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Terapia Intensiva15 novembro 2024

CBMI 2024: Doenças tropicais emergentes na UTI

A mesa sobre doenças tropicais na terapia intensiva abordou temas como a dengue grave, a febre amarela e a leptospirose.

A mesa sobre doenças tropicais na terapia intensiva aconteceu nesta quinta-feira, durante o Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI 2024). Entre os temas, foram abordadas a dengue grave, a febre amarela e a leptospirose.

Dengue grave

O primeiro palestrante foi Fernando Bozza, da Fiocruz do Rio de Janeiro, que falou sobre a dengue grave. Ele salientou que a dengue tem uma ativação do endotélio vascular, com uma modulação muito importante de citocinas e que alguns marcadores de gravidade do quadro de dengue estão associados tanto com disfunções de órgãos, quanto com o aumento de biomarcadores.

O palestrante mostrou a epidemiologia da dengue nos últimos dez anos, com dados do SINAN (fichas epidemiológicas dos estados). A incidência de casos se manteve estável entre 2014 e 2021, mas houve aumento progressivo a partir de 2022 e uma epidemia com mais de 4 vezes o número habitual de casos em 2024. A mortalidade é pequena, porém ocorre majoritariamente em idosos (acima de 70 anos). Ele associou a mortalidade principalmente ao quadro de choque, e possivelmente à dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

Febre amarela

O segundo palestrante foi Achilles Rohlfs Barbosa, de Minas Gerais. Ele falou sobre a febre amarela, que foi uma epidemia no meio da década passada, e que agora praticamente desapareceu com a vacinação em grande parte da população no Brasil, principalmente na região Sudeste.

Dados epidemiológicos recentes apontam que na Zona da Mata mineira e em alguns lugares mais periféricos do estado de Minas Gerais, existem ainda casos anualmente e que a doença ainda se mantém endêmica. A febre amarela, quando grave, tem uma mortalidade muito alta. O quadro tem uma primeira fase no qual tem uma febre e sintomas gerais, e quando o paciente manifesta hepatite e distúrbio da crase sanguínea, a mortalidade é maior. O paciente deve ser internado na UTI e deve ser feito o tratamento suporte, principalmente por intermédio de uso de hemocomponentes, na tentativa de correção da discrasia sanguínea.

Mais do CBMI 2024: Assistência circulatória no choque cardiogênico

Leptospirose

O terceiro palestrante foi André Japiassú, também da Fiocruz do Rio de Janeiro. Ele falou sobre leptospirose, comentou de aspectos clínicos da doença. É fundamental que uma história clínica e ocupacional seja coletada do doente grave.

O diagnóstico diferencial da leptospirose é muito amplo e inclui dengue, endocardite, colangite, febre amarela e outras doenças febris agudas como a malária e febre maculosa. O tratamento é feito através de antibioticoterapia, podendo ser tetraciclinas ou beta-alactâmicos ou cefalosporinas. O tratamento antibiótico deve ser feito mesmo que já haja alguns dias de sintomas e deve ser mantido por 5 a 7 dias. O principal fator prognóstico na leptospirose é a manifestação de acometimento pulmonar, com as hemorragias pulmonares que são os grandes responsáveis pela mortalidade desses pacientes na UTI.

A disfunção renal também é um preditor de gravidade e de mau prognóstico, mas ela é contornada pelo uso de hemodiálise. Ele salientou que uma boa parte dos pacientes que internam no hospital ainda conseguem ser manejados em enfermaria, mas 30% dos pacientes tem o seu quadro agravado e necessitam internamento em UTI.

Hoje em dia, a mortalidade é baixa, principalmente se o tratamento da insuficiência renal e de distúrbios eletrolíticos é aplicado precocemente. Há evidências observacionais que a terapia renal substitutiva mais precoce reduz as complicações pulmonares também, talvez pelo tratamento da disfunção plaquetária. Tanto Achilles quanto o André salientaram que o controle dos vetores e principalmente as condições sanitárias são importantes na prevenção destas doenças.

Aedes aegypti

Fernando Bozza também comentou no debate final que o controle do vetor da dengue (o mosquito Aedes) muitas vezes é frustrante e ineficaz, e que a perspectiva maior de prevenção deve ser a vacina contra dengue, provavelmente com mais disseminada ao longo dos próximos anos, a partir de campanhas de conscientização da população geral (principalmente para a população jovem, que tem maior predisposição de pegar a doença e manifestar quadros mais graves).

Acompanhe a cobertura completa do CBMI 2024 aqui!

Autoria

Foto de André Japiassú

André Japiassú

Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.

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