram com menor risco de reativação (porém com potencial impacto negativo na resposta vacinal). 

Esses dados são importantes para informar os médicos e profissionais da saúde sobre como orientar melhor os pacientes com DRIM frente à necessidade de vacinação contra a covid-19. 

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Referências bibliográficas

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