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Carreira15 fevereiro 2025

Desafios e oportunidades de médicos com nanismo

“Na medicina ainda existe um certo padrão de perfil dos alunos, e pessoas com deficiência dificilmente são vistas”, diz Dra. Fernanda Fonseca
Por Redação Afya

Anos de estudo, noites viradas, muito estudo e aprimoramento: ser médica é, por si só, um desafio constante. Mas, para Dra. Fernanda Fonseca, infectologista com acondroplasia (um tipo de nanismo), esses desafios são acompanhados de uma força de vontade inabalável que transcende qualquer dificuldade.

Ao longo de sua carreira, ela tem enfrentado os obstáculos naturais da profissão, como o estresse e a pressão diários, mas também as particularidades que surgem por conta de sua condição física.

Leia mais: Dermatologia e diversidade: inclusão de peles não brancas na formação médica

médico com nanismo

O dia a dia da profissão

O impacto mais evidente do nanismo para Dra. Fernanda está na questão altitudinal. Como o acesso a materiais médicos e equipamentos hospitalares muitas vezes não é adaptado para profissionais de diferentes estaturas, ela recorre à ajuda de colegas, especialmente os da enfermagem, para alcançar o que precisa.

No entanto, ela reconhece que esse não é o único desafio. “Muitos pacientes, por nunca terem tido contato com uma pessoa com nanismo, acabam tendo um choque inicial ao me conhecer”, conta Fernanda, ressaltando a importância de lidar com o estranhamento de forma natural e sem complexos.

Desafios na formação

Durante sua formação acadêmica, Dra. Fernanda enfrentou um cenário que, embora mais acolhedor que o ambiente hospitalar, ainda apresentava suas dificuldades. “A medicina tem uma certa padronização no perfil dos alunos, e pessoas com deficiência – ou outras minorias – não são vistas com frequência nesse contexto”, explica.

Ela lembra que a maior dificuldade não era a falta de capacidade acadêmica, mas o impacto social de ser uma profissional fora do “padrão”. Essa diferença foi um desafio constante, principalmente nos primeiros anos de faculdade.

Realidade do mercado

E, ao ingressar no mercado de trabalho, as reações ao seu nanismo não foram muito diferentes. As expectativas para médicos seguem um padrão, e, como seria de se esperar, o choque inicial foi inevitável. Contudo, Fernanda também encontrou apoio em colegas e empregadores que a acolheram de forma natural, reconhecendo sua competência antes de qualquer característica física.

“Tive a sorte de encontrar pessoas maravilhosas que lidaram com isso de maneira leve e acolhedora”, afirma. No entanto, como é comum, houve situações desconfortáveis. Em uma UBS onde trabalhou, por exemplo, algumas pessoas se aproximaram dela apenas para vê-la, como se fosse uma “atração”. Ela descreve o momento como desconfortável, mas sem permitir que isso a abalasse profundamente.

A importância de enxergar o todo

Para Fernanda, o nanismo é apenas uma das várias características que a definem. Ela não quer ser reduzida à sua condição física. “Sou mineira, mas moro em São Paulo e amo meu estilo de vida aqui. Gosto de viajar, adoro a conhecer restaurantes e sou uma pessoa comunicativa, especialmente com aqueles com quem tenho afinidade”, afirma, reforçando que sua vida e carreira são moldadas por um conjunto de interesses e qualidades, e não apenas pela sua estatura.

Essa visão ampla de si mesma não só fortalece sua autoconfiança, mas também serve como inspiração para outras pessoas com nanismo, mostrando que o sucesso não é definido por limitações físicas.

Conselhos a jovens médicos

Dra. Fernanda oferece conselhos valiosos para médicos que enfrentam desafios semelhantes aos seus. Ela acredita que é importante não deixar comentários inadequados passarem batidos.

“Eu sei que é difícil porque, muitas vezes, esses comentários vêm de superiores, mas, quando você está em um ambiente acolhedor e está confiante, é essencial apontar que essas brincadeiras ou observações não são legais”, diz ela.

Para a médica, a mudança começa com atitudes pequenas, como corrigir comportamentos e promover um ambiente mais inclusivo.

Inclusão no mercado de trabalho

Fernanda também destaca a importância de um apoio maior entre profissionais de saúde com nanismo. Embora ainda não tenha desenvolvido um movimento formal, ela acredita que a troca de experiências entre médicos com condições semelhantes possa resultar em melhorias tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado de trabalho.

“Eu percebi que depois da última matéria em que colaborei, a procura por esse tipo de interação aumentou. Acho que estamos começando a plantar a sementinha para algo maior”, afirma, sugerindo que um movimento de união pode surgir em breve.

Sempre que tem a oportunidade, Fernanda participa de ações que falem sobre o nanismo. Além de um podcast, ela participa do movimento Nanismo Brasil, do Instituto Nanismo Brasil, e já foi até personagem da campanha @convivendocomacondro, no Instagram.

O caminho até lá

Refletindo sobre os anos passados, Fernanda observa que, quando ingressou na faculdade, o ambiente acadêmico não estava preparado para receber estudantes com deficiências, nem mesmo em termos de acessibilidade.

Sua sala de aula, por exemplo, ficava no terceiro andar de um prédio sem elevador, o que exigia esforço físico adicional. Ela se lembra da falta de estrutura planejada e da mentalidade de “dar um jeito” que prevalecia na época.

“Hoje, passados mais de dez anos, espero que as universidades e hospitais estejam mais preparados para oferecer um ambiente inclusivo, sem que ninguém precise lutar tanto para ocupar seu espaço”, finaliza a médica, frisando que, quando se tem uma deficiência, o olhar sobre a necessidade do outro muda.

A história de Dra. Fernanda é um lembrete de que a verdadeira medicina é feita não só de conhecimento técnico, mas também de empatia, respeito e inclusão.

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