Doenças ocupacionais em clínicas e hospitais: quais são e como evitar
Mesmo com normas referentes à saúde e segurança no trabalho, o número de problemas relacionados ao estresse, postura e movimentos repetitivos demanda atenção do governo, dos empregadores e dos próprios trabalhadores.
Em 2023, houve um aumento de cerca de 26% nas concessões de benefícios por incapacidade temporária feita pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou seja, crescimento de mais de 400 mil pessoas.
Uma doença ocupacional é qualquer complicação de saúde, tanto física quanto psicológica, que tenha sido provocada pelo exercício do trabalho de um profissional.
Essa categoria é dividida entre doenças profissionais, causadas por movimentos repetitivos ou pela exposição a agentes nocivos à saúde, e doenças do trabalho, motivadas por uma tarefa específica e relacionadas ao ambiente, como ruídos excessivos e sobrecarga.
Como os profissionais que atuam na área da saúde estão em constante contato com pacientes doentes e, muitas vezes, possuem jornadas de trabalho exaustivas, é fundamental entender mais sobre o assunto.
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Doenças ocupacionais mais comuns em clínicas e hospitais
Os médicos estão sujeitos a uma variedade de doenças ocupacionais devido à natureza do seu trabalho em clínicas e hospitais. Algumas das principais doenças ocupacionais incluem:
Lesão por Esforço Repetitivo
A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) é provocada pela repetição de um movimento de trabalho por tempo prolongado.
Assim, o funcionário pode ter a sua capacidade produtiva reduzida, já que o problema pode atingir músculos, nervos, ligamentos e tendões.
Alguns exemplos são tendinites (especialmente de ombro, cotovelo e punho), bursite e síndrome do túnel do carpo.
Distúrbios osteomusculares
Os principais Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) incluem lombalgias — dores na região lombar — e, com mais frequência, as mialgias — dores musculares — em diversos locais do corpo.
Transtornos mentais/estresse
Segundo pesquisa da Closecare, plataforma digital de gestão de atestados médicos e de saúde corporativa, o afastamento com atestados médicos por doenças mentais vem aumentando nas organizações brasileiras.
Entre janeiro de 2020 e abril de 2022, foram avaliados 480 mil atestados médicos de 16 empresas que utilizam seu serviço. Os resultados apontam crescimento de 30% no afastamento de profissionais devido a transtornos mentais e comportamentais.
O estresse é uma parte significativa da prática médica, e os profissionais podem acabar sofrendo com distúrbios relacionados a isso, como ansiedade, depressão, síndrome de burnout e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Exposição a patógenos
Os profissionais de saúde estão sempre em contato com uma variedade de patógenos, incluindo vírus, bactérias e outros agentes infecciosos. Tal fator aumenta o risco de contrair doenças infecciosas, como gripe, tuberculose, hepatite e HIV, especialmente se não forem tomadas medidas adequadas de precaução e proteção.
Lesões por acidentes
Os médicos também podem estar sujeitos a lesões por acidentes no local de trabalho, como cortes, queimaduras, quedas e outros incidentes, especialmente durante procedimentos médicos.
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Como evitar doenças ocupacionais em clínicas e consultórios
Como define a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim um estado de bem-estar físico, mental e social.
Nesse sentido, a saúde nas clínicas e consultórios seria o conjunto de ações que uma companhia pode adotar para promover a qualidade de vida dos funcionários.
Com base nas três principais doenças apontadas pela Previdência, é possível pensar em algumas recomendações e dicas de como as instituições de saúde e colaboradores podem evitar que doenças laborais sejam um problema.
Mantenha atenção à ergonomia
Para prevenir diferentes tipos de LER, é fundamental fazer pausas para diminuir o tempo prolongado realizando movimentos repetitivos.
Além disso, a equipe deve cuidar do mobiliário disponível para uso. Como as doenças ocupacionais têm relação direta com a postura, ter atenção à ergonomia é ponto-chave para evitá-las.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma boa postura é fundamental para diminuir a fadiga muscular e visual.
Como médicos, profissionais de saúde e recepcionista trabalham com computadores, o ideal é manter as costas apoiadas pelo encosto da cadeira, com ângulos de 90º entre os antebraços e os braços e entre as pernas e o tronco.
Além disso, é preciso posicionar-se de 45 a 70 centímetros do monitor, formando um ângulo de 10 a 20 graus. A altura do computador pode ser regulada para ficar ligeiramente abaixo da altura dos olhos (15 a 20 graus) a fim de evitar a tensão no pescoço.
Os pés também devem estar apoiados no chão ou em suporte para possibilitar a circulação sanguínea para os membros inferiores e proporcionar maior conforto.
De modo geral, todos os membros do corpo devem estar confortáveis, em postura relaxada e ângulos retos.
Pratique atividade física
A OMS enfatiza que a prática de exercícios físicos traz benefícios para o bem-estar e para a qualidade de vida, garantindo, ainda, melhor desempenho no trabalho e na vida de maneira geral.
A falta de atividade física, por outro lado, é um dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis e tem efeito negativo na saúde mental e na qualidade de vida.
O incentivo à prática, portanto, ajuda a fortalecer a musculatura dos colaboradores, garantindo mais força e resistência ao corpo e aumentando a produtividade.
Implemente programas corporativos de saúde mental
Com o aumento do número de afastamentos do trabalho em decorrência de doenças mentais e, em janeiro de 2022, o reconhecimento da síndrome de burnout como patologia laboral, a tendência nas clínicas é de valorização de programas que incluam apoio à saúde psicológica.
Serviços assim são cada vez mais demandados nos ambientes corporativos, já que resguardam as companhias, suas equipes e a produtividade.
É o que ficou evidenciado com a Pesquisa Quantitativa da Saúde Suplementar na indústria brasileira (novembro de 2020), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do Serviço Social da Indústria (Sesi).
O estudo analisou os principais reflexos da pandemia nos planos de saúde do setor industrial.
Os resultados revelam o reconhecimento, por 65% do contingente mapeado, de que o cuidado com a saúde psicológica dos colaboradores é uma necessidade e deve ser intensificada.
Entre as linhas de cuidado mais adotadas estão a saúde mental e o cuidado com a depressão, o incentivo à atividade física e o gerenciamento de estresse. O atendimento psicológico para os trabalhadores também aparece como tendência importante.
Conclusão
A discussão sobre as doenças ocupacionais na área da saúde é fundamental, pois para cuidar da saúde dos pacientes, é preciso cuidar da própria saúde em primeiro lugar, o que inclui tanto a física quanto psicológica.
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