A prevalência estimada de desnutrição em pacientes após cirurgia abdominal de grande porte varia de 20% a 70% e está associada ao aumento da morbidade, como dificuldade de cicatrização de feridas, infecção hospitalar, complicações pós-operatórias, internação hospitalar prolongada e aumento da mortalidade.
Sabe-se que a resposta catabólica à cirurgia causa depleção de nutrientes essenciais, resultando em risco aumentado de complicações pós-operatórias, particularmente complicações infecciosas. Portanto, o fornecimento adequado de energia é essencial para manter a função do organismo, promover a reparação de feridas e diminuir as complicações infecciosas após a cirurgia.
A Sociedade Europeia de Nutrição Enteral e Parenteral (ESPEN) e a diretriz ERAS (Enhanced Recovery After Surgery) recomendam que nutrição enteral (NE) seja iniciada o mais precocemente possível no pós operatório naqueles pacientes cujo trato gastrointestinal (TGI) esteja íntegro e funcionante. Entretanto, em alguns casos não é possível atingir as metas nutricionais apenas com NE. Nesses casos recomenda-se o uso de nutrição parenteral suplementar (NPS). O efeito e o momento ideal para iniciar NPS em pacientes submetidos a cirurgias abdominais ainda não está claro.
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Métodos
Esse é um estudo multicêntrico, randomizado realizado entre 1 de abril de 2017 e 31 de dezembro de 2018 em departamentos de cirurgia geral de 11 hospitais terciários na China.
O participantes foram submetidos a cirurgias abdominais associadas a alto risco nutricional e baixa tolerância a NE, o que equivale a < 30% das necessidades nutricionais vindas de NE no D2 do pós operatório, calculado como 25 e 30 kcal/Kg de peso ideal/dia, respectivamente para mulheres e homens.
O objetivo do estudo é avaliar o efeito de NPS precoce (no D3 de pós operatório) ou tardia (no D8 após a cirurgia) na incidência de infecções nosocomiais nesse grupo de pacientes com alto risco nutricional e baixa tolerância a NE.
Resultados encontrados
Entre os dias 3 e 7, pacientes do grupo NPS precoce receberam uma média 26,5 kcal/Kg/dia e 1,02 g de proteína/kg/dia; enquanto o grupo NPS tardia recebeu cerca de 15,1kcal/kg/dia e 0,48 g de proteína/Kg/dia. Por outro lado, não houve diferença estatisticamente significante entre calorias e proteínas ingeridas pelos dois grupos, entre os dias 8 e 12 de pós-operatório.
A disfunção gastrointestinal ocorre frequentemente em pacientes após cirurgia abdominal, principalmente devido a lesões intestinais, edema da parede intestinal e dismotilidade, o que pode levar à intolerância gastrointestinal e aumento do risco de desnutrição. Os pacientes que apresentam disfunção gastrointestinal pós-operatória e que não podem ser nutridos adequadamente por meio de NE podem se beneficiar de nutrição adicional via NPS.
O presente estudo fornece evidências de que suporte nutricional de NPS precoce combinado com NE pode reduzir complicações de infecção pós-operatória em pacientes submetidos a grandes cirurgias abdominais que apresentam alto risco nutricional e baixa tolerância à NE.
Conclusão
A NPS precoce foi associada a menos casos de infecções e parece ser uma estratégia favorável em paciente com alto risco nutricional e baixa tolerância a NE que foram submetidos a grandes cirurgias abdominais.
Autoria
Letícia Japiassú
Médica endocrinologista com Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (2008) e especialização pela Associação Brasileira de Nutrologia (2020). Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2006).
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