O desenvolvimento dos marcapassos cardíacos (MP) foi um grande avanço no tratamento das arritmias e insuficiência cardíaca (IC). Os MP transvenosos tradicionais são o padrão ouro de tratamento por décadas, porém, a evolução da tecnologia permitiu o desenvolvimento dos marcapassos sem cabos.
Esses são implantados diretamente no ventrículo direito (VD), eliminando a necessidade de cabos e loja subcutânea, com consequente redução das taxas de infecção e das complicações mecânicas associadas ao procedimento.
Dados do mundo real conseguem nos dar informações verdadeiras sobre tendências e desfechos não apenas relacionados às populações dos estudos, que muitas vezes são bastante restritas. Assim, foi feita uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de avaliar a segurança desses novos dispositivos, comparando as complicações agudas e taxas de mortalidade precoces associadas ao uso do MP sem cabos comparado aos MP tradicionais, com base em registros nacionais.
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Métodos do estudo e população envolvida
Foram feitas buscas de artigos que avaliaram dados de segurança e desfechos dos MP sem cabo em bases de dados ou registros nacionais. Os desfechos considerados foram complicações agudas relacionadas ao dispositivo e mortalidade aguda, considerados tanto no momento intra-hospitalar quanto em 30 dias.
Resultados
Foram incluídos na análise final 5 estudos publicados entre 2021 e 2024, um realizado na França e os outros quatro nos EUA. No total, foram analisados 28470 MP sem cabo e 317686 MP tradicionais.
A definição de complicação aguda variou entre os estudos e incluiu embolia e trombose, eventos no sítio de punção, derrame pericárdico, perfuração pericárdica, tamponamento cardíaco, pneumotórax, hemotórax, sangramento maior, necessidade de transfusão, infecção e complicações neurológicas. Essas complicações foram analisadas em conjunto.
Não houve diferença na mortalidade entre os dois grupos, com OR 2,03 (IC 95% 0,65-6,34), assim como também não houve diferença nas complicações agudas e complicações relacionadas ao procedimento, porém houve uma tendência não significativa de maior ocorrência de complicações agudas como um todo no grupo MP sem cabos e de complicações relacionadas ao dispositivo no grupo MP tradicional.
Todos os estudos foram considerados como de alta qualidade e baixo risco de viés, porém todos os resultados obtidos foram avaliados como tendo baixo nível de certeza de evidência e devem ser interpretados com cautela.
Comentários e conclusão
Esse estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de mortalidade e complicações no curto prazo em pacientes com marcapassos cardíacos (MP) sem cabos comparado a MP tradicional em registros e bancos de dados de mundo real, excluindo-se os ensaios clínicos controlados e randomizados.
A utilização de MP tradicionais foi mais de dez vezes a de MP sem cabos e não houve diferença estatística em relação às complicações e mortalidade ao se comparar os dois grupos, o que mostra que os dois tipos de dispositivo são comparáveis em questão de segurança.
O dispositivo sem cabos tem tido taxa de sucesso de implantação de 98% e é recomendado para os pacientes com alto risco de infecção, pacientes com doença renal terminal, com história de infecção de dispositivo, alterações anatômicas que dificultam o MP tradicional ou imunocomprometidos.
Os pacientes dos registros avaliados são mais velhos e com mais comorbidades que os dos estudos clínicos randomizados e controlados e as taxas de sucesso permaneceram semelhantes ou maiores. Uma limitação é que esse dispositivo é unicameral, o que impossibilita tratar uma parte dos pacientes. O desenvolvimento de dispositivos bicamerais pode aumentar a população beneficiada.
Esse estudo tem diversas limitações, porém sugere que os marcapassos cardíacos sem cabos são seguros no curto prazo, comparáveis aos MP tradicionais. Mais estudos são necessários para avaliar esses dispositivos no longo prazo, assim como para ampliar as recomendações para seu uso na prática clínica.
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