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Terapia Intensiva20 junho 2025

Gasometria no paciente crítico: aplicações práticas da gasometria venosa 

A gasometria é uma ferramenta essencial para avaliar o equilíbrio ácido-base, a ventilação e a oxigenação em pacientes em terapia intensiva.

A análise gasométrica constitui uma ferramenta essencial na avaliação de pacientes críticos, tanto em contextos de emergência quanto em unidades de terapia intensiva, por fornecer informações cruciais sobre oxigenação, ventilação e equilíbrio ácido-base. Tradicionalmente, a gasometria arterial (GSA) é considerada o padrão-ouro, em razão da sua acurácia na mensuração da PaO₂ e da saturação arterial de oxigênio. Contudo, trata-se de um procedimento invasivo, frequentemente doloroso, e associado a riscos como sangramento, hematoma e espasmo arterial. Com a crescente utilização de cateteres venosos centrais (CVCs) nesses pacientes, a gasometria venosa central (GSVc) tem emergido como uma alternativa menos invasiva e mais prática para o monitoramento à beira-leito.  

Evidências Disponíveis  

Diversos estudos demonstram que a gasometria venosa central apresenta boa correlação com a arterial para parâmetros de equilíbrio ácido-base, incluindo pH, pCO₂ e bicarbonato. A diferença média entre os valores de pH arterial e venoso central gira em torno de 0,03 unidades, considerada clinicamente aceitável. O pCO₂ venoso central tende a ser cerca de 5 mmHg superior ao arterial, mantendo uma diferença sistemática previsível. No entanto, parâmetros de oxigenação, como PaO₂ e saturação arterial, não são adequadamente refletidos nas amostras venosas, limitando o uso da GSVc nesse aspecto. 

Parâmetros derivados, como a saturação venosa central de oxigênio (SvcO₂) e o gradiente venoarterial de dióxido de carbono (∆pCO₂ v-a), têm demonstrado utilidade clínica como marcadores indiretos de perfusão tecidual, débito cardíaco e metabolismo celular. A SvcO₂ reflete o balanço entre oferta e consumo de oxigênio (DO₂/VO₂), sendo sensível a estados de hipoperfusão e disfunção mitocondrial. Já um ∆pCO₂ v-a > 6 mmHg sugere hipoperfusão tecidual associada à queda do débito cardíaco, indicando a necessidade de otimização hemodinâmica com fluidos ou inotrópicos, especialmente útil em pacientes com choque.  

Lacunas e Limitações 

Apesar das evidências promissoras, o uso da GSVc como substituto da GSA ainda carece de padronização e validação universal. A interpretação dos parâmetros venosos depende do contexto clínico e da origem da amostra (venosa periférica, central ou mista), sendo que os valores de referência para GSV não são tão amplamente estabelecidos quanto os arteriais. Além disso, fatores como hiperventilação, metabolismo anaeróbico e técnicas de coleta (e.g., uso de garrote em punções periféricas) podem alterar parâmetros como lactato, pH e pCO₂, interferindo na acurácia diagnóstica em situações críticas como o choque circulatório.  

Gasometria no paciente crítico: aplicações práticas da gasometria venosa 

Imagem de Pexels

Aplicação prática: gasometria venosa  

A gasometria venosa central representa uma ferramenta útil e segura para o monitoramento frequente do estado ácido-base e da ventilação, especialmente em pacientes com CVCs, minimizando os riscos e desconfortos associados às punções arteriais repetidas. Quando a avaliação precisa da oxigenação é requerida, a gasometria arterial permanece insubstituível. A incorporação de variáveis como SvcO₂ e ∆pCO₂ v-a no contexto clínico permite uma avaliação integrada da perfusão e metabolismo celular, favorecendo decisões terapêuticas mais direcionadas e individualizadas.

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Referências bibliográficas

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