Desde 2022, drogas para controle da diabetes tipo 2 da família GLP-1, como por exemplo a semaglutida e tirzepatida, estão sendo utilizadas de forma off label para controle de peso. Apesar de estarem mostrando bastante eficácia para esse objetivo e liberada pelos órgãos oficiais para tal tratamento, vêm apresentando alguns efeitos colaterais que não foram descritos durante a sua fase de teste e início de sua comercialização.
Veja também: Critérios anestésicos para uma lipoaspiração segura
A FDA (U.S. Food and Drug Administration), órgão americano responsável pelo controle e liberação de drogas e alimentos, mantém uma monitorização constante, mesmo em drogas já liberadas, durante todo o período que essas permanecem no mercado, para que efeitos colaterais e adversos que não foram identificados nas fases testes sejam detectados e incorporados a sua descrição.
Em relação à semaglutida e a todos os outros derivados do tipo GLP-1 utilizados no momento para perda de peso, vêm apresentando alguns efeitos adversos novos, como alopecia, ideação suicida e broncoaspiração em pacientes cirúrgicos.
Em relação a esse último efeito adverso descrito, a American society of Anesthesiology (ASA), lançou uma sugestão em julho do ano passado, que fosse seguida por todos os pacientes que fizesem uso desse tipo de droga e que serão submetidos a cirurgia eletivas.
O mecanismo pela qual as drogas GLP-1 podem causar broncoaspiração, baseia-se no fato que elas determinam uma grande diminuição do esvaziamento gástrico, levando a uma necessidade de maior tempo de jejum e possível broncoaspiração em casos de anestesia geral ou sedação mais profunda. Essa diminuição no esvaziamento gástrico é um dos mecanismos para a perda de peso, pois determina um aumento da saciedade e diminuição da ingesta de alimentos.
Apesar de não haver estudos robustos que comprovem a complicação, muitos relatos estão sendo registrados nesses pacientes, onde se tem observado um aumento dos índices de regurgitação e aspiração pulmonar, principalmente nos pacientes que relatam náuseas e vômitos durante o tratamento com a droga. Como esses relatos dizem respeito a uma grave complicação, a ASA lançou um guideline para suspensão da medicação para fins de emagrecimento nos pacientes submetidos a cirurgias eletivas.
De acordo com o novo guideline temos:
1. Um dia ou uma semana antes do procedimento:
- Suspensão da medicação no dia da cirurgia nos pacientes que a utilizam diariamente;
- Suspensão da medicação uma semana antes do procedimento em pacientes que fazem uso semanal da droga.
2. Dia do procedimento:
- Considerar a suspensão ou adiamento do procedimento caso o paciente esteja com sintomas gastrointestinais como náuseas, vômitos, distensão abdominal, excesso de gases, dor abdominal, devido ao maior risco de apresentar regurgitação e broncoaspiração durante o procedimento;
- Caso o paciente não apresente nenhum sintoma gastrintestinal mas não suspendeu a medicação de forma correta, realizar a anestesia considerando o paciente como estômago cheio e realizar todos os procedimentos de segurança a fim de evitar uma possível broncoaspiração
Saiba mais: Uso de morfina intravenosa no pós-operatório de amigdalectomia em adultos
Todos os pacientes em uso de GLP-1 e em procedimentos de urgência ou emergência devem ser considerados estômago cheio, mesmo se apresentarem tempo de jejum satisfatório.
Em relação à semaglutida e aos outros derivados do tipo GLP-1 utilizados para perda de peso, vêm apresentando alguns efeitos adversos novos.
Autoria

Gabriela Queiroz
Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Ministério da Educação (MEC) ⦁ Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Centro de Especialização e Treinamento da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (CET/SBA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) ⦁ Membro da American Academy of Pain Medicine ⦁ Ênfase em cirurgias de trauma e emergência, obstetrícia, plástica estética reconstrutiva e reparadora e procedimentos endoscópicos ⦁ Experiência em trauma e cirurgias de emergência de grande porte, como ortopedia, vascular e neurocirurgia ⦁ Experiência em treinamento acadêmico e liderança de grupos em ambiente cirúrgico hospitalar ⦁ Orientadora acadêmica junto à classe de residentes em Anestesiologia ⦁ Orientadora e auxiliar em palestras regionais e internacionais na área de Anestesiologia.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.