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Carreira25 junho 2024

Residência em Clínica Médica: expectativas e responsabilidades

Alguns pré-requisitos exigidos são mais relacionados à atitude profissional do que ao conhecimento intelectual do novo residente em CM
Por Leandro Lima

Os médicos que ingressam nos programas de residência em Clínica Médica, em sua maioria, formaram-se há pouquíssimo tempo.  

Naturalmente, o início da carreira profissional traz uma mistura de empolgação, atribuída ao desejo de colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante a faculdade e auferir os primeiros ganhos financeiros após uma longa jornada, contraposta com angústias referentes à falta de experiência e ao tão comum sentimento de inaptidão personalizada na síndrome do impostor 

Nesse sentido, reconhecemos que nem sempre a graduação médica é capaz de suprir o corpo discente com todas as ferramentas necessárias para a atuação no cenário hospitalar, que é o berço da atuação do residente de clínica médica, e as lacunas tornam-se especialmente nítidas durante os picos estressores das urgências e emergências.   

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Inscrições terminam nesta sexta-feira para seleção a programas de residência médica

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Limitações e pré-requisitos

Os profissionais que irão recebê-los, como os preceptores, residentes do 2° ano e toda a equipe multiprofissional hospitalar, estão cientes dessas limitações, e atentos para auxiliá-los nessas demandas características dos iniciantes.  

 Contudo, esperamos que os novos residentes tragam, sim, alguns pré-requisitos básicos, e eles têm mais relação com a atitude profissional do que com a intelectualidade.  

Destacamos aqui o imperativo da postura ética-profissional, cultivo das relações interpessoais, rigor acadêmico com afeição aos estudos, motivação pelo aprendizado teórico e prático, somados a boas doses de humildade, subordinação, respeito e capacidade de cumprimento e execução de tarefas.  

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Entrevista médica

Entre as habilidade médicas específicas, é prioritária a lapidação da arte da entrevista médica, sob a qual todo o raciocínio médico irá se estruturar, permitindo elucidar dados relevantes sobre o paciente e a sua moléstia, bem como a capacidade de sintetizar as informações pertinentes por meio de passagens de casos precisas.  

Em geral, diante dos novos casos sob os nossos cuidados, realizamos a identificação do paciente, incluindo nome completo, idade, leito, origem no sistema de saúde, procedência e naturalidade, profissão, estado civil, escolaridade e hábitos de vida de interesse médico.  

Na sequência, é importante identificar o contexto clínico em que o agravo atual se desenvolveu, enfatizando-se as principais comorbidades, devidamente estratificadas, bem como o histórico cirúrgico, internações pregressas, medicamentos em uso e eventuais alergias.  

Por fim, concentra-se no problema que motivou a internação, esmerando-se em precisão e objetividade.  

A partir desse ponto, o residente deve estar apto a desenvolver uma vinheta clínica, a partir da qual as hipóteses diagnósticas serão discutidas e o plano propedêutico e terapêutico serão traçados.  

Boa comunicação e escrita

 As tarefas dos novos médicos residentes, entretanto, não param por aí.  

 Estar na linha de frente do cuidado, com exposição intensa, exige o diálogo frequente com os pacientes e familiares e interação com as várias equipes multiprofissionais: técnicos de enfermagem, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, bem como as demais especialidades médicas.  

Dessa forma, a capacidade de comunicação deve ser constantemente aperfeiçoada, e serão colocadas à prova diante das inevitáveis más notícias, discordância de condutas entre equipes e incongruências entre as perspectivas do paciente e familiares e as da equipe de saúde assistente.  

Os bastidores da residência médica ainda contam com a necessidade de redação das evoluções médicas diárias, que precisam ser claras, objetivas e reflexos da verdade, respeitando-se uma ordem sistematizada, o bom português e evitando-se a inclusão de dados desconexos, frutos de cópias de evoluções antigas, tão frequentes e indesejáveis nos sistemas digitais. 

Os resultados de exames laboratoriais, imaginológicos e histopatológicos, entre outros, devem estar atualizados e prontamente acessíveis, de forma organizada e sumarizada.  

 

Atenção redobrada

A prescrição médica, um dos produtos mais preciosos da atividade iátrica, deve ser lida e relida, com conferência de cada item, checando se a indicação é real e se ainda se sustenta, bem como atenção à grafia dos medicamentos, sua posologia e via de administração.  

Não menos importante é revisar a lista de alergias medicamentosas, a realização de ajustes posológicos em conformidade com a taxa de filtração glomerular e função hepática, sem negligenciar as monitorizações laboratoriais e os eventos adversos esperados para cada medicação.   

A indicação de profilaxia de lesão aguda de mucosa gastroduodenal e tromboembolismo venoso, bem como as suas contraindicações, devem ser sempre debatidas.  

Ao término de cada prescrição, principalmente após a adição de novos itens, recomenda-se fortemente a pesquisa de interações medicamentosas por meio de aplicativos confiáveis, como o Whitebook.  

Entre as mulheres em idade fértil, sempre lembrar de interrogar sobre a possibilidade de gestação e ter um limiar baixo para a solicitação do beta-HCG, tendo em vista a possibilidade de exposições medicamentosas ou investigativas deletérias e constrangedoras.   

 

Proatividade e autocuidado

A atuação do residente de clínica médica deve ser pró-ativa, sugerindo diagnósticos e condutas, antecipando-se aos problemas e sempre visando a melhora do paciente e a sua desospitalização.  

As questões sociais devem ser vislumbradas com antecedência, averiguando-se as redes de apoio social e a necessidade de insumos específicos por ocasião da alta hospitalar.  

Em meio à função médico-científica, outras atribuições costumam dificultar a rotina do médico residente, e que exigem resiliência: burocracias demasiadas, problemas relacionados à tecnologia de informação, necessidade de agendamento de exames e transportes hospitalares, além da sobrecarga de plantões.  

Para o enfrentamento e adaptação desse período de intenso crescimento pessoal e profissional, são primordiais o autocuidado, com atenção à espiritualidade, saúde mental e bons hábitos de vida, como a prática de atividade física e alimentação regular.   

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