Broncoespasmo em criança durante anestesia
O broncoespasmo corresponde a uma constrição repentina e exagerada da musculatura lisa dos brônquios, devido a uma hiperreatividade das vias aéreas, levando ao bloqueio da passagem de ar para os pulmões.
A manipulação constante do trato respiratório durante um procedimento anestésico, como aspiração e laringoscopia, é a causa mais comum do desencadeamento dessa complicação, que pode ocorrer principalmente durante a indução ou extubação do paciente. Os episódios que ocorrem durante o procedimento cirúrgico estão mais relacionados a fatores alérgicos e anafilaxias.
Os pacientes pediátricos correspondem a população de maior risco, uma vez que a hiperreatividade brônquica e episódios de asma e bronquite são mais comuns nessa faixa etária. O paciente asmático já apresenta um processo inflamatório crônico na mucosa das vias aéreas que promove o desenvolvimento de lesões irreversíveis decorrentes do processo de broncoconstrição, edema e constante remodelação local.
O broncoespasmo corresponde a uma emergência anestésica deve ser diagnosticado e tratado rapidamente, uma vez que essa complicação pode levar a óbito. Sua incidência é de 0,2% podendo chegar a 2% em pacientes asmáticos.
Conduta
O melhor tratamento para casos de broncoespasmo infantil durante um procedimento anestésico é ainda a profilaxia. Mediante um paciente que possua fatores de risco para o aparecimento dessa complicação, é necessário que haja a menor manipulação possível das vias aéreas, evitando aspirações, colocações de cânulas e múltiplas tentativas de intubação.
Até a passagem do tubo traqueal deve ser realizada de forma suave para que não haja estímulo desnecessário. Essa análise é feita durante a realização da visita pré-anestésica, onde identificam-se os pacientes de risco.
Em relação à técnica anestésica, sempre que possível, optar por bloqueios locais com sedação, evitando a manipulação das vias aéreas, porém, na população pediátrica, em grande parte das vezes, é difícil a realização dessas técnicas, e a anestesia geral é a única opção.
Durante a anestesia geral, um plano anestésico mais profundo é a melhor escolha, pois diminui os reflexos. Lembrar também que cirurgias de cabeça e pescoço com manipulação de vias aéreas é um fator desencadeante de broncosespasmo durante o procedimento.
Como condutas medicamentosas profiláticas podemos citar o uso de inalações regulares com beta 2 agonistas e o uso de corticosteroides, como prednisona, no período pré-operatório.
Veja também: Como melhorar os resultados da asma pediátrica na emergência?
Mensagem prática
Quando o broncoespasmo se estabelece deve-se primeiro chamar ajuda. Caso o paciente já esteja anestesiado, pode-se tentar aprofundar o plano anestésico com halogenados que têm características broncodilatadoras e iniciar tratamento farmacológico com as seguintes opções terapêuticas:
- Salbutamol por via endovenosa na dose de 15 mcg/kg EV de 10 em 10 minutos ou 1 a 5 mcg/kg/min em infusão contínua. O Salbutamol também pode ser feito por nebulização com a dose de 2,5 mg a 5 mg dependendo da idade da criança.
- Metilprednisolona na dose de 1mg/Kg de 6 em 6 horas.
- Hidrocortisona na dose de 4 a 6 mg/kg também de 6 em 6 horas.
- Brometo de ipratrópio por nebulização na dose de 0,1 mg até 0,5 mg dependendo da idade da criança.
- Cetamina na dose de 0,2 mg/Kg por via endovenosa, em bolus ou 1 a 2 mg/kg/hora em infusão contínua.
- Evitar medicações como epinefrina e teofilina por aumentar o risco de arritmias e levar a toxicidade cerebral.
- Bloqueador neuromuscular evitando os liberadores de histamina.
- Se for o caso de cirurgia de emergência, tratar com beta 2 agonistas e seguir. Caso seja cirurgia eletiva, esta deve ser suspensa e adiada.
Apesar de haver inúmeras possibilidades farmacológicas terapêuticas, é sempre importante levar em consideração a profilaxia, principalmente em pacientes de risco mais elevado.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.