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Terapia Intensiva20 outubro 2024

Principais trials sobre terapias farmacológicas em UTI de 2023 

Neste artigo apresentaremos estudos que impactaram o tratamento de pacientes em UTI, considerando sua contribuição científica e inovação.
Por Julia Vargas

O artigo Major Publications in the Critical Care Pharmacotherapy Literature: 2023, de Murray et al, publicado em outubro de 2024, revisou as publicações mais significativas sobre farmacoterapia em cuidados críticos de 2023. O objetivo foi identificar e resumir estudos que impactaram o tratamento de pacientes graves considerando sua contribuição científica e inovação. A pesquisa incluiu ensaios clínicos randomizados e estudos prospectivos publicados ao longo do ano. 

Os principais tópicos abordados nos artigos selecionados incluem: 

1) Pneumonia adquirida na comunidade: avaliação de corticoides (CAPE-COD) 

O estudo CAPE-COD analisou os efeitos da administração intravenosa de hidrocortisona em pacientes com pneumonia adquirida na comunidade (PAC) em estado grave, os quais foram internados em unidades de terapia intensiva (UTI). A premissa do estudo era que a ação anti-inflamatória dos corticosteroides poderia contribuir para a diminuição da mortalidade em um período de 28 dias entre esses indivíduos. 

Resultados: a administração precoce de hidrocortisona em indivíduos com pneumonia adquirida na comunidade (PAC) grave pode contribuir para a diminuição da taxa de mortalidade, sem, contudo, elevar de maneira significativa o risco de complicações. No entanto, é imprescindível avaliar o efeito em outros desfechos clínicos, como a duração da ventilação mecânica e o tempo de internação na unidade de terapia intensiva (UTI), antes de se considerar a adoção dessa abordagem em todos os pacientes diagnosticados com PAC grave. 

2) Amicacina inalatória versus placebo para prevenir pneumonia associada à ventilação mecânica (AMIKINHAL) 

O estudo AMIKINHAL foi um ensaio clínico multicêntrico e randomizado que investigou a eficácia da amicacina inalada na prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). Os pacientes foram submetidos à administração de amicacina inalada (20 mg/kg/dia) ou placebo durante três dias. O principal desfecho analisado foi a ocorrência do primeiro episódio de PAV ao longo de 28 dias. 

Resultados: houve uma diminuição significativa na taxa de PAV em comparação ao grupo placebo além de redução nas complicações associadas à VM. Contudo, não foram identificadas diferenças significativas em relação ao tempo de ventilação mecânica, à permanência na UTI ou ao tempo de internação hospitalar entre os grupos, e a mortalidade não apresentou variações. 

Esses resultados sugerem que a amicacina inalada pode ser benéfica na diminuição da PAV; no entanto, não se constatou um efeito significativo em desfechos clínicos mais abrangentes, como a duração da ventilação e a mortalidade. A preocupação com o desenvolvimento de resistência bacteriana, embora minimizada pelo curto período de uso da amicacina, também é um ponto de atenção antes de sua aplicação. 

Leia também: ACP 2024: Atualizações sobre pneumonia

3) O Cristaloide Liberal ou Vasopressores Ressuscitação Precoce na Sepse (CLOVERS) 

O estudo CLOVERS comparou uma estratégia liberal em relação à administração de fluidos e uma abordagem restritiva, que priorizava a utilização precoce de vasopressores. A pesquisa teve como desfecho primário a mortalidade em um período de 90 dias.  

Resultados: A análise dos dados revelou que não houve diferença estatisticamente significativa na mortalidade em 90 dias entre os grupos. Além disso, não se observou uma diferença relevante em outros resultados, como a duração da internação na UTI ou o período de ventilação mecânica.  

Esses resultados indicam que tanto a abordagem liberal quanto a restritiva podem ser aplicadas no manejo inicial de pacientes com sepse, visto que apresentam resultados semelhantes em relação à mortalidade e à segurança, permitindo uma maior flexibilidade no tratamento de acordo com a condição clínica do paciente. 

4) Azul de metileno adjuvante precoce em pacientes com choque séptico. 

O artigo intitulado “Early Adjunctive Methylene Blue in Patients With Septic Shock” estudou a eficácia do azul de metileno como uma terapia adjuvante inicial para indivíduos com choque séptico. O principal objetivo da pesquisa foi analisar o intervalo necessário para a interrupção do uso de vasopressores. 

Resultados: os achados indicaram que os pacientes tratados com azul de metileno apresentaram um tempo significativamente reduzido para a suspensão dos vasopressores. Os indivíduos do grupo azul de metileno demonstraram um maior número de dias sem a necessidade de vasopressores ao longo de 28 dias, além de uma diminuição no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva e no hospital, quando comparados ao grupo placebo. Apesar de animadores, esses resultados devem ser analisados com cautela, uma vez que o azul de metileno não é isento de efeitos adversos, ainda não há certeza sobre o momento ideal para o seu início nem da dosagem mais segura para esses pacientes. 

5) Eficácia e segurança da administração precoce de concentrado de complexo de protrombina de quatro fatores em pacientes com trauma em risco de transfusão maciça: PROCOAG 

O estudo denominado PROCOAG analisou a eficácia e segurança da administração precoce de concentrado de complexo protrombínico de quatro fatores (4F-PCC) em indivíduos que sofreram trauma e apresentavam risco de transfusão maciça. O principal objetivo da pesquisa foi determinar se a aplicação de 4F-PCC poderia diminuir o uso de hemoderivados nas primeiras 24 horas, em comparação ao grupo que recebeu placebo. 

Resultados: não houve diferença estatisticamente significativa no total de hemotransfusão entre os dois grupos. Contudo, observou-se que o grupo que recebeu 4F-PCC apresentou uma taxa de eventos tromboembólicos significativamente mais elevada. Esses resultados sugerem que a utilização rotineira de 4F-PCC em pacientes que sofreram trauma severo e que estão sob risco de transfusão maciça deve ser considerada com prudência. 

6) Relatório final do estudo de Andexanet Alfa para sangramento grave com inibidores do fator Xa – ANNEXA-4 

O estudo ANNEXA-4 avaliou a eficácia e segurança do andexanet alfa em pacientes com sangramento grave associado ao uso de inibidores do fator Xa (como apixabana, rivaroxabana, edoxabana e enoxaparina).  

Resultados: mostraram que o andexanet alfa reduziu significativamente a atividade anti-fator Xa, com uma redução de 93% para apixabana e 94% para rivaroxabana. A eficácia hemostática foi considerada boa ou excelente em 80% dos pacientes, com destaque para sangramentos intracranianos e gastrointestinais. No entanto, 10% dos pacientes apresentaram eventos tromboembólicos durante o acompanhamento de 30 dias, o que levanta preocupações sobre o risco de trombose associado ao uso do andexanet alfa. 

Esse estudo reforça a eficácia do andexanet alfa na reversão da anticoagulação em pacientes com hemorragia grave, mas também destaca a necessidade de cautela quanto ao risco de eventos trombóticos, especialmente ao reiniciar a anticoagulação após o tratamento.

Saiba mais: Andexanet alfa: redução de hemorragia cerebral e o uso de inibidores de fator Xa 

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Referências bibliográficas

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