O paciente pode ser internado na UTI por insuficiência respiratória, e frequentemente precisa de intubação traqueal para iniciar ventilação mecânica. O procedimento de intubação é um momento de instabilidade respiratória e hemodinâmica, com chance de tosse, aumento de pressão nas vias aéreas, pneumotórax, hipo ou hipertensão, arritmias cardíacas e até parada cardíaca. A sedação é usada para se conseguir relaxamento do paciente, com inconsciência e abertura das vias aéreas. Mas a escolha dos sedativos é fundamental para ter sucesso no procedimento ao mesmo tempo de minimizar efeitos adversos. Cada caso deve ser avaliado criticamente quanto às comorbidades e o quadro agudo, para se escolher a melhor combinação de medicamentos sedativos com agentes curarizantes.
Objetivos e Metodologia
O artigo propõe revisar os agentes indutores de sedação para intubação traqueal, comparando os medicamentos mais usados e também relatando estudos recentes (principalmente realizados durante a pandemia de Covid-19) que compararam os sedativos de forma controlada.
Resultados
A instabilidade hemodinâmica é o efeito adverso grave mais comum, seguido de hipoxemia e parada cardíaca. A ketamina e o etomidato apresentam melhor perfil para não induzir hipotensão e desarranjo hemodinâmico, enquanto o propofol é o que mais associa com esta complicação (chance 23% maior de ocorrer). Entre os sedativos, a ketamina é a que causa menos apneia e mantém a respiração espontânea, até causando broncodilatação; porém, pode cursar com excesso de salivação que pode atrapalhar a visualização das cordas vocais. O etomidato apresenta excelente perfil para hemodinâmica e provê inconsciência de maneira rápida, mas está associado a risco de insuficiência adrenal por horas a dias – desta forma, ao mesmo tempo que se evita hipotensão no primeiro momento, há o risco de choque a curto prazo. O midazolam e o fentanil são dois agentes que são muito usados para manutenção do paciente em ventilação mecânica, mas são agentes indutores piores: o início de ação pode ser mais lento e há maior incidência de hipotensão, principalmente quando associados a outros sedativos.
Há vários estudos recentes que mostram redução de efeitos colaterais na hemodinâmica quando se associa dois agentes em doses menores: por exemplo, ketamina com propofol, ketamina ou etomidato com midazolam ou fentanil. Entretanto, um estudo que comparou ketamina e rocurônio e randomizou o uso de fentanil mostrou que o uso de opioide aumentou em 13% a chance de hipotensão, colocando em dúvida a associação tripla.
Finalmente, a especialidade do médico que está fazendo a intubação traqueal também influencia qual agente é usado: anestesiologistas usam mais propofol significativamente que outras especialidades.
Agente Sedativo |
Classe |
Dose |
Comentários |
Etomidato |
derivado de imidazol carboxilado |
0,3 mg/kg | Início 1-2 min; mantém hemodinâmica; pode causar disfunção adrenal por horas a dias |
Ketamina |
derivado de fenciclidina | 1-2 mg/kg |
Início 1-2 min; anestesia dissociativa; mantém hemodinâmica e respiração espontânea, broncodilatação, analgesia; pode causar hiperssalivação, alucinações |
Propofol |
alquilfenol |
1-3 mg/kg |
Início 0,5 min, hipnótico; pode causar hipotensão, vasodilatação, depressão miocárdica e apneia |
Midazolam |
benzodiazepínico |
0,1-0,3 mg/kg |
Início mais lento; hipotensão em 25%; aumenta chance de delirium; usado como adjuvante na indução de intubação com outros |
Fentanil |
opioide |
1-3 mcg/kg |
Analgésico, fornece sedação leve a moderada; pode causar hipotensão e apneia, principalmente com associação a outro sedativo; pode ser usado como adjuvante na indução de intubação |
Mensagens para o dia-a-dia
- Recomenda-se usar ketamina ou propofol ou etomidato para agente indutor para intubação, em conjunto com relaxante muscular; cada um dos agentes tem efeitos colaterais (alucinações, hipotensão e insuficiência adrenal, respectivamente);
- O manejo individualizado é recomendado, levando-se em conta o quadro agudo de descompensação e as comorbidades de cada paciente.
Autoria

André Japiassú
Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.
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