Com uma prevalência estimada em cerca de 11% da população feminina, o lipedema é uma doença crônica na qual há deposição anormal de gordura nos membros inferiores, principalmente glúteos e pernas bilateralmente. Os sintomas mais relatados são edema, dor e sensibilidade ao toque. A prevalência dessa doença pode ser maior que a estimada, pois, não raro, é confundida com outras condições mais frequentes como linfedema e obesidade.
O reconhecimento dessa doença e o manejo adequado são importantes para que não seja realizado um tratamento errado e sem resultados, bem como evitar potenciais incapacidades físicas e psicológicas que o lipedema pode causar às pacientes.
Metodologia
Um artigo publicado por Forner-Cordero et al. foi baseado em uma extensa revisão da literatura que englobou diretrizes, ensaios clínicos e meta-análises sobre o tema lipedema. Foram analisados vários aspectos como epidemiologia, manifestações clínicas e impactos, métodos diagnósticos e tratamentos do lipedema.
Discussão
O lipedema acomete principalmente mulheres e pode se manifestar com inchaço dos membros inferiores, representado pelo acúmulo anormal de gordura nessa região, envolvendo glúteos, coxas e pernas, bilateralmente, poupando os pés.
Outros sintomas são dor, sensação de peso, fraqueza, limitações à deambulação e danos estéticos. Sintomas emocionais como irritabilidade e ansiedade são frequentes. Segundo Greene et al. o edema crônico dos membros inferiores tem implicações psicológicas, sociais e físicas significativas para a qualidade de vida dos pacientes.
Os mecanismos fisiopatológicos ainda são investigados e envolvem vários fatores, como alterações linfáticas, distúrbios eletrolíticos (elevado teor de sódio), alterações neurológicas e influência hormonal.
Uma das condições mais confundidas com o lipedema é o linfedema. Ao longo dos anos, estudos tentaram identificar fatores relacionados ao lipedema na tentativa de diferenciá-lo do linfedema. A presença de hematomas (espontâneos ou causados por pequenos traumas), desproporção entre as metades superior e inferior do corpo, envolvimento bilateral e simétrico e pés não afetados são muito sugestivos de lipedema.
Além disso, existe uma considerável associação do lipedema com obesidade, sendo observado piora do quadro com o aumento de peso. Alguns autores consideram a obesidade uma condição essencial para o lipedema e há estudos em que até 88% dos pacientes portadores de lipedema são obesos (IMC >30 kg/m²).
O tratamento do lipedema ainda é desafiador, sendo a cura muito difícil. O objetivo do tratamento é o alívio dos sintomas, retardar ou interromper a progressão da doença e prevenir complicações. Vários fatores estão envolvidos para se alcançar tais objetivos.
Entre as medidas no manejo do lipedema, são citados o desenvolvimento do autocuidado, prevenção da obesidade e atividade física. Drenagem linfática e compressão de membros podem ter algum benefício, mas não existem dados fortes na literatura que sustentem essa prática.
Várias outras modalidades podem ser instituídas no tratamento do lipedema, como terapia por ondas de choque, estimulação da mobilização lipídica elipólise. Cirurgias podem ter seu papel no manejo do lipedema seja na redução direta da gordura como lipoaspiração e cirurgia para redução de volume adiposo, seja no controle da obesidade, com a cirurgia bariátrica em pacientes com IMC acima de 40 kg/m² ou entre 35-40kg/m² associado a diabetes melittus tipo 2 ou hipertensão.
Conclusão
A real prevalência do lipedema pode estar subestimada devido ao subdiagnóstico tendo em vista a interposição de sintomas ou aparência com outras patologias. Atualmente vem sendo desenvolvidos questionários que podem auxiliar no diagnóstico do lipedema por meio de pontuações.
Manter um nível de suspeita em relação a essa doença, associada ao desenvolvimento de ferramentes adequadas podem levar ao diagnóstico correto do lipedema e a instituição de tratamento certo, com objetivo de reduzir o impacto físico e psicológico que essa doença causa nos pacientes.
Leia também em Cirurgia
Tratamento cirúrgico do câncer de mama localmente avançado – Portal Afya
O que saber sobre o manejo de pacientes com fratura de múltiplos arcos costais – Portal Afya
Avaliação de antibioticoprofilaxia para duodenopancreatectomias – Portal Afya
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.