CBMI 2024: Doenças tropicais emergentes na UTI
A mesa sobre doenças tropicais na terapia intensiva aconteceu nesta quinta-feira, durante o Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI 2024). Entre os temas, foram abordadas a dengue grave, a febre amarela e a leptospirose.
Dengue grave
O primeiro palestrante foi Fernando Bozza, da Fiocruz do Rio de Janeiro, que falou sobre a dengue grave. Ele salientou que a dengue tem uma ativação do endotélio vascular, com uma modulação muito importante de citocinas e que alguns marcadores de gravidade do quadro de dengue estão associados tanto com disfunções de órgãos, quanto com o aumento de biomarcadores.
O palestrante mostrou a epidemiologia da dengue nos últimos dez anos, com dados do SINAN (fichas epidemiológicas dos estados). A incidência de casos se manteve estável entre 2014 e 2021, mas houve aumento progressivo a partir de 2022 e uma epidemia com mais de 4 vezes o número habitual de casos em 2024. A mortalidade é pequena, porém ocorre majoritariamente em idosos (acima de 70 anos). Ele associou a mortalidade principalmente ao quadro de choque, e possivelmente à dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
Febre amarela
O segundo palestrante foi Achilles Rohlfs Barbosa, de Minas Gerais. Ele falou sobre a febre amarela, que foi uma epidemia no meio da década passada, e que agora praticamente desapareceu com a vacinação em grande parte da população no Brasil, principalmente na região Sudeste.
Dados epidemiológicos recentes apontam que na Zona da Mata mineira e em alguns lugares mais periféricos do estado de Minas Gerais, existem ainda casos anualmente e que a doença ainda se mantém endêmica. A febre amarela, quando grave, tem uma mortalidade muito alta. O quadro tem uma primeira fase no qual tem uma febre e sintomas gerais, e quando o paciente manifesta hepatite e distúrbio da crase sanguínea, a mortalidade é maior. O paciente deve ser internado na UTI e deve ser feito o tratamento suporte, principalmente por intermédio de uso de hemocomponentes, na tentativa de correção da discrasia sanguínea.
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Leptospirose
O terceiro palestrante foi André Japiassú, também da Fiocruz do Rio de Janeiro. Ele falou sobre leptospirose, comentou de aspectos clínicos da doença. É fundamental que uma história clínica e ocupacional seja coletada do doente grave.
O diagnóstico diferencial da leptospirose é muito amplo e inclui dengue, endocardite, colangite, febre amarela e outras doenças febris agudas como a malária e febre maculosa. O tratamento é feito através de antibioticoterapia, podendo ser tetraciclinas ou beta-alactâmicos ou cefalosporinas. O tratamento antibiótico deve ser feito mesmo que já haja alguns dias de sintomas e deve ser mantido por 5 a 7 dias. O principal fator prognóstico na leptospirose é a manifestação de acometimento pulmonar, com as hemorragias pulmonares que são os grandes responsáveis pela mortalidade desses pacientes na UTI.
A disfunção renal também é um preditor de gravidade e de mau prognóstico, mas ela é contornada pelo uso de hemodiálise. Ele salientou que uma boa parte dos pacientes que internam no hospital ainda conseguem ser manejados em enfermaria, mas 30% dos pacientes tem o seu quadro agravado e necessitam internamento em UTI.
Hoje em dia, a mortalidade é baixa, principalmente se o tratamento da insuficiência renal e de distúrbios eletrolíticos é aplicado precocemente. Há evidências observacionais que a terapia renal substitutiva mais precoce reduz as complicações pulmonares também, talvez pelo tratamento da disfunção plaquetária. Tanto Achilles quanto o André salientaram que o controle dos vetores e principalmente as condições sanitárias são importantes na prevenção destas doenças.
Aedes aegypti
Fernando Bozza também comentou no debate final que o controle do vetor da dengue (o mosquito Aedes) muitas vezes é frustrante e ineficaz, e que a perspectiva maior de prevenção deve ser a vacina contra dengue, provavelmente com mais disseminada ao longo dos próximos anos, a partir de campanhas de conscientização da população geral (principalmente para a população jovem, que tem maior predisposição de pegar a doença e manifestar quadros mais graves).
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