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Terapia Intensiva16 maio 2025

Intubação traqueal - 1 em cada 3 pacientes tem complicações

Estudo buscou as causas potenciais de complicações no manejo da via aérea para melhorar os resultados em pacientes críticos submetidos a intubação de emergência
Por André Japiassú

A intubação traqueal é talvez o procedimento mais crítico nas UTIs e apresenta riscos consideráveis. Complicações como instabilidade hemodinâmica, hipoxemia e parada cardiorrespiratória são comuns no período peri-intubação e estão ligadas a maior mortalidade. Pacientes críticos frequentemente possuem uma via aérea “fisiologicamente difícil”, onde instabilidade aguda, oxigenação comprometida e distúrbios metabólicos aumentam o risco de eventos adversos peri-intubação, mesmo sem dificuldades anatômicas. Um estudo internacional revelou que mais de 40% das intubações de emergência resultam em algum evento adverso grave, apesar de uma alta taxa de sucesso na primeira tentativa (quase 80%). É possível que fatores de risco anatômicos, funcionais e de própria habilidade do médico que faz o procedimento influenciem o sucesso do procedimento. 

Neste estudo, os autores procuraram as causas potenciais de complicações no manejo da via aérea para melhorar os resultados em pacientes críticos submetidos a intubação de emergência. 

Saiba mais: Critério HEAVEN para intubação traqueal 

intubação traqueal

Objetivos e Metodologia: 

É um estudo multicêntrico, envolvendo 18 hospitais nos setores de emergência, realizado de forma prospectiva, inteiramente realizado no Brasil. 

Todos os pacientes submetidos a intubações traqueais de emergência foram incluídos, exceto em momentos de parada cardiorrespiratória e ocasiões eletivas para procedimentos que não eram urgentes. Todas as características do procedimento, como preparo, material usado e método aplicado, além do período logo após a intubação, foram analisadas. 

O desfecho principal foi a mortalidade em 28 dias após a intubação, ou alta/óbito em menos tempo. A observação de eventos adversos mais graves também foi de interesse: 

  • Hipoxemia grave (saturação de oxigênio < 80%) 
  • Instabilidade hemodinâmica nova (pressão arterial sistólica < 65 mmHg, prescrição nova ou aumento na dose de vasopressor ou administração de líquido/volume > 15 mL/ kg para manter pressão arterial normal) 
  • Parada cardiorrespiratória 

Secundariamente, tentativas sucessivas, hipotensão persistente e intubação esofageana também foram relatados. 

Os autores fizeram análises com modelos sem ajustes, e depois considerando alterações fisiológicas e também características do procedimento (como número de tentativas, via aérea difícil e uso de medicações sedativas e bloqueadores neuromusculares). 

Resultados: 

No período de 2 anos de inclusão, 3618 pacientes foram avaliados e 2846 foram incluídos. Identificou-se 919 eventos adversos graves (praticamente um terço – 32%). Os eventos mais comuns foram: instabilidade hemodinâmica (n=569), seguida de hipoxemia (n=356), parada cardiorrespiratória (n=100). Destes 100 pacientes, 73 retornaram à circulação espontânea, portanto 27 faleceram neste momento. A razão mais comum para intubação com evento adverso grave foi insuficiência respiratória aguda, sendo mais comum em pacientes intubados sem eventos. 

A intubação com sucesso na primeira tentativa ocorreu em 74% dos pacientes. A laringoscopia direta (tradicional) foi realizada em 80% dos pacientes. Intubação difícil (mais de 3 tentativas) ocorreu em 7%; a visualização da traqueia (classificação de Cormack) 3 ou 4 ocorreu em cerca de 6% dos pacientes. As medicações mais usadas foram: fentanil como pré-medicação, e sedação com etomidato, seguida de quetamina. Anestesiologistas tiveram sucesso em quase 100% das tentativas, enquanto residentes só conseguiram na primeira tentativa em ~40% das vezes. Hipotensão ocorreu em 12% dos pacientes e intubação esofágica em 3%. 

A mortalidade em 28 dias foi 45%; e foi maior na presença de evento adverso (57%). O hazard ratio, ou seja, o risco associado de mortalidade com o tempo de 28 dias, foi de 1,43. Este risco foi bem maior com parada cardíaca (2,5), seguido de hipoxemia (1,4) e hipotensão (1,3). A associação de hipoxemia mais instabilidade hemodinâmica praticamente dobrou o risco de morte. 

O sucesso na primeira tentativa se associa com menos eventos adversos (metade do risco). A cada tentativa, ocorre hipoxemia na razão de 2,5 vezes a mais. Capnografia só foi usada em 20% dos pacientes, o que pode ser considerada uma taxa reduzida de confirmação da intubação. Fatores de risco para eventos foram: maior idade, choque, escore SOFA maior, saturação de oxigênio menor antes do procedimento e insuficiência respiratória aguda. Fazer checklist para o procedimento se associou a menor taxa de eventos. Usar o bougie (instrumento facilitador de acesso à laringe) se associou ao sucesso na primeira tentativa (razão de chances 1,57). O interessante foi que pacientes que usaram etomidato tiveram menor taxa de eventos que quetamina (25% vs. 30%), mas isto não se manteve nas análises multivariadas, implicando que outros fatores podem ter agido na escolha de um ou outro agente sedativo. 

Mensagens para o dia a dia: 

  • 1 em cada 3 pacientes intubados na emergência apresenta evento adverso grave, e tem maior risco de morte até 28 dias no hospital; 
  • Fatores como sucesso na primeira tentativa, processo cuidadoso (checklist, escolha de sedativo e uso de acessórios para guiar), a presença de insuficiência respiratória e a anatomia do paciente são decisivos no desfecho da intubação traqueal. 

Autoria

Foto de André Japiassú

André Japiassú

Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.

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Referências bibliográficas

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