ITU relacionada a cateteres vesicais de demora
A utilização de cateter (“sonda”) vesical de demora (CVD) está associada ao incremento do risco de infecção do trato urinário (ITU) em decorrência da violação de sua integridade, manipulações frequentes e propensão à formação de biofilmes.
O aspecto da urina, continuamente exposta no interior do cateter e do sistema coletor, muitas vezes gera preocupação para os pacientes, familiares e profissionais de saúde, seja pela presença de muco, grumos ou sangue, bem como pela turbidez, concentração ou odor fétido.
Dessa forma, considera-se, com frequência, o diagnóstico de infecção do trato urinário associada ao dispositivo (ITU-AD). Contudo, antes do automatismo de instituir antibioticoterapia, precisamos racionalizar a abordagem, evitando tratamentos desnecessários, muitas vezes norteados apenas por sintomas inespecíficos ou bacteriúria assintomática.
Veja também: Análise de EAS em pacientes hospitalizados para predizer infecção urinária
Uma ferramenta de auxílio à tomada de decisão nesse cenário é a definição de ITU-AD do CDC, que exige a presença, em simultaneidade, dos três critérios abaixo elencados:
1. Cateter vesical de demora (CVD) implantado há pelo menos dois dias. |
2. Urocultura positiva para não mais do que 2 organismos, com ao menos um deles com contagem superior a 105 unidades formadoras de colônia (UFC)/mL; |
3. Presença de ao menos um entre os seguintes sinais e sintomas: febre (temperatura ≥ 38°C), dor suprapúbica ou em ângulo costovertebral, urgência ou frequência urinária e disúria. |
A ITU-AD é uma causa comum de infecção relacionada aos serviços de saúde, associada com risco de bacteremia e aumento da mortalidade. Por outro lado, o tratamento não criterioso é um potente estímulo para a resistência antimicrobiana, além da indução de eventos adversos fármaco-induzidos. Os indivíduos expostos ao CVD comumente desenvolvem piúria, mesmo na ausência de infecção, e os sintomas de ITU tendem a ser mais específicos na ITU-AD.
O tratamento é pautado na remoção do CVD e, nos casos em que a sua permanência é tem indicação urológica clara, deve-se prosseguir com a sua substituição. A urocultura deverá ser obtida logo após a troca do dispositivo, para evitar a contaminação resultante de biofilmes esperados nos cateteres antigos.
Os agentes mais frequentes incluem a Escherichia coli, Klebsiella spp, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus spp, Staphylococcus spp e Candida spp e o tempo de tratamento geralmente é limitado a sete dias nos casos em que a resposta clínica é favorável.
Saiba mais:
Woman holding children hand in hospital. girl sick in hospital. People with medical concept. Vintage toneConclusão e mensagens práticas
- Os indivíduos expostos ao cateterismo vesical de demora (CVD) apresentam frequentemente piúria, mesmo na ausência de infecção do trato urinário associada ao dispositivo (ITU-AD).
- A ITU-AD é uma infecção comum relacionada aos cuidados de saúde, com risco de bacteremia e morbimortalidade. Contudo, o diagnóstico tende a ser exagerado, fomentando a resistência antimicrobiana e expondo os pacientes aos eventos adversos dos antibióticos.
- Uma ferramenta útil na tomada de decisão nesse cenário é a definição de ITU-AD do CDC, pautada em 3 critérios: CVD instituído há mais de 2 dias; urocultura positiva para não mais do que 2 organismos, estando um deles com contagem superior a 105 UFC/mL; e presença de sinais e sintomas compatíveis, como febre, disúria ou dor em ângulo costovertebral.
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