A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica caracterizada por inflamação, desmielinização e degeneração, levando à perda progressiva de funções neurológicas.1,2 Desde o início da doença, surtos inflamatórios deixam sequelas cumulativas, impactando a qualidade de vida dos pacientes.1 Em casos de EM de alta atividade, múltiplos surtos ocorrem em curto intervalo de tempo, com lesões captantes de gadolínio na ressonância magnética (RM) e comprometimento funcional significativo.1
Estratégias de tratamento
Existem duas principais abordagens no manejo da EM: o escalonamento progressivo com drogas de menor eficácia e o início direto com terapias de alta eficácia.2 O escalonamento progressivo prioriza a segurança inicial com drogas como interferons e acetato de glatirâmer, reservando terapias mais potentes para falhas terapêuticas.3 No entanto, essa estratégia está associada a um maior risco de progressão da doença, devido ao atraso no controle efetivo da atividade inflamatória.1,2 A inércia durante a troca terapêutica pode levar à perda de reserva cerebral em pacientes com EM.4
Por outro lado, o início direto com terapias de alta eficácia, como natalizumabe, alemtuzumabe, ocrelizumabe e cladribina, tem demonstrado vantagens significativas.5 Estudos indicam que essa abordagem resulta em reduções de surtos e prevenção de atrofia cerebral comparada às terapias de menor potência.2 Pacientes que iniciaram o tratamento com essas terapias precocemente apresentaram menor acúmulo de incapacidade a longo prazo.1
Evidências clínicas
Um estudo observacional retrospectivo publicado na JAMA Neurology, em 2021, comparou dois coortes de países com estratégias divergentes de tratamento da EM: Suécia e Dinamarca.5 Na Suécia, a maioria dos pacientes inicia o tratamento com terapias de alta eficácia, enquanto na Dinamarca predomina a estratégia de escalonamento.5 A estratégia sueca de tratamento foi associada a uma redução de 29% na taxa de piora confirmada da incapacidade pós-baseline de 24 semanas, comparada à estratégia dinamarquesa.5
Segurança e monitoramento
A decisão terapêutica entre as diferentes drogas modificadoras de doença (DMDs) é influenciada por múltiplos fatores, incluindo o perfil do paciente, presença de comorbidades, preferências e estilo de vida, além de preocupações relacionadas à segurança.1 Terapias, como interferons e acetato de glatirâmer, apresentam perfis de segurança mais favoráveis, sendo associadas a efeitos colaterais leves.3 Em contrapartida, DMDs de alta eficácia, como natalizumabe e alemtuzumabe, estão associadas a riscos mais graves, incluindo infecções oportunistas e disfunções autoimunes.1 Apesar desses riscos, quando bem monitoradas, essas terapias oferecem benefícios clínicos significativos.2
As terapias de alta eficácia representam uma evolução significativa no tratamento da esclerose múltipla, especialmente em pacientes com doença de alta atividade. Elas oferecem um controle superior da atividade inflamatória e retardam ou previnem o acúmulo de incapacidades a longo prazo.1,3 Embora apresentem desafios em termos de segurança e monitoramento, os benefícios são claros quando aplicadas corretamente.5
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