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Terapia Intensiva18 outubro 2024

Guideline: Monitorização neurológica em pacientes sob ECMO 

Publicação traz diretrizes para cuidados neurológicos (monitoramento e manejo neurológico) de adultos durante e após o suporte de ECMO.

O papel da Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO) tem se consolidado no manejo de pacientes críticos com falência respiratória ou cardíaca grave e refratária às medidas convencionais. As diretrizes de 2024 da Extracorporeal Life Support Organization (ELSO) focaram principalmente na minimização das complicações neurológicas, vasculares e hemorrágicas durante o uso dessa ferramenta. A adoção dessas recomendações é fundamental para aumentar a segurança da terapia e potencializar os desfechos clínicos 

Guideline: Monitorização neurológica em pacientes sob ECMO 

Imagem de freepik

Monitoramento Neurológico 

Os pacientes sob ECMO têm risco aumentado de complicações neurológicas, incluindo hemorragia intracraniana, isquemia cerebral e convulsões. As estratégias multimodais para a prevenção e detecção precoce dessas complicações são recomendadas, entre as quais:  

  • Eletroencefalograma contínuo: recomendado nas alterações neurológicas, incluindo o estado comatoso, é crucial para a detecção de status epilepticus não convulsivo, além de fornecer dados sobre a função cerebral global. 
  • Ultrassonografia transcraniana: trata-se de método não invasivo que permite a avaliação, em tempo real, do fluxo sanguíneo cerebral, sendo especialmente útil para a detecção de vasoespasmo ou oclusão arterial em pacientes sob ECMO, ambos eventos predisponentes à isquemia cerebral. 
  • Neuroimagem: exames de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) de encéfalo são essenciais para identificar lesões cerebrais estruturais, como hemorragia intracraniana ou infarto cerebral, sendo indicadas diante de qualquer deterioração neurológica aguda, desde que assegurada a segurança do transporte. 
  • Ajustes da anticoagulação: O uso de anticoagulantes é essencial para prevenir a formação de coágulos nas cânulas de ECMO. No entanto, o uso inadequado aumenta o risco de hemorragias intracranianas. Portanto, o monitoramento rigoroso do tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) é recomendado.  

Leia também: Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) na gravidez

Complicações Neurológicas em Pacientes com ECMO 

As complicações neurológicas estão entre os eventos mais catastróficos associados ao uso de ECMO, com uma incidência entre 20 e 30%. As principais complicações incluem: 

  • Hemorragia Intracraniana: uma das complicações mais temidas, tem incidência entre 5-15%, sendo a sua detecção precoce crítica para a tomada de condutas salvadoras em tempo hábil. 
  • Isquemia Cerebral: a ECMO, especialmente na modalidade venoarterial, gera alteração do fluxo sanguíneo cerebral, predispondo à isquemia. A monitoração contínua e a intervenção precoce são cruciais para prevenção de danos permanentes. 
  • Convulsões e encefalopatia: a hipoxemia prolongada e as complicações multiorgânicas são gatilhos para o desenvolvimento da encefalopatia, caracterizada por deterioração global da função cerebral.  

Manejo das Complicações Vasculares 

A anticoagulação é recomendada para a profilaxia do tromboembolismo venoso, incluindo a trombose venosa profunda, o tromboembolismo pulmonar e os eventos adversos relacionados às cânulas da ECMO.  

  • TVP: A formação de coágulos ao redor das cânulas de ECMO pode levar à obstrução venosa, e exigem o uso contínuo de anticoagulação. A ultrassonografia vascular é recomendada para monitorar a presença de coágulos. 
  • Embolia Pulmonar: a presença de coágulos nos membros inferiores ou ao redor das cânulas aumenta o risco de embolia pulmonar, uma complicação potencialmente fatal.
  • Complicações Relacionadas às Cânulas: A inserção de cânulas pode causar lesões vasculares, levando a hematomas, sangramentos e isquemia. O monitoramento regular do local de inserção das cânulas, juntamente com o uso de imagem para avaliar complicações vasculares, é recomendado. 

Abordagem ao Sangramento 

O desafio hemostático na vigência de ECMO é extremo, com a necessidade de equilíbrio entre anticoagulação adequada e o risco de sangramento. As complicações hemorrágicas tornam-se ainda mais comuns com o uso prolongado de ECMO. As principais abordagens incluem: 

  • Monitoramento da Anticoagulação: O ajuste contínuo dos anticoagulantes, preferencialmente com a utilização daqueles de ação curta, pautando-se no TTPa seriado, é essencial para minimizar o risco de sangramento.  
  • Detecção e Tratamento de Hemorragias: deve-se manter atenção para as hemorragias internas, especialmente no trato gastrointestinal, retroperitoneais ou em sítios de inserção de cânulas. A monitorização rigorosa e o uso de exames de imagem podem ajudar a identificar sangramentos precocemente. Quando detectados, pode ser necessário interromper temporariamente a anticoagulação ou utilizar agentes repositores de volume.
  • Complicações Hemorrágicas Cerebrais: Hemorragias intracranianas representam um desafio significativo e requerem atenção imediata. A reversão da anticoagulação e a intervenção neurocirúrgica podem ser necessárias em casos graves. 

Resultados e Desfechos Clínicos 

Os desfechos clínicos de pacientes tratados com ECMO variam amplamente, dependendo da condição subjacente, do tempo de suporte crítico e das complicações desenvolvidas. Aproximadamente 62% dos pacientes submetidos à ECMO sobrevivem ao tratamento, embora cerca de um quarto desenvolva complicações neurológicas graves. 

Dessa forma, é frequente a necessidade de reabilitação prolongada dos sobreviventes para lidar com déficits neurológicos ou físicos subsequentes.  

As complicações vasculares, como trombose e isquemia, ocorrem entre 10% e 15% dos pacientes; enquanto os eventos hemorrágicos têm frequência de 30%. 

Saiba mais: Revisão: ECMO-VA para TEP de alto risco

Mensagens para levar para casa 

  • A ECMO é uma medida suportiva vital na presença de falência respiratória ou cardíaca refratária às medidas convencionais. Contudo, associa-se a elevado risco de complicações neurológicas, vasculares e hemorrágicas. 
  • O monitoramento neurológico contínuo, especialmente com emprego de EEG, ultrassonografia transcraniana e neuroimagem, é crucial para a detecção precoce de complicações neurológicas e vasculares, aumentando a probabilidade de que intervenções para a contenção de danos sejam tomadas em tempo hábil. 
  • O manejo de anticoagulação é um dos desafios mais críticos nesses pacientes, exigindo ajustes contínuos para minimizar o risco de hemorragia, sem comprometer a eficácia do tratamento suportivo.
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Referências bibliográficas

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