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Clínica Médica5 novembro 2024

Apareceu uma suspeita de mpox no plantão? Veja o que é importante saber

No plantão, é útil realizar a triagem para outras infecções sexualmente transmissíveis, como gonorreia, clamídia, sífilis e HIV a partir da suspeita de mpox
Por Leandro Lima

A infecção pelo Monkeypox virus do clado IIb, um ortopoxvírus zoonótico com DNA de cadeia dupla, foi identificada primeiramente em 1958, em uma colônia de macacos de laboratório. O primeiro caso humano foi descrito em 1970, na República Democrática do Congo, e tornou-se uma preocupação mundial emergente de saúde pública a partir de 2022, quando se disseminou rapidamente por mais de 100 países.  

A transmissão se dá primariamente por contato cutâneo direto, pele a pele, com destaque, no momento epidemiológico atual, para a contaminação durante a atividade sexual. Dessa forma, é sempre útil realizar a triagem para outras infecções sexualmente transmissíveis, como gonorreia, clamídia, sífilis e HIV. por ocasião da suspeita de MPox. Roedores arbóreos (esquilos) são o reservatório. 

A incubação mediana é de sete a dez dias, sendo que há registros de incubação de dois até 21 dias. As lesões cutâneas tipicamente são dolorosas. Há a possibilidade de proctite no intercurso receptivo anal, além de faringite, uretrite e conjuntivite. Geralmente o número de lesões é limitado, com mediana de dez. 

Saiba mais: Mpox: atualização e manejo das lesões cutâneas

mpox

Profilaxia 

Vacina: Vaccinia Ankara Modificada – Nordic®  (eficácia entre 66% e 86% – Jynneos) e Imvanex: duas doses, intervaladas em quatro semanas, é indicada para populações de alta incidência, como profissionais de risco, homossexuais ou exposição a múltiplos parceiros, além de poder ser utilizada pós-exposição, especialmente nos primeiros quatro dias.  

É recomendado o quarto isolado, a paramentação dos profissionais de saúde com capote, luvas, proteção ocular e máscara N95. As lesões são consideradas infectantes até a reepitelização (até quatro semanas, em média). 

Pródromo 

Febre e linfadenopatia, principalmente, além de mialgia, mal-estar e cefaleia, com duração média de um a cinco dias. 

Progressão 

Rash centrífugo em face, tronco, membros e genitais. Progressão em 4 estágios, que podem ser simultâneos, ao longo de duas a quatro semanas:  

  • Máculas (1-2 dias);  
  • Pápulas (1-2 dias); 
  • Vesículas (1-2 dias); 
  • Pústulas (5-7 dias);  
  • Crostas (7- 14 dias); 

Diagnóstico 

PCR de amostras provenientes de pelo menos 2 lesões cutâneas por meio de esfregaço vigoroso com um swab estéril sintético e transportado em frasco seco ou meio viral específico. 

  • Sífilis secundária (VDRL/FTA-ABS), cujas lesões geralmente são indolores; 
  • HSV genital com lesões dolorosas e semelhantes; 
  • Impetigo e celulite; 
  • Enterovírus, molusco contagioso, varicela e varicela zóster. 

Tratamento 

Cuidados com a pele e analgesia (dipirona, paracetamol, AINEs e, em casos mais intensos, gabapentinoides ou uso pontual de opioides). 

Laxativos podem amenizar os sintomas da proctite, bem como banhos de assento e lidocaína em gel tópica. Lidocaína viscosa pode amenizar a dor da faringite. 

Reservado para apresentações graves ou potencialmente graves: 

  • Tecovirimat (alvo na proteína p37 do envelope viral, freando a replicação); 
  • Cidofovir e Brincidofovir (inibem a atividade da DNA polimerase e a replicação viral);  
  • Imunoglobulina EV da Vaccínia (fornece imunidade protetora contra o MPXV) 
  • Trifluridina: agente tópico com potencial emprego na doença oftalmológica. 

A evolução geralmente é autolimitada, com recuperação completa em duas a quatro semanas e taxa de mortalidade inferior a 2%, havendo diferenças entre países ricos e pobres (mortalidade nos EUA < 0,2% e 4,6% em algumas regiões africanas).  

Lesões cutâneas 

As lesões cutâneas podem evoluir com cicatrizes estigmatizantes e, na região genital, podem levar a estenoses com impacto na qualidade e função sexual. As consequências oftalmológicas podem implicar em perda parcial da visão e até mesmo cegueira, sendo a avaliação oftalmológica essencial na fase aguda da doença. O acometimento retal pode cursar com perfurações, fístulas e estenoses, condições em que o suporte da coloproctologia pode ser importante. 

Entre os imunodeprimidos, como os portadores de SIDA com CD4 < 200 células/µL ou receptores de transplantes de órgãos sólidos, são esperados casos de maior gravidade, incluindo o risco de óbito.  

Nas formas graves podem ocorrer complicações como as lesões necrotizantes cutâneas com superinfecção bacteriana, pneumonia e encefalite. As alterações laboratoriais hepáticas ocorrem em mais de um terço dos casos hospitalizados. 

Veja também: Mpox: Mais de 1.000 casos no Brasil e 100.000 no mundo  

Conclusão e mensagem prática 

  • A infecção pelo mpox é transmitida principalmente por contato próximo cutâneo.  A evolução, geralmente, é autolimitada, com resolução em duas a quatro semanas. A imunossupressão, entretanto, é um importante fator de risco para as formas graves e potencialmente fatais. O tratamento geralmente é suportivo, mas os tratamentos antivirais específicos, amparados em evidência limitada, podem ser utilizados nas formas graves ou em imunossuprimidos.  

Autoria

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Leandro Lima

Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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Referências bibliográficas

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