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Cirurgia20 setembro 2021

Anemia ferropriva: suplementação de ferro reduz transfusões e tempo de internação 

Estudos analisam a influência da suplementação pré-operatória de ferro sobre resultados cirúrgicos de pacientes com deficiência ferropriva. 

A anemia é uma comorbidade com alta prevalência em pacientes cirúrgicos, estando relacionada ao aumento da morbimortalidade. Adicionalmente, sintomas como fadiga, disfunção cognitiva e fraqueza muscular, relacionados ao quadro clínico da anemia, afetam diretamente a recuperação pós-operatória, influenciando nos desfechos cirúrgicos. Como a deficiência de ferro (DF) é a principal causa de anemia, correspondendo a 50% dos casos, estudos vêm sendo realizados para esclarecer a influência da suplementação pré-operatória de ferro sobre os resultados cirúrgicos de pacientes com deficiência ferropriva

Leia também: Atualização 2021 do consenso de anemia ferropriva da SBP: como prevenir?

Anemia ferropriva: suplementação de ferro pré-operatória reduz transfusões e tempo de internação 

Estudo recente

Visando elucidar esse questionamento, um estudo prospectivo multicêntrico observacional foi realizado pelo Hospital Universitário de Frankfurt. Foram selecionados pacientes ≥ 18 anos submetidos a cirurgias de grande porte, sendo estratificados em grupos pela presença ou ausência de anemia ou DF e pela suplementação de ferro (SF). Anemia foi classificada em leve (Hb 11 – 11,9 g/dL e 11 – 12,9 g/dL em mulheres e homens, respectivamente), moderada (Hb 8 – 10,9 g/dL) e severa (Hb < 8 g/dL), enquanto deficiência de ferro foi definida como ferritina < 300 ng/mL e saturação de transferrina <20%. 

Dos 1.728 pacientes incluídos, 1.083 pacientes (62,7%) não eram anêmicos (SA), destes 66 tinham DF e 55 receberam SF. Em relação aos pacientes anêmicos (N = 645; 37,3%), DF foi diagnosticada em 234 e tratada em 184 pacientes. Os pacientes tratados receberam infusão de ferro endovenosa entre 0 e 7 dias (66,9%), 8 e 14 dias (15,5%) e ≥ 15 dias (17,6%) antes da cirurgia. 

Os desfechos primários avaliados foram valor de hemoglobina (14 dias e 21 dias antes e após a cirurgia, respectivamente), taxa de transfusão sanguínea, eventos adversos relacionados à infusão de ferro, mortalidade intra-hospitalar e permanência hospitalar. 

O valor médio de hemoglobina foi influenciado pela SF pré-operatória apenas em pacientes com anemia severa (elevação média de 0,6 g/dL). O tempo de suplementação pré-operatória também influenciou na elevação de hemoglobina (elevação média de 0,2 g/dL e 0,8 g/dL para 8 à 14 dias e ≥ 15 dias de SF). 

Mais de 80% dos pacientes tiveram alta hospitalar com anemia, porém os que receberam SF apresentaram, em média, 0,7 g/dL de hemoglobina superior aos demais grupos na alta hospitalar. 

Saiba mais: Devemos transfundir ou não pacientes com anemia e IAM?

Transfusão sanguínea (TS) foi inferior em pacientes com SF por mais de 7 dias, tendo sido inferior também no grupo de anêmicos que receberam SF (31,5%), quando comparado ao grupo anêmico sem SF (42,5% receberam TS). 

Nenhum paciente apresentou reação adversa grave e 1 paciente apresentou reação de hipersensibilidade, tratada adequadamente com anti-histamínico. 

A taxa de mortalidade intra-hospitalar foi reduzida no grupo com SF (3,8% vs 5,9% nos anêmicos com DF e SF e nos anêmicos, respectivamente). Em relação ao período de internação (PDI), os pacientes com anemia tiveram PDI significativamente maior (16,7± 0,7 dias, comparado a 11,8 ± 0,3 dias em pacientes sem anemia), tendo a SF reduzido 2,8 dias de internação (13,9 ± 0,3 dias vs 16,7 ± 0,7 dias em anêmicos com e sem suplementação, respectivamente).

Em conclusão, observou-se que o tratamento de DF em pacientes cirúrgicos com SF pré-operatória foi potencialmente benéfico, visto que foi capaz que reduzir taxa de transfusão intraoperatória naqueles suplementados por mais de 7 dias, além de elevar em média 0,7 g/dL de hemoglobina e reduzir taxa de mortalidade e PDI. 

O que levar para casa 

Compreender a cirurgia como um processo que requer planejamento pré-operatório adequado, com correção de deficiências nutricionais e compensação de comorbidades, nos permite operar com status metabólico otimizado, o que possibilitará melhor performance cirúrgica e pós-operatório com menor risco de complicações. O estudo apresentado trouxe uma aplicabilidade prática desse princípio em pacientes anêmicos submetidos a cirurgias. 

Referências bibliográficas:

  • Triphaus C, Judd L, Glaser P, Goehring M, Schmitt E, Westphal S, et al. Effectiveness of Preoperative Iron Supplementation in Major Surgical Patients With Iron Deficiency. Annals of Surgery. 2019;274(3):e212-e219. doi10.1097/SLA.0000000000003643

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