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Carreira20 setembro 2025

Caso clínico: o que uma paciente me ensinou sobre o medo

Paciente feminina de 8 anos com uma lesão verrucosa no joelho, compatível com verruga vulgar. A retirada foi repleta de lições para a vida

Na série especial “Histórias de Cuidado: Relacionamento médico-paciente”, compartilhamos relatos de médicos sobre casos que vivenciaram em sua rotina e como lidaram com cada situação de forma gentil e empática.

O objetivo é explorar a Medicina sob uma perspectiva mais subjetiva, revelando as nuances do cuidado com o paciente.

Boa leitura!

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médico consolando um paciente em um relacionamento de empatia

Caso clínico

Há um tempo atrás, eu tinha um turno inteiro dedicado somente aos procedimentos dermatológicos, em um hospital no Rio de Janeiro.

A minha última paciente daquele dia era uma menina de 8 anos, com uma lesão verrucosa no joelho, compatível com verruga vulgar, algo muito comum nessa faixa etária e na prática dermatológica.

Ela já tinha sido submetida a alguns procedimentos, como tratamento tópico domiciliar, cauterização química, criocirurgia, mas todos sem sucesso. Então ela compareceu para realizarmos shaving, eletrocoagulação e curetagem da lesão.

Expliquei para ela e para sua mãe, detalhadamente, sobre o procedimento: eu precisava realizar a anestesia local na lesão, parte um pouco dolorosa e desconfortável, mas suportável e, após isso, não haveria mais dor no local e o procedimento seria bem rápido.

Fui utilizando toda minha psicologia para deixar a minha pequena paciente mais tranquila, mas ela tremia de medo. Sua mãe estava tranquila segurando sua mão.

Ela me pediu para esperar um pouco. Me disse, tremendo e gaguejando, que era sua festa de aniversário no dia seguinte e que estava muito preocupada com o procedimento. Perguntei se elas queriam remarcar, mas a mãe não deixou. Ela disse: “Vamos resolver isso logo!”

A menina concordou, mas disse: “Eu estou morrendo de medo!”

Lembrei de uma frase do livro Indomável, da Glennon Doyle: “Somos capazes de fazer coisas difíceis” e decidimos juntas que ela era muito capaz de enfrentar aquilo tudo.

O procedimento começou e ela chorou bastante durante a agulhada, mas se manteve ali paradinha e respirando profundamente durante aquele procedimento.

Correu tudo bem e resolvemos aquele problema.

Leia mais: Caso clínico: Essa não é uma história sobre prurido

Lição: é melhor enfrentar o medo

Fui fazer algumas anotações e explicar para a responsável as orientações pós procedimento e curativo quando a minha pequena paciente me interrompe dizendo:

“Tia, eu tô pensando numa coisa…” E é claro que eu perguntei o que era.

Ela respondeu: “Eu estava morrendo de medo, mas entendi que é melhor eu ficar com medo e SEM verruga do que com medo e COM verruga. E no final… nem doeu tanto assim…e eu vou passar meu aniversário sem a verruga! Acho que é melhor enfrentar, né?!”

Eu fiquei perplexa com a simplicidade e sabedoria daquela criança de 8 anos, enquanto eu e a mãe dela ríamos muito da sua pertinente colocação. Então, liberei essa minha última paciente do dia e fui para casa.

O mais engraçado foi que, naquele mesmo dia, eu ia fazer uma entrevista para um novo emprego, onde assumiria uma grande responsabilidade. Estava morrendo de medo. Mas me lembrei dela. “Acho que é melhor enfrentar, né?!”

Assim eu fui.

E deu certo.

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