Nutrição parenteral precoce pós-operatória reduz risco de infecção nosocomial
Estudos mostram benefício da associação de VE e VO na nutrição parenteral no pós-operatório de cirurgias abdominais. Confira os detalhes!
O status nutricional de pacientes submetidos a cirurgias abdominais influencia diretamente no desfecho pós-operatório (PO). Sempre que possível, deve-se optar pela via alimentar mais fisiológica para aporte calórico, sendo a via enteral (VE) escolhida na impossibilidade da via oral (VO). No entanto, a tolerabilidade da VE é muitas vezes limitada após cirurgias abdominais de grande porte, o que restringe o aporte calórico ofertado por essa via. Nesse contexto, principalmente em pacientes com elevado risco nutricional, é necessário instituir meios complementares de aporte calórico, a exemplo da nutrição parenteral (NP).
Estudo
Estudos recentes têm mostrado benefício da associação dessas duas vias em pacientes desnutridos, ao reduzir complicações com potencial de se tornarem graves, como infecção nosocomial. Apesar disso, não há consenso sobre período e forma adequada do uso concomitante dessas terapias.
Para elucidar a questão, foi feito um estudo multicêntrico randomizado que avaliou 230 pacientes (60 anos de idade em média e 61% do sexo masculino) submetidos a cirurgias eletivas gástricas, colorretais, hepáticas e pancreáticas. Todos apresentavam elevado risco nutricional (pontuando 3 ou mais no Nutritional Risk Screening 2002) e não toleravam mais que 30% da cota calórica diária por VE no 2º PO. A suplementação parenteral precoce (SPP) foi administrada em 50% dos pacientes e no restante foi iniciada a suplementação parenteral tardiamente (SPT). Ou seja, o aporte calórico complementar parenteral foi fornecido a partir do 3º e 8º dia após a cirurgia, nesta ordem. Isso refletiu em aporte calórico superior no grupo SPP entre o 3º e 7º dia (26,5 kcal/kg/dia vs 15,1 kcal/kg/dia no grupo SPT).
O desfecho primário avaliado foi incidência de infecção nosocomial entre o 3º PO e alta hospitalar, e foi significativamente menor no grupo SPP (8,7% vs 18,4% no grupo SPT). Mesmo nos pacientes que evoluíram com infecção nosocomial, o período de antibioticoterapia foi menor no grupo SPP (6 dias vs 7 dias no grupo SPT). Complicações não infecciosas e efeitos adversos também foram avaliadas, sem diferença significativa entre os grupos. Na alta hospitalar foi observado valor maior de albumina e pré-albumina no grupo SPP (3,5 e 15,8 vs 3,3 e 13 no grupo SPT).
Assim, a conclusão foi que o perfil de paciente com elevado risco nutricional submetido a cirurgias abdominais eletivas de grande porte e que não tolera VE é beneficiado com a associação precoce, especificamente no 3º PO, de NP com redução de infecção nosocomial e, como efeito, de morbimortalidade e tempo de internação hospitalar.
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O que levar para casa
Para ter bons resultados, é essencial compreender que a cirurgia em si é apenas uma peça da engrenagem, isto é, tratar cirurgicamente uma patologia abdominal. Outra peça fundamental é a otimização nutricional do paciente no perioperatório, a qual vem sendo reforçada hoje por meio de protocolos como Strong for Surgery e Enhanced Recovery after Surgery (ERAS). Aplicar esses conceitos, usando as ferramentas disponíveis caso necessário, a exemplo da SPP, vai melhorar a performance do paciente, fator decisivo no desfecho de cirurgias abdominais.
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