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Endocrinologia8 setembro 2025

Agonistas de GLP-1 na redução de peso e na saúde cardiovascular em obesos

Revisão narrativa abordou o manejo da obesidade e risco cardiovascular com foco em estilo de vida, cirurgia e terapia farmacológica com agonistas de GLP-1

A obesidade anda junto de diabetes, doença cardiovascular, dislipidemia, hipertensão e diversos cânceres. Segundo o artigo, 41% das mortes relacionadas ao IMC se devem a doenças cardiovasculares. 

A diretriz é conhecida: perder peso ajuda na prevenção. O problema é manter. Dietas hipocalóricas emagrecem no começo; depois, muitos recuperam o que perderam (o clássico efeito sanfona). Cirurgia bariátrica funciona, mas fica para obesidade grave. 

Aqui entram os agonistas do receptor de GLP-1. São uma opção farmacológica promissora. A revisão do Journal of the American Heart Association discute ensaios clínicos sobre perda de peso e desfechos cardiovasculares, além de segurança e uso prático. 

Metodologia da revisão 

É uma revisão narrativa sobre manejo da obesidade e risco cardiovascular: estilo de vida, cirurgia e terapia farmacológica, com foco no desafio da manutenção. 

Inclui ensaios de fase 3 com agonistas do GLP-1: a série STEP (semaglutida) e o SURMOUNT (tirzepatida), voltados a perda/manutenção de peso e melhora cardiometabólica. 

Os ensaios de desfechos cardiovasculares em DM2 aparecem em tabela comparativa (ELIXA, LEADER, SUSTAIN-6, PIONEER-6, EXSCEL, Harmony Outcomes, REWIND, AMPLITUDE-O). 

Resultados principais 

Semaglutida 2,4 mg (aplicação semanal) nos STEP 1, 2 e 3 (68 semanas) e no STEP 4 (run-in de 20 semanas + 48 semanas de randomização): 

  • STEP 2 (obesidade com DM2): 2,4 mg (n=404) vs 1,0 mg (n=403) vs placebo (n=403).9,64% do peso com 2,4 mg; 6,99% com 1,0 mg; 3,42% com placebo. Caíram IMC, cintura e pressão; triglicerídeos −22% com 2,4 mg. 
  • STEP 3 (sobrepeso/obesidade sem DM2, + intervenção comportamental): 2,5 mg/semana (n=407) vs placebo (n=204). 16% de peso vs 5,7% no placebo, com quedas maiores de IMC e cintura. 
  • STEP 1 (obesidade sem DM2): −15,3 kg com 2,4 mg vs −2,6 kg com placebo; diferença −12,7 kg. IMC: −5,54 kg/m² vs −0,92 kg/m². 
  • STEP 4 (run-in 20 semanas com 2,5 mg/semana; N=902; depois 48 semanas): quem manteve semaglutida (n=535) sustentou a perda; quem migrou para placebo (n=268) recuperou boa parte do peso sinal claro de que interromper tende a reverter o ganho. 

O SURMOUNT-1 (duplo-cego, randomizado, controlado por placebo): tirzepatida 5 mg, 10 mg e 15 mg semanais versus placebo. 

A dose 15 mg levou a 23,6 kg em 72 semanas; no placebo, −2,4 kg. 

Desfechos cardiovasculares 

Em DM2 de alto risco, agonistas de GLP-1 reduzem MACE (eventos cardiovasculares maiores): 

  • LEADER (liraglutida): 13,0% vs 14,9%; HR 0,87. 
  • SUSTAIN-6 (semaglutida 0,5–1,0 mg): 6,6% vs 8,9%; HR 0,74; p<0,02. 
  • Harmony Outcomes, REWIND, AMPLITUDE-O, entre outros, também mostraram vantagem vs placebo. 

Veja mais: Tratamento da obesidade na insuficiência cardíaca: novas diretrizes do ACC

Segurança e efeitos adversos 

Gastrointestinais são os mais comuns (náusea, diarreia, vômito, constipação). Nos STEP, 81,3%95,8% relataram algo, em geral leve a moderado e transitório. 

Como mitigar?  

Começo com dose baixa e escalonamento gradual; evitar álcool e bebidas gaseificadas ajuda na náusea. 

Com tirzepatida, padrão semelhante (78,9%–81,8%). 

Um ponto prático: parou, engorda. Um ano após cessar, por exemplo, semaglutida 2,4 mg, participantes recuperaram ~2/3 do peso perdido. 

Discussão 

Esses agonistas fazem perder peso, e não pouco. IMC e cintura acompanham a queda. Muitas vezes, o efeito supera dieta e exercício isolados (útil para quem não mantém adesão). De quebra, melhoram pressão, lipídios, glicemia e reduzem eventos em DM2 portanto, benefício além do açúcar no sangue. 

Faz sentido que, para muitos, virem primeira linha. Não é bala de prata: custo e acesso pesam, sobretudo nas classes mais vulneráveis. 

No Brasil, convém seguir SBEM e ABESO: estilo de vida primeiro; medicação quando há comorbidades ou falha das medidas conservadoras. Outro recado da revisão: tratar obesidade como doença crônica e reduzir estigma isso muda a consulta. 

Conclusão e mensagem prática 

Potência terapêutica. Em 68 semanas, GLP-1 entregam −9% a −16% de peso e melhoram vários marcadores cardiovasculares. Em DM2 de alto risco, há cerca de −14% em MACE e −12% em mortalidade geral. Sem sinal claro de aumento de câncer ou hipoglicemia grave. 

Aplicação clínica. Bons candidatos: IMC ≥ 30 kg/m² ou ≥ 27 kg/m² com comorbidades, histórico de tentativas de estilo de vida e possibilidade de monitorar. O remédio anda junto de dieta e atividade física. Formulações orais e agonistas duais (GLP-1/GIP) podem melhorar aderência e ampliar acesso a comparação com as versões subcutâneas ainda gera debate. 

Em síntese: vale usar agonistas de GLP-1 para controle de peso e redução de risco cardiovascular em sobrepeso/obesidade, sobretudo com DM2. A soma de perda ponderal relevante, melhora da síndrome metabólica e perfil de segurança aceitável coloca essa classe no centro da abordagem multimodal da obesidade com um lembrete de vida real: aderência, custo e acesso decidem o desfecho. 

Autoria

Foto de Bruno Anello Mottini Horlle

Bruno Anello Mottini Horlle

Possui graduação em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (2019). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Medicina de Emergência, e Clinica Médica.

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